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Vaccari arrecadou propina antes de ser tesoureiro, diz Duque

Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, Duque disse que Vaccari começou a arrecadar propinas ainda em 2007

Vaccari: "Ele não era tesoureiro mas começou a atuar na arrecadação", afirmou (Roosewelt Pinheiro/Agência Brasil)

Vaccari: "Ele não era tesoureiro mas começou a atuar na arrecadação", afirmou (Roosewelt Pinheiro/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 5 de maio de 2017 às 20h57.

São Paulo - O ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque afirmou nesta sexta-feira, 5, em juízo, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou que João Vaccari atuasse cobrando propinas às empresas que prestavam serviços à estatal antes mesmo de ele se tornar tesoureiro do PT.

Segundo ele, o presidente Lula era chamado por "chefe", "grande chefe".

Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, Duque disse que Vaccari começou a arrecadar propinas ainda em 2007.

"Ele não era tesoureiro mas começou a atuar na arrecadação", afirmou. Moro então quis saber o motivo. "Porque o então presidente Lula determinou isso", respondeu.

Duque, que foi diretor de Serviços da Petrobras entre 2003 e 2012, disse que conheceu Vaccari naquele ano de 2007, por meio do então ministro das Comunicações, Paulo Bernardo.

Naquele ano, segundo ele, foi chamado a Brasília e, na ocasião, Bernardo teria dito: "Você vai conhecer uma pessoa indicada pelo... e aí fazia este movimento (neste momento Duque passa os dedos pelo queixo, como se cofiasse uma barba). Não citava o nome", disse. "O presidente Lula era chamado por "chefe", "grande chefe ou este movimento com a mão".

O ex-diretor da Petrobras prossegue relatando o que Bernardo teria dito a ele: "Você vai receber uma pessoa que está sendo indicada e ele vai conversar com você. E ele vai ser agora quem vai atuar junto às empresas que trabalham com a Petrobras. Foi quando eu conheci o Vaccari em 2007", disse.

Vaccari e Duque são réus da Lava Jato. O ex-tesoureiro foi preso em abril de 2015. O ex-diretor da estatal em fevereiro de 2015. Ambos já estão condenados por corrupção e lavagem de dinheiro.

Duque afirmou ainda que a diretoria de Serviços da Petrobras era loteada ao PT, assim como a diretoria de Abastecimento era usada para arrecadação do PP.

Ele descreveu o esquema da seguinte forma: quando uma empresa vencia uma licitação para um contrato acima de R$ 100 milhões era procurada pelo tesoureiro do PT para pagar propina de cerca de 1% sobre o valor dos contratos.

Questionado por Moro se ele era uma obrigação, Duque disse que não, mas era uma situação que já estava institucionalizada, quando existia um contrato, seja ele qual fosse, que corria numa licitação normal, o tesoureiro do partido procurava a empresa pedindo contribuição.

"E a empresa normalmente dava porque era uma coisa institucionalizada na companhia", disse.

Por se tratar de algo institucionalizado, segundo Duque, ele disse que não chegou a conversar abertamente com dirigentes do PT sobre o pagamento de propinas, mas afirmou que "todos" no partido sabiam do esquema.

"Todos sabiam. Todos do partido, desde o presidente do partido, tesoureiro, secretário, deputados e senadores. Todos sabiam que isso ocorria", disse.

Outro lado

A advogada do ex-ministro Paulo Bernardo, Verônica Sterman, afirmou que o depoimento de Renato Duque é "mentiroso". Paulo Bernardo nunca esteve com Renato Duque para tratar de qualquer assunto relacionado à Petrobras.

Segundo o Instituto Lula, "o depoimento do ex-diretor da Petrobras Renato Duque é mais uma tentativa de fabricar acusações ao ex-presidente Lula nas negociações entre os procuradores da Lava Jato e réus condenados, em troca de redução de pena.

Como não conseguiram produzir nenhuma prova das denúncias levianas contra o ex-presidente, depois de dois anos de investigações, quebra de sigilos e violação de telefonemas, restou aos acusadores de Lula apelar para a fabricação de depoimentos mentirosos".

"O desespero dos procuradores aumentou com a aproximação da audiência em que Lula vai, finalmente, apresentar ao juízo a verdade dos fatos. A audiência de Lula foi adiada em uma semana sob o falso pretexto de garantir a segurança pública. Na verdade, como vinha alertando a defesa de Lula, o adiamento serviu unicamente para encaixar nos autos depoimentos fabricados de ex-diretores da OAS (Leo Pinheiro e Agenor Medeiros) e, agora, o de Renato Duque."

Ainda conforme o Instituto Lula, "os três depoentes, que nunca haviam mencionado o ex-presidente Lula ao longo do processo, são pessoas condenadas a penas de mais de 20 anos de prisão, encontrando-se objetivamente coagidas a negociar benefícios penais. Estranhamente, veículos da imprensa e da blogosfera vinham antecipando o suposto teor dos depoimentos, sempre com o sentido de comprometer Lula".

"O que assistimos nos últimos dias foi mais uma etapa dessa desesperada gincana, nos tribunais e na mídia, em busca de uma prova contra Lula, prova que não existe na realidade e muito menos nos autos."

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