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Usinas a biomassa mantêm forte geração mesmo com safra menor

Estimativa de uma safra de cana quase 9% menor não deverá ser suficiente para afetar a geração de energia das térmicas

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 18 de setembro de 2014 às 18h13.

São Paulo - A estimativa de uma safra de cana-de-açúcar quase 9 por cento menor neste ano não deverá ser suficiente para afetar a geração de energia das térmicas a biomassa, que aumentaram fortemente a geração de eletricidade no primeiro semestre na comparação com mesmo período de 2013.

As usinas de cana-de-açúcar podem utilizar outras biomassas que não a de cana, como já vem acontecendo, para gerar eletricidade e continuar ganhando com a venda de energia em momento de alto preço no mercado de curto prazo.

Enquanto hidrelétricas enfrentaram altos custos para cobrir o déficit da geração causado pelo baixo nível dos reservatórios, termelétricas descontratadas ou que produzem excedente de energia, como as usinas a biomassa, obtiveram fortes ganhos no ano até agora.

De janeiro a julho, as usinas a biomassa geraram 28 por cento a mais de energia elétrica em relação ao mesmo período do ano passado.

Cerca de 80 por cento dessas usinas utilizam bagaço de cana, segundo o gerente de bioeletricidade da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Zilmar de Souza.

A cogeração das usinas a biomassa começou mais cedo neste ano, com a utilização de sobras de cana da safra anterior.

Como o valor da energia de curto prazo, conhecido como PLD (preço de liquidação de diferenças), já estava alto, as usinas de cana-de-açúcar usaram inclusive outras biomassas, como cavaco de madeira e casca de amendoim, para gerar mais energia e obter ganhos com a venda.

"A venda de energia responde por 10 a 12 por cento da receita de uma usina (de cana de açúcar) que exporta (energia). Ajuda a competitividade do setor como um todo", disse Zilmar de Souza.

O presidente da Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen), Newton Duarte, disse que a cogeração pode chegar a responder hoje por até 30 por cento do lucro das usinas de açúcar e álcool.

"Algumas delas, inclusive, até lamentam não terem feito investimento (em cogeração) no passado", acrescentou.

Para o restante do ano, o ritmo forte da geração depende principalmente da manutenção de um preço alto de energia de curto prazo que motive a geração de excedentes, até mesmo utilizando outras biomassas, já que a safra de cana tende a ser prejudicada pela estiagem no país.

A estimativa da Unica é que sejam processadas 545,9 milhões de toneladas de cana na safra 2014/15, ante 597 milhões de toneladas na safra 2013/14.

"Pode ser que tenhamos, daqui para frente, não o mesmo perfil de geração do primeiro semestre. No entanto, como as usinas de cana também têm capacidade de trabalhar com outras biomassas, há alternativas para diminuir essa dependência", disse Souza.

Duarte, da Cogen, acrescentou que existem usinas bem administradas, que estão conseguindo reduzir os impactos negativos da seca sobre a safra, que têm bagaço estocado e que continuarão mantendo um ritmo intenso de geração de eletricidade até o ano que vem.

"Tem usinas que estão absurdamente estocadas de bagaço. Existem usinas que vão parar a safra em novembro, gerar até fevereiro, parar em março (para manutenção), e depois têm matéria-prima e biomassa para continuar gerando", disse.

Atualmente, algumas usinas a biomassa conseguem gerar energia até 11 meses por ano, segundo representantes do setor.

Um executivo de uma empresa do setor elétrico que trabalha com a venda de energia de térmicas a biomassa em seu portfólio minimizou a influência de uma safra menor de cana-de-açúcar no desempenho da geração elétrica das usinas.

Segundo ele, que pediu para não ser identificado, apesar da estimativa ser de que a safra de cana neste ano termine em outubro, um mês antes do normal, o menor volume de bagaço não é generalizado e não deverá reduzir fortemente a contribuição das térmicas a biomassa à matriz elétrica nacional.

O país tem 487 usinas a biomassa em funcionamento, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), com capacidade instalada total de 12 gigawatts, respondendo por cerca 9 por cento da matriz elétrica brasileira.

Pelo menos no que depender do preço de energia de curto prazo, os usineiros deverão ter um incentivo para continuar gerando excedentes de eletricidade para venda.

O preço de curto prazo está acima dos 700 reais por megawatt-hora (MWh) e deve continuar num patamar elevado enquanto houver falta de chuva e as represas das hidrelétricas não se recuperarem.

A geração termelétrica a biomassa ajudou a evitar a queda adicional de 11 pontos percentuais dos níveis das represas das hidrelétricas no Sudeste/Centro-Oeste, segundo Duarte, da Cogen.

Isso porque quando as térmicas estão acionadas possibilitam redução da geração hidrelétrica para poupar os reservatórios.

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