Entrada da Unicamp: os estudantes afirmam que só deixarão o prédio quando a reitoria cancelar a permissão para policiamento no local (Creative Commons)
Da Redação
Publicado em 4 de outubro de 2013 às 14h17.
Campinas - Cerca de 400 estudantes permanecem acampados dentro da reitoria da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) na manhã desta sexta-feira, 04.
Eles protestam contra a permissão da entrada da Polícia Militar nos campi de Campinas, Limeira e Piracicaba, concedida após a morte de um aluno durante uma festa clandestina na universidade. A Unicamp informou que entrou com um pedido de reintegração de posse na Justiça.
O prédio da reitoria foi invadido na noite de quinta-feira, 03, após uma assembleia promovida pelo Diretório Central Estudantil (DCE) para discutir o assunto. Vidros foram quebrados, paredes e computadores pichados e armários tombados. Durante a madrugada, alunos encapuzados subiram no telhado do prédio.
Os funcionários da Unicamp que chegaram para trabalhar na manhã desta sexta-feira, 04, foram dispensados porque os estudantes impedem a entrada de pessoas no local. Um funcionário que trabalha no prédio foi liberado para buscar um remédio em sua mesa e relatou que o local está destruído.
"Tudo foi revirado. É triste", afirmou o auxiliar administrativo João Marques. Um dos diretores do Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp (STU), Antônio Alves Neto, no entanto, minimizou os estragos. "Algo normal para uma ocupação", disse ele. O sindicato também é contra a entrada da PM no câmpus.
O policiamento foi aceito pela reitoria da Unicamp no dia 26 de setembro, após o assassinato do estudante Dênis Papa Casagrande, de 21 anos, aluno do segundo ano de Mecatrônica. Um dia antes, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), colocou a PM à disposição para fazer a segurança interna.
O estudante levou uma facada no peito e depois foi espancado por um grupo de aproximadamente 15 punks, durante uma festa clandestina que acontecia dentro do câmpus, na madrugada do dia 21.
Reivindicações
Com cartazes e pichações "Fora PM" e "contra a militarização do campus", os estudantes afirmam que só deixarão o prédio quando a reitoria cancelar a permissão para policiamento no local.
"A reitoria está usando o crime para fazer algo que quer há muito tempo, que é militarizar o espaço", criticou Diana Nascimento, de 23 anos, uma das coordenadoras do DCE. Em nota, o grupo que se intitula "Ocupação Unicamp 2013" afirma que "desde agosto, a reitoria vem negociando com o governo Geraldo Alckmin para intensificar a repressão à comunidade acadêmica se utilizando da força policial".
"Não nos faltam exemplos de truculência e autoritarismo por parte da Polícia Militar em todo País", afirma a nota, ao citar a repressão contra a greve de professores no Rio de Janeiro e também o caso do pedreiro Amarildo, que desapareceu em julho na Favela da Rocinha.
Pela internet, o grupo de estudantes pede a doação de colchões e mantimentos para permanecer no prédio, por tempo indeterminado, e convocou mais estudantes para tomarem o local.
Reintegração
A Unicamp informou que entrou com um pedido de reintegração de posse na Justiça. A PM acompanha a ocupação à distância. O delegado da Polícia Civil, Osvaldo Diez, esteve na reitoria para verificar o dano ao patrimônio e foi registrado um boletim de ocorrência.
A Unicamp divulgou nota em que considera "lamentável" a ocupação e a depredação do prédio da reitoria. "Esta invasão, sem prévia apresentação de uma pauta de demandas por parte dos invasores, é injustificável sob qualquer ponto de vista", informou a reitoria.
Na nota, a universidade defendeu que a presença da PM no câmpus "diz respeito a um problema de segurança pública e não a uma tentativa de intimidação ou cerceamento das atividades relacionadas ao contexto acadêmico".