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Um terço das prisões preventivas vira delação em Curitiba

De um lado, os ministros do STF Marco Aurélio Mello e Gilmar Mendes criticam as "alongadas prisões". De outro, o juiz Sérgio Moro defende o modelo

 (Nelson Almeida/Getty Images)

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EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 17 de junho de 2017 às 10h16.

Última atualização em 17 de junho de 2017 às 10h17.

São Paulo - Cruzamento de dados do Ministério Público Federal (MPF) e da Justiça Federal no Paraná, feito pelo jornal O Estado de S. Paulo, mostra que, dos 93 alvos de mandados de prisão preventiva, em Curitiba, 31 tornaram-se colaboradores, o equivalente a um terço do total. Não há dados de outros Estados consolidados na Lava Jato.

Segundo o levantamento, entre os presos preventivos, 16 assinaram acordo enquanto presos. É o caso do lobista Milton Pascowitch, que saiu do regime fechado e foi para o domiciliar duas semanas após acertar sua delação, considerada crucial na prisão do ex-ministro José Dirceu (PT). A outra parte - 15 presos - ganhou liberdade antes de fechar o acordo.

O advogado dos ex-marqueteiros do PT João Santana e Mônica Moura, Juliano Prestes, confirmou que a negociação do casal começou na prisão, porém só foi fechada após sua soltura. Condenados em fevereiro deste ano, os responsáveis por campanhas eleitorais do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente cassada Dilma Rousseff assinaram a colaboração premiada sete meses após ter a preventiva revogada.

No Código Penal, não há determinação do período de preventivas, o que colabora para embates jurídicos.

De um lado, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello e Gilmar Mendes criticam as "alongadas prisões". De outro, o juiz Sérgio Moro defende o modelo como "essencial".

Para a Procuradoria da República no Paraná, o uso dessas medidas é excepcional. "A prisão preventiva só ocorre em casos em que a restrição de liberdade é indispensável para proteger a sociedade", afirmou, por meio de nota. Segundo a Justiça do Paraná, Moro já se manifestou sobre o tema em sentenças.

Análise

Para o professor de Direito Penal da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Antônio Carlos da Ponte, a prisão preventiva não é fator determinante para alguém fazer acordo. "Quem delata tem uma preocupação muito maior com a sentença penal condenatória", disse.

A vontade de minimizar o constrangimento com a própria imagem também influencia. "Os delatores são pessoas que desfrutam de poder político e econômico, muitas com mandatos, e isso acaba trazendo uma pressão tanto para abrandar a condenação quanto para ter a imagem o menos atingida possível", afirmou Ponte.

Para Pedro Serrano, docente de Direito Penal na mesma universidade, a proporção de um terço de colaboradores do total de presos preventivos é alta. O mais preocupante, porém, é o número de presos em medida cautelar. "É um comportamento do sistema penal brasileiro", disse, lembrando que o País tem a quarta maior população carcerária do mundo.

Outro problema é a "corrida" pela colaboração. O Estado antecipou que a força-tarefa de Curitiba avalia que os ex-ministros da gestões petistas Guido Mantega e Antonio Palocci tornaram-se possíveis "delatores concorrentes". Os dois podem apresentar fatos semelhantes e só haveria acordo com um deles.

O professor de Direito Penal da Universidade de São Paulo (USP) Sergio Salomão Shecaira comparou a situação a um mercado de peixe. "Quem gritar mais vai vender, independentemente da qualidade", apontou.

No caso dos ex-ministros, segundo Shecaira, a delação tornou-se a única saída. "Palocci e Mantega se deram conta, tardiamente, que serão condenados. O processo lá (em Curitiba) está sendo conduzido para condenar todo mundo", afirmou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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