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Um quarto das línguas indígenas do Brasil pode ser extinta

O mais grave é que é impossível determinar quantas línguas já se extinguiram desde a chegada dos colonizadores portugueses ao Brasil


	Índios Yanomami: segundo Censo de 2010, apenas 37,4% dos 896.917 brasileiros que se declararam como índios falam a língua de sua etnia 
 (Wikimedia Commons)

Índios Yanomami: segundo Censo de 2010, apenas 37,4% dos 896.917 brasileiros que se declararam como índios falam a língua de sua etnia  (Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 29 de abril de 2013 às 10h44.

Rio de Janeiro - Um quarto das 154 línguas indígenas ainda vivas no Brasil está ameaçado de extinção, já que contam com menos de cem falantes, alerta um relatório realizado pelo Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG).

O mais grave é que é impossível determinar quantas línguas já se extinguiram desde a chegada dos colonizadores portugueses ao Brasil em 1.500, segundo o estudo do órgão estatal, ligado ao Ministério de Ciência e Tecnologia.

"O Brasil é um dos países com maior diversidade linguística da América, já que conta com 154 línguas ainda faladas, mas o número era muito maior e não sabemos quantas desapareceram sem que restassem registros", disse à Agência Efe a linguista Ana Vilacy Galucio, pesquisadora do MPEG e que coordenou o estudo.

"E muitas das línguas ainda vivas estão ameaçadas de desaparecer, já que têm muito poucos falantes, em sua maioria idosos, e as novas gerações não estão interessadas em aprendê-las. A tendência em médio prazo é que essas línguas desapareçam", acrescentou a antropóloga.

Segundo dados do Censo de 2010 divulgados este mês pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 37,4% dos 896.917 brasileiros que se declararam como índios falam a língua de sua etnia e somente 17,5% desconhecem o português.

O censo também revelou que 42,3% dos índios brasileiros já não vivem em suas reservas e que 36% se estabeleceram em cidades. Dos que não estão nas reservas, apenas 12,7% falam sua língua.

Ana esclareceu que o inventário do Museu Goeldi considera como ameaçadas as línguas que têm menos de cem falantes, mas que o número seria muito superior se fossem adotados os critérios internacionais, que definem como em perigo às que têm menos de mil praticantes.


De acordo com o relatório do Museu Goeldi, mais da metade das línguas indígenas do Brasil tem menos de mil falantes.

"A situação é crítica para a maioria. Algumas têm menos de dez pessoas que ainda falam sua língua", segundo a especialista.

O censo de 2010 contabilizou 305 etnias indígenas no Brasil que falavam 274 línguas.

O governo reconhece que esses números superam os calculados pela Fundação Nacional do Índio (Funai), o que atribui a subdivisões que os próprios indígenas desconhecem.

O relatório do Museu Goeldi é ainda mais rigoroso e limita a 154 o número de línguas, em comparação às 180 com que a Funai trabalha.

O estudo cita como exemplo o caso dos gaviões, uma etnia no estado de Rondônia a qual eram atribuídas cinco línguas, mas que, após as análises linguísticas, se descobriu que pratica cinco dialetos derivados da mesma língua.

O relatório inclui até a língua dos xipaias, uma etnia assentada no estado do Pará e da qual só restam dois idosos que falam a língua nativa.

A linguista do Museu Goeldi alerta que a principal ameaça das línguas não é o reduzido número de pessoas que a falam, mas a falta de uso, já que os idosos que a conhecem, sem ter com quem praticá-la, começam a esquecer o vocabulário e a gramática.


O caso dos Xipaia é novamente exemplar já que a população é numerosa, mas as novas gerações foram alfabetizadas em português e os dois idosos que falam a língua não vivem perto.

Segundo o Museu Goeldi, com a morte das línguas também se perdem conhecimentos culturais, econômicos e até medicinais, que já não podem ser transmitidos pelos idosos por não terem como se comunicar com os mais jovens.

"Por isso é importante documentar e ter registros em áudio e vídeo dessas línguas", diz Ana, que coordenou um projeto para registrar em gravações línguas ameaçadas e criar escolas bilíngues nas aldeias.

A antropóloga citou o caso dos puruborás, uma etnia também em Rondônia com 800 integrantes, dos quais apenas quatro falam sua língua, que foram beneficiados com um projeto de preservação da língua.

Além de registrar em gravações as conversas dos quatro anciãos, os antropólogos elaboraram um vocabulário básico e montaram uma escola da língua em uma aldeia dos puruborás. 

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