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Ufal estima que vazamento pode ter sido provocado por navio fantasma

Análise de universidade alagoana vai na contramão de tese do governo brasileiro

Petróleo no nordeste: Ufal rebate tese do governo sobre vazamento de óleo (Adriano Machado/Reuters)

Petróleo no nordeste: Ufal rebate tese do governo sobre vazamento de óleo (Adriano Machado/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 9 de novembro de 2019 às 16h29.

Última atualização em 9 de novembro de 2019 às 16h30.

Uma nova análise da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) indica que o recente vazamento de óleo bruto na costa do Nordeste teria sido causado por um navio fantasma - e não por um petroleiro grego, como aponta o governo brasileiro. Neste sábado 9, o óleo chegou a mais duas praias do Espírito Santo, mostrando que se espalha agora pelo Sudeste.

A embarcação teria passado pela costa brasileira com o sistema de rastreamento por satélite, o transponder, desligado para não ser detectada pelas autoridades. Os dados de navegação usados na pesquisa são provenientes da plataforma Marine Traffic, provedora mundial de trajetórias de navios.

A partir desses dados, o Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélite (Lapis) rastreou e analisou os trajetos dos cinco petroleiros de bandeira grega que navegaram pela costa brasileira no período próximo à chegada de óleo nas praias do Nordeste e que foram notificados pela Marinha do Brasil.

Autoridades brasileiras acreditam que uma das cinco embarcações (Maran Apollo, Maran Libra, Bouboulina, Minerva Alexandra e Cap. Pembroke) seria responsável pelo vazamento e apontou o Bouboulina como principal suspeito. A empresa Delta Tankers, responsável pela embarcação, negou a responsabilidade.

Na semana passada, o Lapis já havia contestado a versão da Marinha, que associava a origem das manchas de óleo ao trajeto do Bouboulina. O laboratório encontrou uma significativa imagem de óleo do satélite Sentinel-1ª, em 24 de julho, dois dias antes da passagem do navio grego pelo local. Agora, o laboratório ampliou a análise para as outras quatro embarcações de bandeira grega e chegou a conclusão semelhante.

"A partir da análise dos cinco navios gregos investigados pelas autoridades brasileiras, identificamos que há grande probabilidade de as rotas deles não terem relação com o derramamento de óleo no litoral do nordeste", explicou o pesquisador Humberto Barbosa, coordenador do Lapis. "Algumas peças foram fundamentais para montar esse quebra-cabeças: as imagens de satélite, as informações de inteligência em navegação a data do surgimento das manchas de óleo na região, a direção das correntes oceânicas e a procedência do petróleo."

De acordo com o Lapis, a imagem de satélite mais conclusiva da presença de óleo no litoral do Nordeste foi registrada no dia 24 de julho, na altura do Rio Grande do Norte. Ela identifica uma mancha de 86 quilômetros de extensão e um quilômetro de largura, a aproximadamente 40 quilômetros do município de São Miguel do Gostoso. A mancha varia de 40 a 1.200 metros de profundidade, dependendo do trecho. A mesma imagem registra também a presença de um navio, que não seria nenhum dos cinco petroleiros gregos.

"Na interpretação do sinal de óleo na imagem de satélite já foram descartados possíveis ruídos de fitoplâncton, topografia de fundo do oceano, correntes marítimas, nuvens ou brisas", explicou Barbosa. "A única interferência possível seria o rastro deixado pelo navio na água ter sido registrado pelo satélite. Porém, pela geometria, intensidade, espessura e tamanho da mancha, consideramos baixa essa possibilidade."

Fragmentos de óleo foram encontrados neste sábado em mais duas praias do Espírito Santo: Urussuquara e Barra Nova. Na quinta-feira (7), o óleo já chegara em Guriri (ES). Autoridades locais fecharam a foz de riachos que deságuam no mar para evitar que a poluição chegue aos rios e comprometa o abastecimento de água.

O Espírito Santo é o décimo Estado brasileiro a ser atingido pelo óleo, depois de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. De acordo com levantamento feito pelo Ibama, cerca de 4.300 toneladas de óleo já foram retiradas das praias nordestinas.

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