Brasil

Trem bala é primeiro item na lista do que não fazer

Debate sobre infraestrutura no Exame Fórum destaca riscos de elefantes brancos e enfatiza importância do envolvimento do setor privado

Paulo Resende, Carlos Nuzman, do COB, jornalista George Vidor e Otávio Azevedo (.)

Paulo Resende, Carlos Nuzman, do COB, jornalista George Vidor e Otávio Azevedo (.)

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Da Redação

Publicado em 5 de outubro de 2010 às 18h10.

Rio de Janeiro - Muito se fala no que cidades como o Rio de Janeiro devem fazer caso queiram se preparar adequadamente para eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Mas, segundo Paulo Resende, diretor de desenvolvimento da Fundação Dom Cabral, há uma lista do que não se deve fazer. Nela, o primeiro item é o trem bala entre Rio e São Paulo.

"O trem de alta velocidade é um projeto que não deve ser feito. Há uma previsão de gastos de 33 bilhões de reais. Tentamos imaginar uma lista de obras necessárias e urgentes para se fazer com essa quantia. A lista acabou, e ainda estávamos em 23 bilhões", disse Resende. Ele participou, nesta terça-feira (5/10), de uma mesa de discussão no Exame Fórum, realizado no Rio de Janeiro.

Segundo Resende, caso opte pela construção do trem bala, o país jogará fora uma tradição aeroportuária "com a qual não se deve brincar". Em lugar de tocar esta obra, o diretor da Fundação Dom Cabral defende que se invista, por exemplo, na ponte aérea. "Temos uma boa estrutura para transformar este trecho no maior legado dos transportes do país".

Ainda falando em legado, não apenas nos transportes, Resende deixou claro que o país deve pensar além da questão das obras. "O que fica não são apenas as obras de engenharia. O principal legado é a imagem. Toda a engenharia tem que estar em perfeito equilíbrio com a gestão dos processos", afirmou.


Iniciativa privada

Um dos caminhos apontados para que a herança dos eventos seja positiva é a criação de um ambiente favorável para que a iniciativa privada possa participar. Segundo o presidente da construtora Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo, que também participou da discussão, há uma inquietação que afasta o setor privado dos investimentos em infraestrutura.

"A presença ou não da iniciativa privada não é uma questão ideológica, e sim, mais pragmática: como dar às empresas as garantias de um investimento em parceria público-privada (PPP)? Tem muito dinheiro para ser investido no Brasil, mas os problemas são a garantia e a demanda. Garantia de que a contribuição do Estado virá hoje e daqui a 30 anos", afirmou Azevedo.

O executivo citou como exemplo os investimentos em transportes. Neste caso, fica claro que há uma demanda e também é evidente o uso que será feito do projeto, havendo eventos esportivos, ou não. Por outro lado, empreendimentos como os estádios, cruciais para a realização da Copa do Mundo, não dão à iniciativa privada uma segurança financeira adequada.

"No caso das arenas, ficou clara a dificuldade da iniciativa privada obter garantias. No Brasil não existe uma cultura de uso permanente destes espaços. Há dois anos, vivemos a ilusão de que isto seria possível, mas não é assim que as coisas têm andado", disse.

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