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Transporte público no Brasil é verdadeira odisseia urbana

Rugani gasta 30% de seu salário somente para ir trabalhar, mora no bairro Freguesia da Ó, que apesar de ser um dos mais antigos da cidade não tem linha de metrô

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 20 de junho de 2013 às 18h11.

São Paulo - Qualquer visitante que entra em um ônibus da maioria das cidades do Brasil entenderá o drama vivido por milhares de pessoas que saíram às ruas do país nos últimos dias, inicialmente para rejeitar o aumento das tarifas de um serviço que é insuficiente, ruim e inseguro.

As autoridades de São Paulo, onde os protestos começaram, do Rio de Janeiro e de várias outras cidades voltaram atrás ontem em relação aos aumentos, que foram a gota d"água para milhões de cidadãos que utilizam o transporte coletivo.

Isso pode ser constatado, por exemplo, por Rubens Rugani, de 24 anos, que demora pelo menos uma hora para percorrer somente 11 quilômetros até seu trabalho no centro de São Paulo, isso com trânsito normal, ou seja, sem acidentes ou sem a chuva que no verão praticamente causa todo tipo de atraso.

Rugani, que gasta 30% de seu salário somente para ir trabalhar, mora no bairro Freguesia da Ó, que apesar de ser um dos mais antigos da cidade não tem linha de metrô.

O próprio prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, reconheceu que a velocidade média dos ônibus da cidade caiu pela metade nos últimos anos por causa da falta de investimento por parte de seus antecessores em corredores exclusivos.

A cidade tem um dos trânsitos mais caóticos do mundo, que faz com que seja comum que as pessoas demorem duas horas para chegar a suas casas de ônibus, apesar de ao mesmo tempo o valor do transporte estar entre os mais altos do continente.

As passagens custam R$ 3, enquanto o salário mínimo é de R$ 678.

A rede de metrô, com pouco mais de 74 quilômetros, é considerada insuficiente para atender a demanda de uma população de mais de 11 milhões, mais os municípios adjacentes.


Na Cidade do México, cidade latino-americana que seria comparável, o metrô tem 226 quilômetros, enquanto o de Santiago do Chile, uma cidade muito menor, tem 103 quilômetros.

Esse caótico sistema tem um custo. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os prejuízos somam R$ 26,8 bilhões por ano, em termos de acidentes, problemas de saúde devido à poluição e as horas perdidas vendo o tempo passar dentro de um veículo.

Welton Gomes, de 22 anos, optou pela bicicleta para poupar o dinheiro do ônibus. Pedala quase 32 quilômetros por dia desde a Avenida Paulista até sua casa, em São Miguel Paulista, na periferia da capital.

A cidade tem apenas 64 quilômetros de ciclovias fixas e os ciclistas arriscam literalmente a vida nas ruas.

Segundo os últimos dados disponíveis da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, 286 pessoas morreram em 2011 andando de bicicleta.

Como se fosse pouco, o transporte público não garante a segurança de quem o usa.

Em abril, uma briga entre um passageiro e o motorista de um ônibus no Rio de Janeiro provocou a queda do veículo de um viaduto sobre a Avenida Brasil, deixando sete mortos e nove feridos.

No mesmo mês uma turista americana foi estuprada em uma van que tinha pegado junto com seu namorado no bairro de Copacabana, e em maio outra jovem foi violentada por um adolescente em um ônibus, em plena luz do dia e em frente a outros passageiros.

Em 2011, cinco pessoas morreram e outras 57 ficaram feridas quando viajavam no bondinho de Santa Teresa.

Apesar de ser considerado um passeio turístico, o bondinho era usado pelos moradores do bairro, e que desde então estão sem seu principal veículo de transporte. 

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