Manaus: equipe de saúde, responsável pela vacinação contra o sarampo, foi impedida por traficantes de continuar as atividades (Rovena Rosa/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 19 de julho de 2018 às 10h27.
Última atualização em 19 de julho de 2018 às 10h28.
Manaus - Uma equipe de saúde da Prefeitura de Manaus, responsável pela vacinação contra o sarampo, foi impedida por traficantes do bairro Jorge Teixeira, na zona leste da cidade, de continuar as atividades na noite desta quarta-feira, 18. A região da ocorrência tem a maior incidência da doença na capital amazonense e recebia ação de casa em casa.
Segundo a prefeitura, o caso ocorreu por volta das 19h, enquanto uma equipe de TV registrava o atendimento no bairro, encerrado uma hora mais cedo em função do fechamento das ruas atribuído a traficantes locais. Em nota, o prefeito Arthur Virgílio (PSDB) pediu apoio do governador do Amazonas, Amazonino Mendes (PDT), e prometeu ir pessoalmente ao local nesta quinta-feira, 19, para continuidade das ações.
"Eu faço um apelo muito encarecido ao governador do Estado, que entre com tudo que possa ter de força policial, porque nós não podemos deixar nunca que o Amazonas vire propriedade de traficantes. O Amazonas é propriedade dos amazonenses. E portanto, eu estarei com as equipes da Saúde na rua a partir de amanhã", disse o prefeito nesta quarta-feira, em nota.
A Secretaria de Segurança do Estado determinou que o caso seja investigado pela Polícia Civil e informou que tem intensificado operações policiais no bairro do Jorge Teixeira nos últimos meses, com base em levantamentos do setor de inteligência.
O Brasil tem 677 casos confirmados de sarampo. Os dados sobre a doença foram atualizados nesta Quarta-feira pelo Ministério da Saúde. Segundo a pasta, o País enfrenta dois surtos de sarampo: um em Roraima e outro no Amazonas - regiões mais atingidas pelo vírus.
O Estado do Amazonas tem 444 casos de sarampo confirmados. Em Roraima, são 216. Há confirmações ainda nos Estados de Rondônia (1), Rio de Janeiro (7), São Paulo (1) e Rio Grande do Sul (8). O País tem outros 2.724 casos em investigação.
Segundo o Ministério da Saúde, os surtos no Brasil estão relacionados à importação da doença - o genótipo do vírus é o mesmo que circula na Venezuela.
Em 2017, casos de sarampo em venezuelanos que viajaram a Roraima foram confirmados, causando um surto da doença no Estado. Houve, então, a ampliação de registros da doença para Manaus neste ano, de acordo com a pasta.
O Ministério Saúde informou que mantém equipes técnicas para acompanhar as ações de enfrentamento da doença no Amazonas e em Roraima. "A pasta tem qualificado profissionais de saúde com o objetivo de possibilitar a identificação de sinais e sintomas que definem um caso suspeito de sarampo, além da adoção de outras ações de vigilância epidemiológica."
Em São Paulo, um caso da doença foi confirmado em abril em Ribeirão Preto, no interior paulista. Trata-se de uma profissional de saúde que viajou ao Líbano. O registro foi considerado um caso importado da doença. Foram feitas ações de monitoramento da doença na região, mas não foi identificada transmissão do vírus e a paciente se recuperou.
O sarampo é uma doença altamente contagiosa cuja principal forma de prevenção é a vacinação. Apesar da importância da imunização, o País tem cobertura vacinal abaixo da meta definida pelo Ministério da Saúde e preconizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Segundo a pasta, a cobertura no Brasil foi de 85,21% na primeira dose (tríplice viral) e de 69,95% na segunda dose (tetra viral) em 2017. A meta é de 95%.
A vacina contra sarampo deve ser tomada em duas doses: uma aos 12 meses (tríplice viral) e outra aos 15 meses (tetra viral). Crianças de 5 a 9 anos de idade que não foram vacinadas anteriormente devem tomar duas doses da vacina tríplice com intervalo de 30 dias entre as doses. Entre 6 e 31 de agosto uma campanha de vacinação será realizada no País. O público-alvo são crianças de 1 ano a menores de 5 anos.
O mundo registrou no ano passado um recorde de crianças vacinadas - 123 milhões, de acordo com dados divulgados na terça-feira, 17, pelo Unicef e pela OMS - uma alta que ocorre tanto por aumento da população quanto de cobertura vacinal.
O Brasil, porém, caminha na contramão desse movimento, com queda na porcentagem de crianças vacinadas nos últimos três anos.