Brasil

Torre diz que põe a mão no fogo por executivo da construtora

O fundador e CEO da WTorre disse ainda que sua companhia "não se utiliza de expedientes ilícitos"


	Torre: o fundador e CEO da WTorre disse ainda que sua companhia "não se utiliza de expedientes ilícitos"
 (Claudio Rossi/EXAME.com)

Torre: o fundador e CEO da WTorre disse ainda que sua companhia "não se utiliza de expedientes ilícitos" (Claudio Rossi/EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 8 de agosto de 2016 às 15h57.

São Paulo - O empresário Walter Torre Júnior, fundador e CEO da WTorre Engenharia, afirmou à Polícia Federal no dia 28 de julho que "tomou conhecimento" do cartel de empreiteiras que atuava na Petrobras, mas negou que tenha recebido R$ 18 milhões para que sua empresa, que não fazia parte do conluio, desistisse da licitação do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes) em 2008, cujo valor inicial foi de R$ 850 milhões.

Ele disse ainda que "bota a mão no fogo" pelo diretor de sua empresa Francisco Caçador, que participou da licitação. Segundo Walter Torre, sua companhia "não se utiliza de expedientes ilícitos".

A versão do empresário vai na contramão da apresentada pelo dono da Carioca Engenharia (que confessou ter participado do cartel e compunha o consórcio vencedor do Cenpes) e delator Ricardo Pernambuco Junior, que relatou ter confirmado com Walter Torre o acerto da propina naquele ano.

Naquele ano, a WTorre ficou em primeiro lugar na disputa, oferecendo um preço quase R$ 40 milhões abaixo do primeiro colocado, mas não ofereceu desconto na negociação com a Petrobras para fechar o acordo e a disputa acabou sendo vencida pelo Consórcio Novo Cenpes, formado pelas empreiteiras que participavam do cartel na Petrobras e que ofereceu um desconto na negociação final com a estatal.

O episódio da licitação do Cenpes foi alvo da 31ª fase da Lava Jato, a Operação Abismo, deflagrada em 4 de julho e que prendeu o ex-tesoureiro do PT, Paulo Ferreira e conduziu coercitivamente Walter Torre para depor sobre o episódio.

Segundo os investigadores, houve um total de R$ 39 milhões em propinas pagas pelas empreiteiras do consórcio vencedor (Consórcio Novo Cenpes), sendo R$ 18 milhões para a WTorre desistir da obra e R$ 19 milhões para operadores de propinas que repassaram os recursos para o PT, para Paulo Ferreira e para ex-executivos da estatal petrolífera.

Em sua versão, Walter Torre relatou que sua empresa sempre atuou no mercado privado e que acabaram abrindo uma área específica para atuar em contratos da Petrobras.

Após ser cadastrada entre os fornecedores da estatal, a WTorre recebeu então a primeira carta-convite para participar de um certame na estatal, exatamente o do Cenpes.

A partir daí, relata o empresário, ele e outros executivos de sua empresa começaram a perceber a pressão do cartel para não vencerem a licitação.

"Como sempre realizou em obras privadas, a WTorre se aproximou de seus fornecedores para formular a proposta à Petrobras, visando a ajustar um preço que não pudesse flutuar; que durante esse movimento, o declarante e seus funcionários perceberam que os fornecedores começaram a mencionar que havia algo de errado em a WTorre assumir o Cenpes; que os fornecedores mencionavam que havia um descontentamento no mercado com relação a tal possibilidade", relatou.

Diante disso, na versão do executivo, ele e o diretor da WTorre Francisco Caçador foram conversar com Ricardo Pernambuco Junior, da Carioca Engenharia. "A reunião ocorreu na casa de Rico [Ricardo Pernambuco Júnior](em um condomínio fechado, no Brooklin); que Rico estava de saída para Disney, com a família, inclusive com malas na porta da casa. Que na ocasião, Caçador perguntou a Rico sobre a pressão que fora noticiada pelos fornecedores e Rico disse que não era para a WTorre fazer a obra, pois era uma obra 'do grupo'", relatou.

Na versão de Walter Torre, Ricardo Pernambuco Júnior teria agido de forma "arrogante" afirmando ainda que, se a WTorre quisesse participar de alguma licitação o "grupo" poderia incluí-los em outra obra, mas não na do Cenpes.

"Em tal encontro não se falou em dinheiro, nem houve qualquer oferta para que a WTorre desistisse do certame", disse o executivo.

Em sua delação, porém, Ricardo Pernambuco Júnior disse que o encontro ocorrido em sua residência foi apenas para confirmar que havia sido feito o acerto de R$ 18 milhões para a WTorre por meio do ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro.

"Como o Walter Torre conhecia a mim deste consórcio anterior, o Walter Torre foi à minha casa. Eu tô tentando. É muito difícil dizer a data, mas eu me lembro que eu tava indo pro exterior, a trabalho. Então, ele foi à minha casa, eu moro no Brooklin, em São Paulo, entrou pela garagem e tudo, foi à minha casa e foi só pra dizer que teve a conversa (com Léo Pinheiro) e pra dizer: 'tá tudo ok?'. Eu disse 'tá tudo ok'. O que você combinou com o Léo (Pinheiro, da OAS) nós vamos cumprir, o consórcio como um todo", disse o delator.

À Polícia Federal, Walter Torre disse que não conhece Léo Pinheiro, e que não teve nenhum contato com ele referente à obra do Novo Cenpes. "Não houve qualquer oferta ou pedido nesse sentido (para a WTorre deixar a licitação) e não houve qualquer pagamento; Que a empresa WTorre não se utiliza de tais expedientes ilícitos em sua atuação; Que especialmente quanto a Francisco Caçador, afirma que 'põe a mão no fogo' por ele, e que acredita que nenhum funcionário seu tenha aceitado ou recebido qualquer quantia no âmbito da obra do Novo Cenpes", disse o executivo.

A reportagem entrou em contato com o escritório que defende Ricardo Pernambuco Júnior e deixou recado, mas ainda não obteve retorno.

Acompanhe tudo sobre:Capitalização da PetrobrasCombustíveisEmpresasEmpresas abertasEmpresas brasileirasEmpresas estataisEstatais brasileirasIndústria do petróleoPetrobrasPetróleoWTorre

Mais de Brasil

Governadores do Sul e do Sudeste criticam PEC da Segurança Pública proposta por governo Lula

Leilão de concessão da Nova Raposo recebe quatro propostas

Reeleito em BH, Fuad Noman está internado após sentir fortes dores nas pernas

CNU divulga hoje notas de candidatos reintegrados ao concurso