Brasil

Torquato Jardim: saída de Battisti foi quebra de confiança

"Se ele podia sair do Brasil, por que foi para a Bolívia e não para o Uruguai ou a Argentina? Se ia pescar, por que não foi pescar no Rio Araguaia?", disse

Torquato Jardim: para ministro, manutenção de Battisti no Brasil é um entrave nas relações com a Itália (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Torquato Jardim: para ministro, manutenção de Battisti no Brasil é um entrave nas relações com a Itália (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 14 de outubro de 2017 às 10h43.

Brasília - O ministro da Justiça, Torquato Jardim, disse, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, que a "suspeita" envolvendo a tentativa de Cesare Battisti de atravessar a fronteira com a Bolívia, no início do mês, foi uma "quebra de confiança", o que justifica uma eventual decisão pela extradição do italiano. Battisti foi condenado à prisão perpétua em seu país, acusado de ter participado de quatro assassinatos. Ele sempre negou os crimes.

O italiano foi preso em 5 de outubro ao tentar entrar em território boliviano. Ele estava com US$ 6 mil e ¤ 1.300 e foi detido por crime de evasão de divisas. "Se ele podia sair do Brasil, por que foi para a Bolívia e não para o Uruguai ou a Argentina? Se ia pescar, por que não foi pescar no Rio Araguaia?", questionou Torquato, que enviou parecer ao Planalto defendendo a extradição.

Antes de o ministro Luiz Fux, do Supremo, conceder liminar para impedir que o italiano seja extraditado antes do julgamento do habeas corpus preventivo apresentado pela defesa, o titular da Justiça disse que o presidente Michel Temer só tomará uma decisão final após a decisão do STF. Torquato rebate a tese de que já se passaram cinco anos e a decisão de mantê-lo no País não poderia ser revista. "Este não é um ato administrativo. É um ato de soberania."

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, publicada na quinta-feira, o italiano acusou a Polícia Federal de promover uma armadilha contra ele com ajuda da Embaixada da Itália e negou que o dinheiro apreendido fosse todo dele - ele viajava com dois amigos quando foi detido.

A seguir, os principais trechos da entrevista de Torquato.

A ideia do presidente Temer é expulsar imediatamente Battisti, caso o Supremo não conceda o habeas corpus ao italiano?

Tudo está em suspenso. Depende se o Supremo vai conceder o HC (habeas corpus) e se for concedido, em que condições isso será feito. A preocupação era que o presidente assinasse um ato que pudesse ser contestado pelo STF.

Mas se o STF conceder o HC, o governo considera afastada a hipótese de mandá-lo para fora do Brasil definitivamente?

Não podemos adiantar nada. Precisamos aguardar como o Supremo vai se posicionar porque o juiz Lunardelli (José Marcos Lunardelli, do Tribunal Regional Federal da 3.ª Região, de São Paulo) quando suspendeu a prisão preventiva dele, teceu comentários sobre a sua prisão. Precisamos saber se o STF fará ou não o mesmo. Por isso, precisamos aguardar.

A expulsão dele se justificava por conta da prisão?

A prisão do Battisti é um fato novo. Foi uma quebra de confiança. Além de tudo, foi uma tentativa de saída suspeita do Brasil. Se ele podia sair do Brasil, por que foi para a Bolívia e não para o Uruguai ou a Argentina? Se ia pescar, por que não foi pescar no Rio Araguaia?

O governo perdeu o timing de expulsar o Battisti?

O caso está sub judice. Vamos aguardar a decisão do STF.

Há uma declaração do ministro Marco Aurélio do STF dizendo que depois de cinco anos da decisão do ex-presidente Lula, o governo brasileiro não poderia revê-la e extraditar Battisti.

O ministro Marco Aurélio é um ministro importante do Supremo, mas não concordo com a tese dele porque a decisão de expulsar o Battisti não é que é um ato administrativo, mas um ato de soberania do País. Pelo tratado bilateral Brasil-Itália a extradição é ato de soberania. E como ato de soberania, não se pode falar em prescrição de cinco anos.

A Itália pressiona o Brasil para que Battisti seja expulso?

A Itália quer muito isso e defende isso ainda mais que, para os italianos, trata-se de crime de sangue, homicídio, e não crime político, como ele alega. A manutenção dele aqui é um entrave nas relações entre os dois países.

A defesa de Battisti alega que expulsá-lo agora cria insegurança jurídica no País.

É um argumento da defesa. Os advogados de defesa são livres para dizer o que quiserem. Não vou comentar.

O presidente tem pressa em devolver Battisti e resolver esta questão?

Conversei no sábado passado com o presidente Temer sobre isso. E a decisão foi de que aguardaríamos a decisão do STF. Temos que esperar para não haver contestação.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:ItáliaSupremo Tribunal Federal (STF)

Mais de Brasil

Licença de Eduardo Bolsonaro termina neste domingo; veja o que pode acontecer

Eduardo aumenta condutas ilícitas após tornozeleira em Bolsonaro, diz Moraes

AGU pede que STF investigue ação suspeita antes de tarifaço no inquérito contra Eduardo Bolsonaro

Incêndio em Barueri, na Grande São Paulo, atinge galpões comerciais