O Complexo do Alemão ainda abriga traficantes e outros criminosos, embora a favela tenha sido ocupada pelas autoridades desde o final de 2010 (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 23 de maio de 2013 às 19h41.
Rio de Janeiro - Traficantes ordenaram nesta quinta-feira o fechamento do comércio no Complexo do Alemão, uma das maiores favelas cariocas, desafiando os esforços de pacificação e renovando a preocupação com a segurança num país que se prepara para receber a Copa do Mundo e a Olimpíada.
Lojas baixaram as portas e mais de 5.400 crianças foram dispensadas das escolas durante a manhã. O toque de recolher foi anunciado aos gritos por jovens em motos, como represália pela morte de um traficante em confronto com a polícia na véspera.
Autoridades estaduais e municipais disseram ter suspendido o atendimento em quatro escolas e seis postos de saúde, como medida preventiva.
Cenas assim costumavam ser comuns no Rio, mas as autoridades nos últimos anos têm realizado enormes esforços para erradicar as quadrilhas que passaram anos comandando as favelas.
Embora os incidentes desta quinta-feira tenham se limitado ao Complexo do Alemão, um conjunto de favelas que fica entre o centro e o aeroporto do Galeão, eles ocorrem num momento em que outras cidades brasileiras também enfrentam graves problemas de criminalidade.
Em São Paulo, as autoridades têm de lidar com uma epidemia de crack e com frequentes acertos de contas entre policiais e quadrilhas. "Esta é uma guerra, uma luta 24 horas, no país inteiro", disse o governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), em entrevista pela televisão na quarta-feira.
As declarações foram feitas num momento em que o Estado apresentou uma série de medidas, incluindo novas tecnologias e incentivos salariais, para que a polícia paulista cumpra ambiciosas novas metas de redução da criminalidade.
No Rio, autoridades disseram que o toque de recolher desta quinta-feira foi uma tentativa do tráfico de retomar a cultura de ilegalidade na qual os criminosos podiam ditar coisas como o horário do comércio e as autorizações para que não-moradores entrassem e saíssem das comunidades.
"Essa é mais uma expressão de descontentamento de alguns poucos traficantes recalcitrantes", disse a uma rádio Paulo Henrique Moraes, coronel da PM fluminense encarregado da segurança no Complexo do Alemão.
Mas o episódio também revela como é tênue a campanha do Rio para "pacificar" as favelas, um processo que envolve uma espécie de invasão militar de algumas comunidades, seguida por uma continuada ocupação policial.
Essas iniciativas coincidem com os preparativos da cidade para receber jogos da Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016.
Embora as autoridades tenham expulsado os traficantes de dezenas de favelas, especialmente as que ficam próximas a áreas turísticas ou em partes da cidade envolvidas nos grandes eventos, muitas comunidades continuam entregues aos criminosos.
O Complexo do Alemão, por exemplo, ainda abriga traficantes e outros criminosos, embora a favela tenha sido ocupada pelas autoridades desde o final de 2010.
Na periferia do Rio, enquanto isso, os moradores se queixam de que as melhoras em áreas mais privilegiadas apenas transferem os problemas para bairros mais pobres. Embora a criminalidade tenha diminuído nos bairros ricos da orla, ela aumentou nos subúrbios.