Tombini e Meirelles: o primeiro pode ser mais ousado que o segundo (Reuters)
Da Redação
Publicado em 19 de janeiro de 2011 às 11h15.
Brasília e Nova York - As expectativas de inflação mais altas em dois anos estão levando alguns operadores a apostarem que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, vai ser mais ousado que seu antecessor, Henrique Meirelles, em sua primeira reunião no comando do Comitê de Política Monetária.
As taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro indicam que operadores veem uma possibilidade de que Tombini eleve a Selic em 75 pontos-base, para de 10,75 por cento para 11,50 por cento. Essa alta seria maior do que o consenso na consulta da Bloomberg a economistas, que aponta expectativa de que o aumento fique em 50 pontos-base. Meirelles, que deixou em dezembro a presidência do BC depois de oito anos no cargo, elevou o juro em 50 pontos-base em sua primeira reunião do Copom, em 2003.
As apostas de elevação de 75 pontos-base crescem agora com as especulações de que Tombini quer demonstrar “credenciais de combate à inflação” depois que a inflação se acelerou para o maior nível em 25 meses, disse Marcelo Carvalho, chefe de pesquisa para América Latina do Banco BNP Paribas Brasil em São Paulo. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo subiu 5,9 por cento em 2010, enquanto no México a alta foi de 4,4 por cento. Até três meses antes, a inflação brasileira estava 0,1 ponto percentual menor do que a mexicana.
“As expectativas de inflação estão piorando de forma consistente”, disse Carvalho, que prevê um aumento de 50 pontos hoje, numa entrevista por telefone. “Existe justificativa aqui para o Banco Central agir com firmeza, com um movimento decisivo de alta, talvez mais do que as pessoas esperam, junto com um comprometimento bastante explícito de fazer o que for necessário para trazer a inflação de volta à meta.”
Títulos públicos
A taxa implícita de inflação em dois anos, derivada da diferença entre os rendimentos das notas do Tesouro prefixadas e as indexadas à inflação, aumentou para 6,5 por cento em 17 de janeiro, o maior nível desde novembro de 2008. A meta de inflação do País é de 4,5 por cento.
A taxa das Notas do Tesouro Nacional série B, que são atreladas à inflação, com vencimento em 2012 caiu 23 pontos-base desde 8 de dezembro, para 5,96 por cento. Já as Notas do Tesouro Nacional série F, que são papéis prefixados, com prazo similar rendem 12,40 por cento, depois da alta de 28 pontos-base no mesmo período, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Operadores do mercado futuro apostam que o Copom vai elevar o juro básico em 250 pontos-base este ano para 13,25 por cento, mostram dados da Bloomberg.
A última pesquisa semanal Focus do BC, divulgada em 17 de janeiro, mostra que os economistas elevaram as estimativas para o IPCA deste ano de 5,34 por cento para 5,42 por cento. Áreas afetadas por chuvas, como o estado do Rio de Janeiro, podem ter alta de preços de produtos como frutas, verduras e legumes, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em 14 de janeiro.
Atraso
O Copom precisa mostrar que “não perdeu a meta de inflação de vista e que continua comprometido com a meta”, disse Edwin Gutierrez, que ajuda a administrar US$ 6 bilhões em ativos de mercados emergentes na Aberdeen Management Plc em Londres, em entrevista por telefone. “Esse pessoal está ficando atrasado. As expectativas de inflação estão ficando mais altas. A reação do mercado não vai ser boa se eles não fizerem isso.”
O BC disse em e-mail à Bloomberg que não comenta as visões de analistas.
As expectativas de inflação também estão subindo porque a presidente Dilma Rousseff ainda precisa apresentar medidas para conter o crescimento dos gastos públicos, disse Huang Kuo Seen, que ajuda a administrar R$ 5 bilhões na Mapfre Investimentos em São Paulo, numa entrevista por telefone.
“É um pouco de ceticismo”, disse Huang. “Ainda temos de ver ações mais concretas do novo governo em relação à prudência fiscal, e não vimos isso ainda. Quanto mais demorar para o governo apresentar medidas mais específicas para a política fiscal, mais o mercado vai dar peso ao aperto na política monetária.”
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