Alguns analistas temem que Tombini seja menos hábil para fugir de pressões políticas que Meirelles (Fabio Rodrigues Pozzebom/AGÊNCIA BRASIL)
Da Redação
Publicado em 24 de novembro de 2010 às 18h36.
O tecnocrata do Banco Central Alexandre Tombini, que substituirá Henrique Meirelles como presidente da autoridade monetária, tem experiência no combate à inflação, mas terá de provar logo no começo do mandato que pode resistir a pressões políticas para afrouxar a política monetária.
A expectativa geral é que Tombini, atualmente responsável pela diretoria que cuida da regulação do sistema financeiro, mantenha a política de taxas de juro de Meirelles, embora alguns no mercado considerem que ele tenha menos tendência a subir juros que diretores anteriores.
Como presidente do Banco Central, ele terá de demonstrar independência desde o começo de seu mandato, com as crescentes pressões de inflação e a saída barulhenta de Meirelles tendo deixado os mercados nervosos em relação ao futuro da política monetária no Brasil.
Investidores irão esperar que Tombini garanta as políticas monetárias ortodoxas em meio a crescentes preocupações com a aceleração nos gastos públicos sob o ministro da Fazenda Guido Mantega, que continuará no cargo após a posse de Dilma Rousseff em 1o de janeiro.
Tombini, 46 anos, está no BC desde 1995. Ele trabalhou na formulação do regime de metas de inflação criado pelo banco em 1999 --um legado que, segundo analistas, lhe dá credibilidade para este novo desafio.
A nomeação de Tombini "é uma clara continuação", disse Ilan Goldfajn, ex-diretor do BC que trabalhou com Tombini no início da década.
"Ele sabe como é, viveu um momento em que a inflação subiu e demorou para cair. Creio que ele seguirá uma política responsável em relação à inflação", disse Goldfajn, que é hoje economista-chefe do Itaú Unibanco.
O Brasil sofreu com os altos índices de inflação dos anos 1980 e 1990, e o sucesso do BC em segurar as pressões sobre os preço no país deu a Meirelles reconhecimento tanto no Brasil quanto no exterior.
Nos últimos oito anos, Meirelles conquistou também a confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lhe deu liberdade para definir a política monetária, apesar da autonomia do Banco Central não ser garantida por lei no país.
Lula também deu ao cargo de presidente do Banco Central status de ministro, o que significa que Meirelles responde diretamente ao presidente e não fica sob jurisdição do Ministério da Fazenda.
No cargo de Diretor de Normas desde abril de 2006, Tombini também foi diretor de Assuntos Internacionais e de Estudos Especiais no Banco Central. Antes disso, ele trabalhou no Fundo Monetário Internacional e no Ministério da Fazenda.
Pressões para reduzir juros
Alguns analistas temem que Tombini seja menos hábil para fugir de pressões políticas que Meirelles, que provou ser astuto em lidar com a política ao mesmo tempo em que manteve um bom relacionamento com investidores.
"Ele terá que se provar nessa área", disse uma fonte próxima a Tombini, acrescentando que ele já sofreu esse tipo de pressão como membro do Comitê de Política Monetária (Copom).
A ideia de que Tombini seja menos propenso a elevar os juros é "um pouco exagerada", segundo a fonte.
Mas acrescentou: "Ele tem um ponto de vista sobre política monetária (e) ele sempre irá buscar uma taxa de juros mais baixa".
A independência de Tombini será testada logo cedo. Com a inflação acima da meta central do governo, a expectativa é que o BC eleve a taxa Selic --atualmente em 10,75 por cento-- no começo de 2011 para segurar os preços.
Isso pode causar desconforto no governo Dilma, que fez da redução das taxas de juros uma de suas prioridades.
Outro desafio para Tombini será melhorar suas habilidades de comunicação para conciliar visões opostas dentro do BC e conquistar o apoio tanto do governo quanto da sociedade para suas decisões.
"Ele é tímido, introvertido", disse um economista que conhece bem Tombini, mas pediu para permanecer anônimo.
"Não sei se ele tem as características necessárias para ser chefe do BC, que basicamente exige que você convença a sociedade do que deve ou não ser feito".