Agência de notícias
Publicado em 29 de setembro de 2025 às 17h36.
Última atualização em 29 de setembro de 2025 às 17h47.
O estado de São Paulo registrou, nesta segunda-feira, 29, a terceira morte suspeita de intoxicação por metanol. Dois casos foram confirmados pela prefeitura de São Bernardo do Campo, na região metropolitana, e um pela capital paulista. Em todas as ocorrências, ainda é esperado o resultado dos exames realizados pelo Instituto Médico Legal (IML) para confirmar ou descartar a contaminação.
De acordo com o G1, na capital paulista a Secretaria Municipal da Saúde informou que a vítima é um homem de 54 anos, morador da zona leste. Ele apresentou sintomas em 9 de setembro e morreu no dia 15, mas apenas agora o caso acabou associado à onda de intoxicações pelo produto.
A Polícia Civil já investiga a onda de envenenamentos provocados por bebidas adulteradas vendidas em bares e casas noturnas, que já resultou em pelo menos quatro denúncias — duas na zona sul da capital e duas na Grande São Paulo.
De acordo com a Secretaria de Saúde de São Bernardo do Campo, foram duas notificações de óbitos suspeitos por contaminação. O primeiro caso é de um homem de 58 anos que morreu em 24 de setembro e foi atendido no Hospital de Urgência. O segundo é de um homem de 45 anos que morreu em 28 de setembro e foi atendido na rede particular.
Segundo a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad), em um intervalo de 25 dias, o estado de São Paulo registrou nove casos de intoxicação por metanol. O número é considerado “fora do padrão”, o que gera suspeitas de possível origem comum do produto.
Em nota, a Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) levantou a hipótese de que os casos podem estar ligados à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). De acordo com a entidade, após o poder público ter fechado distribuidoras que usavam o metanol para adulterar combustível, o produto pode ter sido revendido a destilarias e falsificadores.
“Ao ficar com tanques repletos de metanol lacrados e distribuidoras e formuladoras proibidas de operar, a facção e seus parceiros podem eventualmente ter revendido o produto a destilarias clandestinas e quadrilhas de falsificadores de bebidas, auferindo lucros milionários em detrimento da saúde dos consumidores”, afirmou a associação em nota divulgada neste domingo, 28.
O fechamento de postos ocorreu após a operação Carbono Oculto, deflagrada em agosto pelo Ministério Público de São Paulo, Receita Federal, Polícia Federal e outros órgãos. De acordo com a investigação, o PCC usava mais de mil postos de combustíveis em dez estados brasileiros e controlava 40 fundos de investimento para lavar dinheiro.
O metanol é um produto químico usado em aplicações industriais e domésticas, como diluentes, anticongelantes, vernizes e até fluido para fotocopiadoras. Assim como o álcool presente na cerveja, no vinho e nos destilados, o metanol é um líquido incolor com cheiro semelhante ao do álcool consumido nessas bebidas, mas muito mais barato de produzir. Isso faz com que ele seja utilizado em bebidas adulteradas.
Dificilmente será possível perceber a adulteração no momento do consumo, já que seu gosto e efeito são semelhantes aos da bebida não adulterada. No entanto, os efeitos prejudiciais aparecem apenas horas depois, quando o organismo tenta eliminá-lo.
A ingestão de pequenas quantidades pode ser extremamente prejudicial à saúde, e algumas doses do composto podem ser fatais.
O álcool é metabolizado no fígado. No caso do metanol, esse metabolismo gera subprodutos tóxicos chamados formaldeído, formato e ácido fórmico. Eles atacam nervos e órgãos, sendo o cérebro e os olhos os mais vulneráveis, o que pode levar à cegueira, coma e morte.
A toxicidade do metanol está relacionada à dose ingerida e ao organismo. Assim como ocorre com o álcool etílico (etanol), quanto menos a pessoa pesa, mais pode ser afetada por uma determinada quantidade.
Normalmente, os efeitos demoram entre 40 minutos e 72 horas para aparecer. Os primeiros sinais são semelhantes aos da intoxicação por álcool e incluem problemas de coordenação, equilíbrio e fala, além de confusão e vômitos. Ao mesmo tempo, a pressão arterial cai, resultando em tontura e desmaios.
Em fases posteriores — cerca de 18 a 48 horas após a ingestão — o ácido fórmico, que interrompe a produção de energia nas células, provoca queda do pH sanguíneo, danificando tecidos e órgãos. Isso pode causar insuficiência renal, convulsões e até hemorragia gastrointestinal.
Uma mudança brusca na frequência cardíaca — acelerando rapidamente ou desacelerando acentuadamente — é muitas vezes um sinal de caso fatal, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).
O efeito de relaxamento muscular também compromete o sistema respiratório, causando dificuldade repentina para engolir e respirar.
“A pressão arterial baixa — hipotensão — e a parada respiratória ocorrem quando a morte é iminente”, acrescenta o CDC. O tratamento geralmente depende da gravidade do envenenamento, mas apenas exames de sangue podem confirmar o diagnóstico.
Devido ao seu rápido efeito no organismo, o início do tratamento deve ser feito assim que houver suspeita de intoxicação. Em ambiente hospitalar, existem medicamentos que podem ser administrados para tentar limpar o sangue, assim como a aplicação de diálise.
Surpreendentemente, alguns casos podem ser tratados com álcool (etanol). Isso porque a metabolização do etanol pelo fígado pode atrasar o metabolismo do metanol e reduzir seu efeito tóxico no corpo. Mas a aplicação deve ser feita rapidamente.