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Temer recompõe apoio para barrar denúncia na Câmara

Expectativa é de que que o presidente consiga nesta semana votação favorável na Câmara sobre denúncia por corrupção passiva

Em dois meses, o presidente Michel Temer conseguiu reverter uma crise aguda (Antonio Cruz/Agência Brasil)

Em dois meses, o presidente Michel Temer conseguiu reverter uma crise aguda (Antonio Cruz/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 30 de julho de 2017 às 13h40.

Brasília - Michel Temer conseguiu reverter, em pouco mais de dois meses, uma situação de crise aguda - momento em que sua renúncia chegou a ser cogitada - para uma expectativa de vitória, nesta semana, quando a denúncia por corrupção passiva apresentada contra ele poderá ser votada na Câmara. O presidente recebeu mais de 160 deputados e senadores, acelerou emendas parlamentares, lançou "pacotes de bondades", manteve como aliado Rodrigo Maia (DEM-RJ), seu eventual sucessor, e se beneficiou das "ruas vazias".

"Foi um embate diário", disse o vice-líder do governo na Câmara, deputado Beto Mansur (PRB-SP), um dos membros da "tropa de choque" responsável por monitorar o número de votos que o presidente terá em plenário durante a análise da denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Pela contagem mais recente, ele tem 280 votos - são necessários 172 para barrar a denúncia. "Eu não digo que já está resolvido, mas na quarta-feira temos muita chance de resolver essa questão", afirmou Mansur.

Desde 17 de maio, quando veio à tona o conteúdo da delação premiada do empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, o presidente recebeu em seu gabinete no Palácio do Planalto 133 deputados federais e 30 senadores. Após a denúncia chegar à Câmara em 29 de junho, Temer iniciou uma verdadeira "blitze política" para receber deputados e convencê-los a votar contra a abertura de investigação no Supremo Tribunal Federal. Em um único dia, o presidente recebeu 30 parlamentares.

Nas conversas, além de rebater as acusações de Janot - para quem o presidente era o beneficiário da mala com R$ 500 mil com a qual foi filmado seu ex-assessor e ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) -, Temer apresentou sua versão dos fatos. O presidente também usou o argumento de que, se nem mesmo ele está seguro contra o avanço da Operação Lava Jato, imagine como ficaria o destino dos parlamentares que também são alvo de investigações.

O Planalto pressionou os partidos aliados a fechar questão contra a denúncia e a trocar 15 integrantes na Comissão de Constituição e Justiça para derrotar o parecer do deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ) e garantir um relatório favorável ao peemedebista, que foi assinado pelo deputado Paulo Abi-Alckel - da ala pró-governo do PSDB.

O peemedebista atendeu a interesses da base, como a liberação de R$ 4,1 bilhões em emendas parlamentares apenas em junho e julho - o equivalente a 97% do total liberado o ano inteiro -, e direcionou o foco do Executivo para projetos destinados às prefeituras, como o programa de regularização fundiária. A pouco mais de um ano das eleições de 2018, a oferta de recursos para obras em municípios tem como objetivo ajudar deputados e senadores a colher dividendos em suas bases eleitorais.

Lealdade - A mobilização de Temer conseguiu até mesmo conter a "solução Maia", que passou a ser cotado para o Planalto e fez movimentos que foram vistos como uma tentativa para se cacifar para o cargo. Aliados do deputado, no entanto, afirmam que parte do sucesso de Temer se dá justamente pelo fato de Maia não ter "conspirado" para tomar seu lugar.

"Eu cumpri o meu papel de presidente da Câmara, não sendo o condutor nem a favor nem contra esse processo. Do ponto de vista pessoal, eu mantive a lealdade ao governo do qual eu e o meu partido fazemos parte", disse Maia ao Estado.

Outro ponto que beneficiou Temer foi a falta de "gente na rua", isto é, de protestos significativos pedindo por sua saída. Aliados do peemedebista admitem que ele não aguentaria a pressão de "um milhão de pessoas na Avenida Paulista", em referência aos atos que culminaram no impeachment de Dilma Rousseff.

Com o cenário provável de vitória, a expectativa do governo é de que as reformas - mote da gestão Temer - voltem à pauta do Congresso. No entanto, uma nova denúncia contra o presidente, com a acusação de obstrução da Justiça e organização criminosa, deve ser apresentada por Janot, que vai deixar o comando do Ministério Público Federal no dia 17 de setembro. Novas delações também podem voltar a conturbar o ambiente político.

Na Câmara, a defesa de Temer atacou o "açodamento" do MPF e sustentou que não há provas de corrupção passiva. Questionou ainda a autenticidade do áudio gravado por Joesley.

Com aprovação de apenas 5%, segundo a mais recente pesquisa Ibope, o presidente aposta na intensa ação política para se manter no cargo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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