Temer: se Janot denunciar Temer, o Supremo terá de obter autorização da Câmara para abrir ação penal contra ele (Ueslei Marcelino/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 9 de junho de 2017 às 10h09.
Última atualização em 9 de junho de 2017 às 10h13.
Brasília - Passado o julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e confirmada a projeção de absolvição de Michel Temer, o governo vai investir na arrumação de sua base, na tentativa de barrar no Congresso a já esperada denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Convencido de que Janot o acusará perante o Supremo Tribunal Federal (STF), Temer montou uma estratégia para dar aos deputados e senadores o que eles quiserem - de cargos à liberação de emendas - e avalia até mudanças ministeriais.
Se Janot denunciar Temer - tomando como base delações do empresário Joesley Batista, dono da JBS -, o Supremo terá de obter autorização da Câmara para abrir ação penal contra ele. Para impedir a investigação, o presidente precisará de pelo menos 172 dos 513 deputados.
Dividido, o PSDB parece cada dia mais próximo do desembarque do governo, mas a decisão final será tomada na segunda-feira, em reunião do Diretório Nacional, com a presença de governadores.
No Palácio do Planalto há preocupação não apenas com a possível saída dos tucanos, mas também com o "efeito dominó" em outros partidos.
É com esse diagnóstico que Temer articula uma operação "segura base", intensificando contatos com aliados. Nesses encontros, o peemedebista dá explicações sobre as denúncias, diz ter caído em uma "armadilha" de Joesley, pede apoio e assegura que provará sua inocência.
"O presidente deixou claro para nós que usará todas as forças para não cair. Fará tudo o que for necessário para governar", contou o senador Telmário Motta (PTB-RR).
"Ele é muito habilidoso e sabe tratar o Legislativo. Vai ampliar o diálogo e fará as reformas que o mercado quer", afirmou.
A bancada do PTB conversou com Temer na noite de anteontem, no Planalto. "Queremos ser os amigos certos das horas incertas", disse Telmário, ao lembrar da música de Roberto Carlos.
O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), afirmou que o Planalto espera "reciprocidade" dos aliados, sob o argumento de que a política é feita não apenas de bônus, mas também de ônus.
"Será difícil apoiar o PSDB nas eleições de 2018 se o partido deixar a base do governo", disse ele.
A declaração contrariou os tucanos. "Jucá deveria ficar preocupado com ele, e não com os outros. Quem decide pelo PSDB é o PSDB", reagiu o líder do partido na Câmara, Ricardo Tripoli (SP).
O partido controla, atualmente, quatro dos 28 ministérios. O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), afirmou que a legenda "não precisa de cargo e ministério para aprovar as reformas da Previdência e trabalhista".
Temer enviará nesta sexta-feira as respostas às 82 perguntas da Polícia Federal após analisá-las com seu advogado Antonio Cláudio Mariz de Oliveira.
As questões estão relacionadas ao inquérito em que o presidente é acusado de corrupção passiva, obstrução de Justiça e participação em organização criminosa. (Colaborou Isabela Bonfim)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.