Brasil

Temer comandou reunião sobre propina de US$40 mi, diz delator

Propina era referente a 5% de um contrato da Odebrecht com a Petrobras

Michel Temer: secretaria da Presidência negou que Temer tivesse participado da reunião (Ueslei Marcelino/Reuters)

Michel Temer: secretaria da Presidência negou que Temer tivesse participado da reunião (Ueslei Marcelino/Reuters)

R

Reuters

Publicado em 13 de abril de 2017 às 08h14.

Última atualização em 13 de abril de 2017 às 13h01.

O presidente Michel Temer comandou uma reunião com a Odebrecht na qual foi acertado pagamento de propina de 40 milhões de dólares ao PMDB em 2010, quando era candidato a vice-presidente da República, afirmou um dos delatores da empreiteira em depoimento no âmbito da operação Lava Jato.

Segundo o delator Márcio Faria da Silva, o encontro aconteceu no escritório político de Temer em São Paulo, e o valor se referia ao percentual de 5 por cento de um contrato da Odebrecht com a Petrobras.

"Totalmente vantagem indevida, porque era um percentual em cima de um contrato", disse Faria no depoimento, quando perguntado se havia ficado claro na reunião que o repasse era relativo a pagamento de propina.

Segundo o delator, a reunião com a presença de Temer foi convocada como uma forma de "confirmação" para um acerto que já havia sido feito anteriormente por um intermediário do PMDB junto à Petrobras. O acordo dizia respeito a um contrato de 825 milhões de dólares para a manutenção de ativos da Petrobras em nove países, que foi vencido pela Odebrecht por meio de fraude no processo licitatório.

"Um dia recebi um email convocando para uma reunião com a cúpula do PMDB em São Paulo... Um contrato dessa magnitude, o que passou na minha cabeça é que o pessoal queria uma confirmação", disse o delator, acrescentando que no encontro com a presença de Temer não se falou em valores, mas houve confirmação do acerto feito anteriormente.

"O Eduardo Cunha tomou a palavra, explicou que estávamos no processo de contratação de um contrato da Petrobras, com o compromisso de que se fosse assinado iria haver uma contribuição muito importante para o partido... Não se falou em valores, mas eu confirmei que honraria os compromissos", afirmou.

Depois da assinatura do contrato, a propina foi paga em espécie no Brasil e em contas no exterior, segundo Faria, e o PMDB concordou durante as negociações em reduzir seu percentual para 4 por cento, permitindo que o PT ficasse com 1 por cento, acrescentou.

Em nota oficial, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República informou que Temer jamais tratou de valores com Márcio Faria e que nunca houve encontro entre eles com a presença do ex-deputado Henrique Eduardo Alves.

Reconheceu, no entanto, uma reunião em 2010 na qual Faria foi acompanhado de Eduardo Cunha.

"A conversa, rápida e superficial, não versou sobre valores ou contratos na Petrobras. E isso já foi esclarecido anteriormente, quando da divulgação dessa suposta reunião. O presidente contesta de forma categórica qualquer envolvimento de seu nome em negócios escusos. Nunca atuou em defesa de interesses particulares na Petrobras, nem defendeu pagamento de valores indevidos a terceiros", disse a nota.

Temer também foi citado na delação de Marcelo Odebrecht, ex-presidente da Odebrecht, que classificou como um "shake hands" o jantar no Palácio do Jaburu que teve com o então vice-presidente em maio de 2014, no qual foi acertado uma contribuição no valor de 10 milhões de reais da empreiteira para o PMDB.

As declarações de Marcelo Odebrecht e Márcio Faria da Silva fazem parte da íntegra dos vídeos dos depoimentos prestados pelos executivos da Odebrecht divulgados pelo gabinete do ministro Edson Fachin, após a abertura de 76 inquéritos contra autoridades no STF. Apenas dois dos inquéritos tiveram seu sigilo mantido.

O presidente Michel Temer não será investigado no momento por esses casos porque, de acordo com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o presidente tem imunidade temporária e não pode ser investigado por fatos anteriores ao mandato.

Acompanhe tudo sobre:Delação premiadaMDB – Movimento Democrático BrasileiroMichel TemerNovonor (ex-Odebrecht)Operação Lava JatoPetrobras

Mais de Brasil

Governadores do Sul e do Sudeste criticam PEC da Segurança Pública proposta por governo Lula

Leilão de concessão da Nova Raposo recebe quatro propostas

Reeleito em BH, Fuad Noman está internado após sentir fortes dores nas pernas

CNU divulga hoje notas de candidatos reintegrados ao concurso