Salvador: cidade teve abstenção baixa em percentual, mas, ainda assim, foram 355 mil eleitores sem ir às urnas (Gonzalo Azumendi/Getty Images)
Carolina Riveira
Publicado em 29 de outubro de 2022 às 12h52.
No primeiro turno, 2,4 milhões de eleitores deixaram de votar no estado da Bahia, uma taxa de abstenção de 21,33%. O estado ficou abaixo da média brasileira, que teve abstenção de 20,8% (sem contar os ausentes no exterior).
A Bahia foi um dos poucos estados do Nordeste com abstenção geral acima da média. Por ser o quarto maior colégio eleitoral do Brasil, os ausentes na Bahia responderam por mais de 7% de todos os que não votaram no primeiro turno em todo o país.
Do ex-presidente Lula ao presidente Jair Bolsonaro, as campanhas dos candidatos à Presidência têm se esforçado para garantir que o maior número possível de eleitores — e, sobretudo, os grupos que pendem para sua base eleitoral — compareçam às urnas no domingo, 30.
Para o segundo turno, historicamente, a abstenção ainda aumenta, o que pode ser um movimento crucial no resultado da eleição. Na Bahia, no primeiro turno, Lula ganhou no estado, e trouxe das grandes cidades baianas um caminhão de votos em números absolutos, com impacto crucial na eleição nacional.
Como a EXAME mostrou, um dos objetivos da campanha de Lula é aumentar ainda mais a vantagem na Bahia e em outros estados do Nordeste, para acima de 70%, garantindo a vantagem contra Bolsonaro nacionalmente. Manter a abstenção baixa nas pequenas e grandes cidades, porém, será crucial para essa estratégia.
Para entender como a abstenção ocorreu no primeiro turno, a EXAME compilou detalhes sobre as ausências nos cinco maiores colégios eleitorais; além da Bahia, clique nos links para ver a abstenção em detalhes nos outros estados e destaques nacionais:
Percentualmente, as maiores taxas de abstenção ocorreram em cidades pequenas no interior, muitas com mais de 35% dos eleitores sem votar, muito acima da média do estado. Isso ocorre, em muitos desses lugares, porque alguns dos eleitores já não residem mais no município e terminam não voltando no dia da eleição. A distância para o local de votação também pode ser um empecilho (embora os motivos variem de cidade a cidade).
A campeã de abstenção foi a pequena Santa Luzia, que tem menos de 10 mil eleitores registrados, dos quais quase 35% não votaram no primeiro turno, muito acima da média do estado, segundo o TSE.
As cidades com maior taxa de abstenção na Bahia foram:
Dentre as cidades baianas, porém, há polos em que a abstenção se concentrou, mostra levantamento feito pela EXAME com os dados de primeiro turno da votação.
Se contabilizadas só as cidades médias e grandes, com ao menos 100 mil eleitores registrados, a com maior ausência foi Teixeira de Freitas: a cidade tinha mais de 112,2 mil eleitores registrados para votar, mas mais de 30 mil não compareceram, abstenção de 27%.
Em seguida vieram Itabuna e Porto Seguro. Veja abaixo.
A taxa de abstenção em percentual, porém, não é o único fator a ser observado. Como na eleição brasileira cada voto conta, a maior efeito da abstenção vem mesmo das cidades extremamente populosas, porque têm alto número absoluto de ausentes.
A capital Salvador, embora tenha uma abstenção percentual muito abaixo da média (menos de 18%), tem em números absolutos a maior quantidade de eleitores que não votaram: 355,3 mil não foram às urnas, dentre os mais de 1,9 milhão de eleitores que estavam aptos.
Outro exemplo é Feira de Santana, que também não figura entre as maiores abstenções do estado (com taxa de somente 15% de abstenção), mas ainda assim é a segunda com maior número de ausentes, uma vez que é muito populosa.
Cidades grandes da Bahia são estratégicas para a campanha de Lula porque, sozinhas, garantem um gigantesco saldo de votos. Salvador deu ao ex-presidente quase 650 mil votos a mais do que Bolsonaro, a mesma quantidade que Lula conseguiu em São Paulo, que é quatro vezes maior, mas onde o resultado foi mais apertado.
Paralelamente, as cidades pequenas, onde Lula ganha com 70% ou até mais de 80% dos votos, também garantem, somadas, número importante de votos para o candidato.
No estado da Bahia, ao todo, Lula venceu com 69,73% dos votos no primeiro turno, contra 24,31% de Lula.
No cenário nacional, a leitura geral é de que as abstenções prejudicaram mais Lula do que Bolsonaro no primeiro turno, com ausências numerosas de eleitores em bairros de menor renda e entre eleitores menos escolarizados, grupos que votam mais no petista.
Por outro lado, homens também votaram menos do que mulheres (com abstenção de 22% deles e 20% delas). A abstenção masculina maior é um comportamento que já ocorreu em outras eleições e pode também tirar milhares de votos de Bolsonaro, que é preferido por esse eleitorado, sobretudo em cidades grandes e médias na região Sudeste, onde o presidente tem alto número de votos, mas onde a abstenção também foi alta.
Para o segundo turno, mais de 300 cidades brasileiras, incluindo todas as capitais, implementaram passe livre para o dia da votação. A aposta é que a gratuidade na passagem possa incentivar mais eleitores a não desistir de votar. No primeiro turno, em análises por zona eleitoral nas grandes cidades, a abstenção foi maior nas periferias, que concentram estratos de menor renda.
Pela lei eleitoral, mesmo eleitores que não votaram no primeiro turno podem votar no segundo. Segundo o TSE, cada turno é tratado como uma eleição independente pela Justiça Eleitoral. Porém, em 2018, enquanto 117,4 milhões votaram no primeiro turno, só 115,9 milhões votaram no segundo. Uma diferença como essa, se repetida em 2022, pode fazer a diferença.
Para entender como a abstenção ocorreu no primeiro turno, a EXAME compilou detalhes sobre as ausências nos cinco maiores colégios eleitorais; além de SP, clique nos outros links para ver a abstenção em detalhes nos outros estados e destaques nacionais: