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Taxa de homicídio no RJ vai de Bélgica a Honduras no mesmo bairro

Em todas as regiões, chance de os negros sofrerem homicídios é sempre muito maior do que a dos não-negros

Violência: estatísticas no Rio vão de 1,6 a 90,4 assassinatos por 100 mil habitantes (Fergregory/Thinkstock/Thinkstock)

Violência: estatísticas no Rio vão de 1,6 a 90,4 assassinatos por 100 mil habitantes (Fergregory/Thinkstock/Thinkstock)

AB

Agência Brasil

Publicado em 20 de novembro de 2016 às 15h22.

A cidade do Rio de Janeiro pode ser chamada de "Belduras", numa referência à taxa de homicídios da Bélgica, uma das mais baixas do mundo, com 1,6 assassinato por 100 mil habitantes, e a de Honduras, o país mais violento, com taxa de 90,4 por 100 mil. A comparação está no estudo Democracia Racial e Homicídio de Jovens Negros na Cidade Partida, lançado sexta-feira (18) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Segundo os pesquisadores Daniel Cerqueira e Danilo Coelho, o grupo dos 10% com mais chance de sofrer morte violenta têm probabilidade 62,1 vezes maior do que o grupo dos 10% com menores chances de sofrer assassinato na cidade. Coelho destaca que essa discrepância ocorre dentro de um mesmo bairro.

"Se o cara tem 21 anos, é negro, com baixa escolaridade e mora em determinados bairro, tem mais chance de ser assassinado. Já uma pessoa mais velha, branca, que mora na zona sul e tem curso superior, a probabilidade é muito pequena. Na zona sul há um grande grupo de pessoas que tem baixo risco de ser assassinado. Entre os negros é mais desigual e entre os brancos é mais polarizado. O grupo de brancos com mais chance de ser assassinado inclui os de baixa escolaridade, baixa renda e jovens".

Coelho destaca que a pesquisa desenvolveu um modelo econométrico para verificar a incidência dos homicídios entre os homens negros, sem considerar os outros parâmetros socioeconômicos. Aos 21 anos, idade em que há um pico estatístico nas chances de sofrer assassinato, a probabilidade de um jovem preto ou pardo ser vítima é 147% maior do que a de um branco, amarelo ou indígena.

Cerqueira explica que o estudo dividiu a cidade em 16 conjuntos de bairros e notou que, em todas as regiões, a chance de os negros sofrerem homicídios é sempre muito maior do que a dos não negros.

"A gente pode imaginar cada região da cidade como Belduras, em homenagem ao Edmar Bacha que falava da Belíndia. Você tem na mesma região cidadãos que têm chance de sofrer homicídio como um belga e grupos de pessoas que têm chance de sofrer homicídio como um cidadão de Honduras, que é o país mais violento do mundo. Mesmo entre os brancos, há um grupo com menos chance e outro com mais probabilidade de ser assassinado".

Eles explicam que o resultado da análise mostra claramente a cidade partida. Enquanto a chance de sofrer assassinato é baixa em locais como zona sul, Barra da Tijuca, Ilha do Governador e Tijuca, a probabilidade aumenta em Madureira, Pavuna, Santa Cruz e Campo Grande. Porém, em todas as regiões, a probabilidade do negro ser vítima de homicídio é muito maior do que a do branco. Os negros são 78,9% dos 10% com mais chances de serem assassinados e 42,8% dos que têm menor probabilidade.

"Se a gente fizer isso em São Paulo, provavelmente o gráfico ia ser diferente, porque lá o sentido de periferia é mais de periferia geográfica mesmo, aqui está tudo misturado".

A pesquisa calculou como cada característica afeta a chance de a pessoa sofrer homicídio. Foram analisados os dados de escolaridade, local de residência, idade e estado civil, além da cor da pele, na amostra de homens entre 14 e 70 anos do censo de 2010, residentes no Rio de Janeiro, e o número de mortos na cidade naquele ano.

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