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'Taxa das blusinhas': número de consumidores que deixaram de fazer compras salta 192%

Pesquisa da CNI revela que tributação de 20% sobre importações de até US$ 50 triplicou as desistências em sites internacionais entre maio de 2024 e outubro de 2025

A prática da revenda é a minoria dos casos entre os brasileiros. (Monika Skolimowska/picture alliance /Getty Images)

A prática da revenda é a minoria dos casos entre os brasileiros. (Monika Skolimowska/picture alliance /Getty Images)

Luanda Moraes
Luanda Moraes

Colaboradora

Publicado em 27 de outubro de 2025 às 14h28.

A taxa das blusinhas tem provocado uma mudança drástica no comportamento dos brasileiros que compram em plataformas internacionais.

Segundo uma pesquisa divulgada nesta segunda-feira, 27, saltou de 13% para 38% o índice de pessoas que desistiram da modalidade devido aos impostos. A transição representa um aumento de 192%, quase o triplo do índice registrado em 2024.

Os dados são do levantamento Retratos do Brasil, encomendado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) à Nexus.

A pesquisa entrevistou 2.008 pessoas em todos os estados entre 10 e 15 de outubro, conseguindo mapear o impacto da tributação de 20% sobre produtos de até US$ 50.

Consumidores migraram para produtos nacionais

A pesquisa identificou que a desistência das importações impulsionou a busca por alternativas dentro do cenário nacional. Assim, o número de pessoas que procuraram produtos similares com entrega no Brasil aumentou de 22% para 32%.

O levantamento também evidenciou que a desistência definitiva, aquela que não busca alternativas, caiu de 58% para 42% em um período de um ano.

Além disso, a taxa das blusinhas também pode ter aumentado a concorrência entre os próprios sites internacionais. Isso porque os dados apontam que a busca por itens similares em outros sites internacionais cresceu de 6% para 11%, provavelmente em cenários em que uma plataforma oferece descontos a mais que outra.

Perfil dos consumidores mais afetados pela taxa

A tributação impactou de forma mais acentuada grupos específicos:

  • Pessoas com ensino superior: 51%
  • Jovens entre 16 e 24 anos ou entre 25 e 40 anos: 46%
  • Consumidores que ganham mais de cinco salários mínimos: 45%
  • Moradores da região Nordeste: 42%

ICMS e frete também pesam na decisão de compra

O custo com ICMS também se mostrou uma barreira grande para os brasileiros. O percentual de consumidores que desistiram por causa desse tributo subiu de 32% para 36% no período analisado.

Vale destacar que o preço do frete internacional motivou 45% dos compradores a abandonarem pedidos, um aumento de cinco pontos percentuais em relação à pesquisa anterior. Já o prazo de entrega levou 32% dos consumidores a desistirem, com leve queda em relação a maio de 2024.

Maioria compra para uso pessoal, revenda é mínima

A pesquisa traz ainda outro recorte importante, apontando que a prática da revenda é a minoria dos casos entre os brasileiros. Somente 2% importam itens pensando em revender.

Outro grupo minoritário refere-se às pessoas que compram itens em sites internacionais para uso no trabalho, são apenas 10%.

[grifar]A maioria, três em cada quatro entrevistados, compra todos os produtos para uso pessoal. Esse percentual sobe para 90% entre pessoas com mais de 60 anos.

O que é a taxa das blusinhas e por que foi criada

A tributação de 20% de Imposto de Importação sobre compras internacionais de até US$ 50 entrou em vigor em 1º de agosto de 2024, via Medida Provisória 1.236/2024.

O apelido ganhou destaque devido à explosão de compras de roupas baratas em sites como Shein, Shopee e AliExpress durante os anos da pandemia. Antes da medida polêmica, essas compras eram isentas do imposto federal e pagavam apenas ICMS estadual.

Diante dos dados atuais, o superintendente de Economia da CNI, Marcio Guerra, afirma que o impacto da taxação é positivo para a indústria brasileira, embora considere o patamar ainda insuficiente.

"A implementação do Imposto de Importação é o início de um processo que busca trazer mais justiça e competitividade para a indústria nacional. No entanto, o imposto ainda está em um patamar muito aquém do necessário para chegarmos a esse equilíbrio, pois a carga tributária de outros países é muito menor que a nossa", afirma Guerra.

Apesar disso, o executivo considera que o aumento no impacto do frete é um sinal de "avanço na racionalidade do consumidor brasileiro na hora da compra".

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