Temer: o senador disse que o país está chegando a uma "ingovernabilidade" (REUTERS/Adriano Machado/Reuters)
Reuters
Publicado em 6 de julho de 2017 às 20h54.
Última atualização em 7 de julho de 2017 às 13h31.
Brasília - Dirigentes do PSDB ainda não chegaram a um consenso de que é preciso romper imediatamente com o governo Temer, apesar da crescente pressão feita pelo presidente interino da legenda, senador Tasso Jereissati (CE), que disse nesta quinta-feira que o país está chegando a uma "ingovernabilidade" e que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reúne condições para levar a um mínimo de estabilidade até 2018.
Em conversa com jornalistas, Tasso fez projeções para um presidente no Palácio do Planalto, destacando que o importante seria manter a atual equipe econômica e os partidos da base, com a presença de nomes que não tenham questionamentos no campo ético.
Apesar das indicações do presidente interino para um pós-Temer, um dirigente da cúpula do PSDB afirmou reservadamente à Reuters que não há qualquer decisão tomada pelo partido para deixar a base do governo e entregar os cargos que ocupa na Esplanada dos Ministérios.
Esse tucano admitiu, no entanto, que há um "exaurimento" da gestão do presidente Michel Temer e lembrou que o apoio ao peemedebista está condicionada à agenda de reformas.
Na próxima semana, o Senado deverá votar a reforma trabalhista. Essa proposta é tida por alguns tucanos como o "ponto de rompimento" com o governo, uma vez que a reforma da Previdência não deverá avançar diante das acusações que pairam sob Temer e paralisam a articulação da principal reforma do governo.
A avaliação do dirigente que conversou com a Reuters é que, mesmo com toda a carga de denúncias contra o presidente, o governo está funcionando e conseguindo aos poucos colher feitos na área econômica. O tucano duvida, ao contrário do que defendera Tasso, que Rodrigo Maia teria condições de levar adiante a agenda de reformas.
Maia assumiria o comando do país por até 180 dias, caso a Câmara aprove a autorização para que o Supremo Tribunal Federal analise a denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente por corrupção passiva, e o STF acate a acusação, tornando Temer réu. Esse seria o prazo para que a corte julgasse o peemedebista --ele retornaria ao comando do país se o STF não o concluísse o julgamento até lá.
Se Temer for condenado e afastado em definitivo, Maia teria 30 dias para conduzir o processo de uma eleição indireta --no qual, ele próprio, poderia ser candidato para o mandato-tampão até o final de 2018.
A pressão pelo desembarque do PSDB do governo também tem aumentado nos últimos dias pelos deputados mais novos da legenda, os chamados "cabeças-pretas". O partido vai liberar a bancada para votar como quiser sobre a denúncia contra Temer.
As eventuais delações do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do empresário Lúcio Funaro --que devem implicar Temer-- aumentam ainda mais a preocupação entre tucanos sobre respaldar o governo.
Tasso, por exemplo, disse nesta quinta-feira que a delação de Cunha não teria "nem o que discutir mais". Se a situação deteriorar, segundo tucanos, o partido precisa calibrar o momento da saída para não ter maiores prejuízos eleitorais em 2018, quando pretende ter candidatura própria ao Planalto.
No Senado, Casa em que o apoio ao governo era mais sólido, a certeza começou a virar dúvida desde o afastamento do senador Aécio Neves das funções legislativas por decisão do STF após ser envolvido na delação da JBS.
Principal fiador de Temer, Aécio retornou ao Senado esta semana, mas ainda não ao comando do partido --nem se sabe se vai.
Ainda assim, até o momento, Aécio, o ex-chanceler e senador José Serra e Geraldo Alckmin têm se posicionado a favor da manutenção do apoio ao governo.
O dirigente do PSDB contrário ao rompimento imediato disse que ser presidente da Câmara é uma coisa, outra é ser presidente da República. "Não é um miss simpatia, tem que ser miss Brasil", cutucou, numa referência indireta a Maia.