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Tartaruga de 280 kg pode ter sido vítima da lama de Mariana

Uma das hipóteses é que a tartaruga tenha se contaminado com a lama da mineradora Samarco

Mariana (MG): os exames devem indicar também a idade do animal, que pode viver até 300 anos (Ricardo Moraes / Reuters)

Mariana (MG): os exames devem indicar também a idade do animal, que pode viver até 300 anos (Ricardo Moraes / Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 4 de novembro de 2016 às 17h20.

Sorocaba - Uma tartaruga-de-couro pesando cerca de 280 quilos e com quase dois metros de comprimento foi encontrada morta, nesta quinta-feira, 3, em uma praia de Ilha Comprida, no litoral sul do Estado de São Paulo.

De acordo com o biólogo Cristian Negrão da Silva, técnico ambiental da prefeitura local, a morte será investigada, pois uma das hipóteses é que a tartaruga tenha se contaminado com a lama da mineradora Samarco, despejada no litoral do Espírito Santo, na foz do Rio Doce. As tartarugas dessa espécie, segundo ele, desovam exclusivamente naquela região da costa brasileira.

De acordo com Silva, o réptil não tinha ferimentos externos e estava em bom estado, o que indica morte recente. Uma equipe do Instituto de Pesquisas de Cananeia (IPEC), órgão do governo estadual que trabalha em parceria com a prefeitura, coletou amostras para exames.

Também são examinadas quatro tartarugas verdes e seis baleias da espécie jubarte que encalharam em praias da ilha este ano. As tartarugas-verdes foram encontradas entre julho a outubro, já mortas.

O técnico ambiental lembra que desde 2002 não encalhavam tartarugas-de-couro na ilha. "É um fato incomum e a gente fica preocupado, pois ela chegou morta."

Segundo ele, como as tartarugas marinhas comem algas, ela pode ter ingerido algum resíduo sólido, como plástico. "Pode até ser alguma doença, mas, como a área de desova é no litoral do Espírito Santo, bem onde os dejetos da barragem de Mariana caíram no mar, essa pode ser uma causa. Elas estão retornando da desova, estão debilitadas, pode ser em decorrência da lama." Segundo ele, as análises vão indicar se há alta concentração de ferro ou mercúrio nos órgãos.

"É incomum uma tartaruga-de-couro chegar morta aqui. A gente não via há muito tempo e acontece depois que houve o despejo da lama na área de desova", afirmou.

Os exames devem indicar também a idade do animal, que pode viver até 300 anos. O réptil, também conhecido como tartaruga-gigante por causa do tamanho, pode pesar até 700 quilos.

A tartaruga-de-couro é espécie "criticamente ameaçada" de extinção no Brasil, segundo o biólogo. No mundo, estima-se que existam apenas 34 fêmeas em idade de reprodução. O animal passa a vida no oceano e procura a costa do Espírito Santo apenas para desovar.

O rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana (MG), aconteceu no final de 2015. A lama caiu no Rio Doce e foi levada ao oceano. Procurada, a Samarco informou, através da assessoria de imprensa, que não se manifestaria sobre o assunto.

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