No governo paulista, a pasta dos transportes responde pelos maiores contratos do governo em obras como o Rodoanel (Amanda Perobelli/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 8 de novembro de 2022 às 08h47.
Ex-ministro da Infraestrutura do governo Jair Bolsonaro (PL), o governador eleito Tarcísio de Freitas (Republicanos) quer "blindar" as pastas ligadas ao setor em São Paulo e planeja desalojar da Secretaria de Transporte e Logística o grupo ligado ao vereador Milton Leite (União Brasil).
Antes mesmo de iniciar o processo de transição, Tarcísio avisou que pretende indicar para comandar a secretaria um engenheiro de sua confiança e sem relação com partidos: Rafael Benini, diretor da Empresa de Planejamento e Logística. Outro nome que terá influência será Arthur Lima, diretor-presidente da estatal.
Aliado tradicional do PSDB paulista, que comandou o Palácio dos Bandeirantes por 28 anos, Leite é o principal dirigente do União Brasil em São Paulo e exerce forte influência no setor de transporte na capital e no Estado.
Se essas escolhas se confirmarem, o governador eleito estará "desalojando" o grupo de Leite. Na política desde 1983, ele ingressou na Câmara Municipal em 1997 após vencer sua primeira eleição com 33 mil votos. No ano passado foi reeleito presidente da Casa.
Um ano antes, o vereador, que tem um filho deputado estadual e outro federal, fez um acordo com o PSDB. Então candidato à reeleição na capital, o prefeito Bruno Covas decidiu entregar a vaga de vice em sua chapa ao MDB de Ricardo Nunes, e não ao União Brasil, como estava previsto. Como compensação, Leite indicou para a presidência da Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp) o engenheiro Milton Persoli. O atual secretário de Transporte e Logística, João Otaviano, também foi indicação do vereador.
Um dos primeiros partidos a declarar apoio a Tarcísio no segundo turno, o União Brasil fez chegar ao governador eleito a mensagem de que gostaria de manter a pasta em sua área de influência. O Republicanos, partido de Tarcísio, também sinalizou interesse em comandar a secretaria e autarquias ligadas a ela.
"Deve haver uma releitura completa dos cargos de primeiro escalão, que serão renovados. Na área de infraestrutura e transportes, os nomes serão técnicos. Tarcísio não acolheu bolsonaristas quando estava no ministério. É próxima de zero a chance de ele manter os cargos na infraestrutura em São Paulo", disse o vice-governador eleito, Felício Ramuth (PSD).
No governo paulista, a pasta dos transportes responde pelos maiores contratos do governo em obras como o Rodoanel, a duplicação da Rodovia dos Tamoios e a recuperação de vicinais. "Na área de transportes, a influência política muitas vezes vai contra o bom planejamento técnico e não segue linhas metodológicas. O transporte faz parte da vida das pessoas. Tarcísio, que fez isso no ministério, vai encontrar resistências em São Paulo, mas o caminho é esse", disse o engenheiro de Transportes Marcus Quintella, diretor da FGV Transportes.
Procurado, Milton Leite, que na semana passada ocupou o cargo de prefeito interino, disse que o União Brasil não discutiu espaços no governo. "Caso ele (Tarcísio) convide, vamos avaliar", afirmou.
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