Brasil

Tarcísio diz que temor de saques dificulta remoção de moradores de áreas de risco

Governo estadual quer autorização da Justiça para tirar moradores de encostas à força 'em último caso'

Chuvas no litoral paulista: moradores temem perder tudo o que deixaram (Prefeitura de São Sebastião/ Facebook/Reprodução)

Chuvas no litoral paulista: moradores temem perder tudo o que deixaram (Prefeitura de São Sebastião/ Facebook/Reprodução)

Agência o Globo
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 22 de fevereiro de 2023 às 14h03.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou na manhã desta terça-feira que há moradores em áreas de risco que têm se recusado a sair das casas condenadas ou voltado aos imóveis por medo de saques. O governo de São Paulo já tem 80 policiais da tropa de choque para impedir furtos em áreas de risco. Nesta quarta, chegarão outros 300 homens para reforçar a segurança.

"A pessoa conseguiu aquela casa com sacrifício e se apega, não quer sair daquela casa, é tudo o que ela tem. Você consegue às vezes remover a pessoa para um abrigo e ela recebe a notícia que saquearam as coisas dela e ela quer voltar para casa e não sai de jeito nenhum", explicou Tarcísio, para exemplificar a dificuldade da Defesa Civil em retirar moradores de regiões condenadas.

O governo do Estado pediu à Justiça uma liminar que permita a possibilidade da remoção compulsória de quem se negar a deixar imóveis condenados na região, mas Tarcísio tem afirmado que isso ocorreria apenas "em último caso", após esgotadas negociações.

"Obrigar é muito complicado, a gente vai vir com a assistência social (primeiro), com Defesa Civil, tentando convencer a pessoa a sair", disse. Paralelamente, o governo tem formatado um programa de habitação com a possibilidade de participação privada que Tarcísio quer replicar em outras áreas de risco.

O governador tem repetido que quer transformar a resposta ao caso de São Sebastião em referência de política pública habitacional. Para isso, disse ao GLOBO que o governo estadual vai coordenar a formulação de "bons planos diretores" junto a municípios paulistas e a fiscalização das regras. O governo estadual estuda, ainda, modelos para incluir a iniciativa privada em projetos de habitação popular, por meio de parcerias público-privadas, por exemplo.

Estradas desobstruídas

O governador reforçou ainda o pedido que já havia feito antes para turistas aproveitarem o bom tempo e deixarem o litoral norte de São Paulo.

A estrada entre a Barra do Sahy, bairro de São Sebastião mais afetado pelas chuvas, e o centro da cidade está desobstruída. Segundo o governador, é possível deixar o litoral por meio da Rodovia dos Tamoios, onde uma das faixas foi revertida no sentido contrário para dar fluxo à saída rumo ao interior do estado. Mais de 7 mil veículos deixaram o litoral na terça-feira.

Um dos últimos trechos liberados na rodovia Rio-Santos, na manhã da terça-feira, foi entre as praias de Boiçucanga e Maresias, no sul de São Sebastião. Após a remoção de lama, destroços e árvores que bloqueavam a via, carros puderam deixar o local emergencialmente, durante o tempo de céu aberto. O temporal deu uma trégua no domingo, mas a chuva voltou a cair na tarde da terça.

"A recomendação é a mesma de ontem: aproveitar a janela de tempo bom para se deslocar. Estamos com a Barra do Sahy até São Sebastião desobstruída. Tem alguns pontos de retenção, operando em faixa única em alguns trechos", declarou Tarcísio.

A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) restabeleceu a ligação de água nas regiões afetadas, de acordo com o governador. Todas as estações de tratamento de água do Litoral Norte estão funcionando — a última retomada foi a de Boiçucanga, praia de São Sebastião.

Milhares de litros de água potável estão sendo distribuídos aos moradores ilhados: 108 mil copos d'água e quase 40 mil litros em caminhões-pipa. Há relatos de garrafas d'água sendo comercializadas a preços abusivos desde as fortes chuvas no sábado, que já deixaram 48 mortos, 38 desaparecidos e milhares de desalojados e desabrigados.

"Ninguém precisa comprar água. Ninguém precisa pagar R$ 90, R$ 100 por água mineral, pelo amor de Deus", disse ele.

Tarcísio deve se encontrar nesta tarde com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), com quem deve conversar sobre enfrentamento e prevenção às mudanças climáticas. O governo de São Paulo pretende aproveitar a repercussão e a mobilização em torno do desastre para discutir investimentos e planejamento para evitar novas tragédias.

Acompanhe tudo sobre:ChuvasDeslizamentosEstado de São PauloTarcísio Gomes de Freitas

Mais de Brasil

Ações isoladas ganham gravidade em contexto de plano de golpe, afirma professor da USP

Governos preparam contratos de PPPs para enfrentar eventos climáticos extremos

Há espaço na política para uma mulher de voz mansa e que leva as coisas a sério, diz Tabata Amaral

Quais são os impactos políticos e jurídicos que o PL pode sofrer após indiciamento de Valdemar