Brasil

Suspensão de compra de petróleo russo pode ser moeda de troca em negociações com EUA

Senadores brasileiros ouviram de congressistas norte-americanos que a relação com a Rússia 'precisa ser alterada'

Tarifaço: senadores brasileiros buscam apoio de senadores norte-americanos para negociar as tarifas (Nelsinho Trad/ Flickr)

Tarifaço: senadores brasileiros buscam apoio de senadores norte-americanos para negociar as tarifas (Nelsinho Trad/ Flickr)

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 30 de julho de 2025 às 08h28.

Última atualização em 30 de julho de 2025 às 08h29.

Tudo sobreEstados Unidos (EUA)
Saiba mais

Em meio às conversas para um adiamento da tarifa de 50% sobre os produtos nacionais, imposta pelo presidente Donald Trump, a comitiva de senadores brasileiros ouviu de parlamentares americanos que o Brasil “precisa rever a relação” com a Rússia.

No relato do encontro, os senadores afirmaram que há uma pressão para reduzir ou interromper a importação de combustíveis vindos do país euro-asiático. A delegação brasileira respondeu às reclamações com propostas técnicas e reafirmou o compromisso com a transparência regulatória já existente.

Senadores norte-americanos democratas e republicanos sugeriram a criação de mecanismos para garantir rastreabilidade da origem do petróleo, e indicaram que o tema deve ser analisado após o recesso.

Em 2024, o Brasil importou US$ 5,4 bilhões de diesel russo — um dos países que mais importou no período. O número também representou um recorde na balança comercial, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Hoje o Brasil está entre os principais compradores dos russos.

Propostas tarifárias entre EUA e Brasil

Um projeto de lei americano, com apoio de quase todo Senado dos Estados Unidos, propõe tarifas de até 500% sobre importações de países que compram petróleo, gás e urânio da Rússia.

No início do mês, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) indicou em comunicado que o Brasil, China e Índia podem enfrentar medidas punitivas caso mantenham os atuais níveis de comércio com a Rússia.

Trump também ameaça Moscou com uma tarifa de 100% caso um acordo de cessar-fogo com a Ucrânia não seja concretizado nas próximas semanas.

Proibida de exportar para a Europa desde o início da guerra para a Ucrânia, Moscou buscou mercados alternativos para escoar o produto, com preços abaixo do mercado.

Apoio republicano

Participaram da reunião os senadores Carlos Viana (Podemos-MG), Jaques Wagner (PT-BA), Rogério Carvalho (PT-SE), Esperidião Amin (PP-SC), Teresa Cristina (PP-MS), Marcos Pontes (PL-SP) e Fernando Farias (MDB-AL).

Os brasileiros tiveram reuniões com os senadores Tim Kaine, Ed Markey, Mark Kelly, Chris Coons, Jeanne Shaheen, Martin Heinrich e Thom Tillis, além da deputada Sydney Kamlager-Dove, co-presidente do Brazil Caucus.

O senador republicano pela Carolina do Norte Thom Tillis afirmou que a tarifa pode ser adiada, diante de ações judiciais em curso. Na conversa, também disse que considera a medida um erro político com efeitos negativos para produtores e consumidores dos dois países.

Os parlamentares relataram ainda que o senador disse que defendeu o Brasil com interlocutores do Departamento de Comércio e reforçou que a economia não deveria ser usada da maneira como conduz o presidente Trump.

Democratas organizam reação legislativa à tarifa

Os senadores Tim Kaine (Virgínia) e Ed Markey (Massachusetts) também se posicionaram contra a tarifa. Markey indicou medidas legislativas serão apresentadas para derrubar a Imposição da alíquota adicional. Kaine afirmou que pretende forçar uma deliberação do Senado, caso a notificação presidencial avance.

A principal preocupação dos congressistas americanos está relacionada com o preço de produtos como café e o suco de laranja.

Busca de isenções

Na segunda-feira, 28, a missão brasileira se encontrou com empresários de diversos setores, como o agronegócio, indústria de transformação, saúde e energia. Também ocorreram encontros com líderes empresariais e representantes do Brazil-U.S. Business Council.

Como mostrou a EXAME, o grupo brasileiro tem buscado a defesa de isenções pontuais à nova taxa. "O que está em jogo é que talvez possamos conseguir algumas exceções para determinados produtos, como o café e o suco de laranja, além de alguns manufaturados, como a Embraer", diz José Pimenta, diretor de Relações Governamentais e Comércio Internacional da BMJ Consultores e Diretor Executivo do Instituto Brasileiro de Comércio, Investimento e Sustentabilidade (IBCIS).

O mercado norte-americano recebe 30% das exportações de café do Brasil, enquanto o suco de laranja enviado aos EUA representa 42% das vendas brasileiras.

Em 2024, as exportações de frutas brasileiras para os EUA totalizaram US$ 148 milhões. A manga foi o principal item da cesta, com 36 mil toneladas exportadas e uma receita de US$ 45,8 milhões, representando 14% dos embarques brasileiros no período, de acordo com dados da Associação Brasileira de Frutas (Abrafrutas).

O comércio dos EUA com o Brasil tem superavit para os americanos. Pelos dados oficiais brasileiros, os EUA registraram um superávit de US$ 1,7 bilhão com o país no primeiro semestre deste ano, um aumento de cerca de 500% em relação a 2024. O comércio bilateral somou US$ 41,7 bilhões no acumulado de janeiro a junho de 2025. Os produtos mais importados pelo Brasil são motores e máquinas não-elétricas, óleos combustíveis e aeronaves

Acompanhe tudo sobre:PetróleoRússiaCombustíveisSenadoEstados Unidos (EUA)

Mais de Brasil

'É inaceitável a interferência na Justiça brasileira', diz Lula após sanções dos EUA a Moraes

Motta defende Alexandre de Moraes após sanções dos EUA contra ministro do STF

Após sanção dos EUA contra Moraes, STF diz que 'não se desviará do papel de cumprir a Constituição'

Gleisi diz que sanção contra Moraes é 'ato violento' e 'arrogante'