Ex-juiz Sergio Moro, pré-candidato à Presidência (Ueslei Marcelino/Reuters)
Agência O Globo
Publicado em 10 de março de 2021 às 08h06.
A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) retomou nesta terça-feira o julgamento do pedido de suspeição do ex-juiz Sergio Moro feito pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no caso do tríplex do Guarujá. A sessão foi encerrada com um empate em dois a dois, mas o resultado final ainda será alterado pelo voto do ministro Nunes Marques, que pediu vista para analisar o processo por mais tempo.
Veja abaixo os principais pontos em discussão e os próximos passos no STF.
Os ministros vão decidir se Moro atuou com parcialidade ao condenar Lula no caso do tríplex, analisado por ele na 13ª Vara Federal de Curitiba. Na segunda-feira, o relator da Lava-Jato, Edson Fachin, anulou todas as decisões tomadas pelo ex-juiz no Paraná e declarou a “perda de objeto” de processos que questionam a sua conduta nas ações contra o ex-presidente. Apesar da decisão monocrática, o ministro Gilmar Mendes incluiu na pauta desta terça a análise sobre a suspeição de Sergio Moro.
Gilmar Mendes foi o primeiro a votar pela suspeição do ex-juiz e fez duras críticas à condução da Lava-Jato no Paraná e no Rio. O magistrado afirmou que o caso representa o maior escândalo judicial da história brasileira e defendeu mudanças na estrutura da Justiça Federal. Gilmar ainda afirmou que houve falhas em conter abusos de Moro:
— Infelizmente, os órgãos de controle da magistratura nacional falharam em conter os primeiros arroubos de abusos do magistrado.
O ministro Ricardo Lewandowski acompanhou o voto de Gilmar e defendeu que houve abuso de poder na condução do processo em Curitiba. Lewandowski citou a invasão de um escritório de advocacia pela Polícia Federal para cumprimento de um mandado de busca e apreensão e também votou para determinar que Moro pague as custas processuais da ação penal do tríplex.
— Restou escancarada uma devida confusão entre as atribuições de julgar e acusar por parte do então magistrado Sergio Moro. E o pior, confusão esta motivada por razões mais do que espúrias.
O ministro Nunes Marques pediu vista — isto é, mais tempo para analisar o processo — e acabou determinando o adiamento do resultado sobre a suspeição de Sergio Moro. Nunes Marques tomou posse no STF em novembro passado e argumentou que não teve tempo suficiente para analisar o caso como os colegas. Ele garantiu que devolverá o caso para o colegiado com rapidez, mas não há uma data específica para que a pauta seja retomada.
— Todos os demais membros da Segunda Turma já são senhores no conteúdo deste processo. Já o conhecem e não teriam dificuldade de votar mesmo com processo sendo pautado com exíguo espaço de tempo. Então, senhor presidente, peço as devidas escusas a Vossas Excelências, mas preciso pedir vista para analisar o conteúdo desse processo.
Edson Fachin e Cármen Lúcia já haviam decidido rejeitar o pedido da defesa do ex-presidente, antes de Gilmar pedir vista do processo e suspender o julgamento, em 2018. Apesar da posição anterior favorável ao ex-juiz, nesta terça-feira Cármen Lúcia indicou que pode alterar o seu posicionamento. Após o pedido de vista, a ministra afirmou que tinha um voto escrito pronto para ser proferido, mas aguardaria Nunes Marques devolver o caso ao plenário da turma. Fachin também anunciou que fará uma nova manifestação do seu voto, deixando o placar final incerto.
Caso a Segunda Turma declare a suspeição de Moro, o assunto deverá ganhar um novo capítulo. Por ter decidido que a ação tinha perdido o objeto, Fachin suscitou uma questão de ordem e soliticou a intervenção do presidente do STF, Luiz Fux. De acordo com o colunista Lauro Jardim, o assunto será remetido ao plenário da Corte, para nova votação.