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Subsolo de SP tem água para abastecer 1,8 milhão

Os aquíferos da região metropolitana têm capacidade para produzir até 16 mil litros de água por segundo, mas 40% dos recursos não são aproveitados

Vista do coletor de água no sistema de abastecimento de água da Cantareira na represa de Jaguari em Joanópolis (Paulo Whitaker/Reuters)

Vista do coletor de água no sistema de abastecimento de água da Cantareira na represa de Jaguari em Joanópolis (Paulo Whitaker/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2014 às 11h01.

São Paulo - Enquanto observa seus principais reservatórios secarem diante da pior crise de estiagem da história, a Grande São Paulo contabiliza debaixo da terra um volume de água inutilizado que seria suficiente para abastecer cerca de 1,8 milhão de pessoas.

Segundo estudo do Centro de Pesquisa de Águas Subterrâneas (Cepas) do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP), os aquíferos da região metropolitana têm capacidade para produzir até 16 mil litros de água por segundo, mas 40% dos recursos não são aproveitados.

Os cálculos apontam hoje para a existência de aproximadamente 12 mil poços privados em operação na região, cerca de 60% clandestinos, que retiram dos aquíferos cerca de 10 mil litros por segundo para abastecer, predominantemente, indústrias, condomínios, hotéis, hospitais e clubes, entre outros.

Com a diferença de 6 mil litros por segundo que estão "ociosos" no subsolo, seria possível abastecer, juntas, as populações de Guarulhos e Mauá, cidades que decretaram racionamento por causa da seca nos Sistemas Cantareira e Alto Tietê. Cada mil litros por segundo abastecem 300 mil habitantes.

Se fosse aproveitada integralmente, a reserva subterrânea seria o segundo maior manancial da Grande São Paulo, ficando à frente dos Sistemas Alto Tietê (15 mil l/s) e Guarapiranga (14 mil l/s) e atrás apenas do Cantareira, que tem capacidade de produzir 33 mil litros por segundo, mas opera atualmente com 21 mil litros por segundo.

Os cálculos consideram a disponibilidade de água subterrânea nos aquíferos sedimentar e cristalino da região densamente urbanizada, que corresponde a 40% da Grande São Paulo.

"Estamos falando de um volume de água expressivo que nem entra na contabilidade dos órgãos oficiais na hora de se planejar o consumo de água. As águas subterrâneas são completamente desprezadas, embora garantam segurança hídrica à região. Se os usuários privados resolvessem abandonar os poços e migrar para o sistema público, a gente veria o colapso do sistema de abastecimento", afirmou o diretor do Cepas, Reginaldo Bertolo.

Segundo ele, as águas subterrâneas apresentam em geral boa qualidade química e são aptas para o consumo humano. Um dos motivos é o fato de que parte da recarga dos aquíferos resulta de vazamentos de água já tratada na rede de distribuição da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), que desperdiça cerca de 30% da produção no trajeto até os imóveis.

Recarga

Análise feita em 2007 em um ponto de monitoramento na Vila Eulália, na zona leste da capital, constatou que dos 427 milímetros da recarga registrada no poço durante um ano, 244 milímetros, ou 57%, tinham características de água infiltrada da rede da Sabesp e os 183 milímetros restantes eram de água da chuva.

Segundo Bertolo, a crise da água, que se arrasta desde o início do ano, tem provocado uma enorme corrida por poços na zona leste de São Paulo, com cerca de 400 poços perfurados no período de um ano.

O pesquisador alerta, contudo, que a Grande São Paulo tem áreas com alto risco de contaminação, seja pela poluição industrial do solo, como na região do Jurubatuba, na zona sul da capital, ou pela infiltração da rede de esgoto. "Temos mais 100 áreas potencialmente com contaminação. Isso tem feito com que os poços sejam cada vez mais profundos", afirma.

Segundo o secretário estadual de Saneamento e Recursos Hídricos, Mauro Arce, o Estado está estimulando a abertura de poços durante a crise com isenção da taxa de esgoto que era cobrada dos usuários que não pagam conta de água.

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