Cannabis: Decisão do STJ autoriza plantio para fins medicinais no Brasil (David Trood/Getty Images)
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Publicado em 13 de novembro de 2024 às 19h01.
Última atualização em 13 de novembro de 2024 às 19h08.
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) autorizou o cultivo de cannabis sativa com baixos níveis de THC, destinada à fabricação de medicamentos e outros produtos para uso exclusivamente medicinal e industrial. A decisão, tomada nesta quarta-feira, 13, marca uma mudança importante para o setor de cannabis medicinal, que enfrentava uma ausência de regulamentação no país. O tribunal determinou ainda que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deve, em até seis meses, definir as normas específicas para o plantio.
A medida impõe às demais instâncias judiciais a obrigação de seguir a decisão do STJ e representa uma vitória para empresas de biotecnologia interessadas no mercado de produtos terapêuticos derivados da cannabis.
O cultivo no Brasil, até agora restrito devido a divergências entre a Anvisa e o Ministério da Saúde, agora tem um prazo formal para ser regulamentado, gerando expectativas para o desenvolvimento de novos produtos e o fortalecimento do mercado nacional de cannabis medicinal.
A relatora do caso, ministra Regina Helena Costa, defendeu a liberação do cultivo do “cânhamo industrial”, uma variante da cannabis com baixo teor de THC. Ela destacou que essa categoria possui efeitos terapêuticos comprovados e que a falta de regulamentação configura uma violação do direito fundamental à saúde.
Segundo a ministra, tratar o cânhamo industrial sob as mesmas normas que regem a cannabis de alto teor de THC ignora as diferenças científicas entre as duas variedades. A regulamentação pode reduzir custos de terapias à base de cannabis, criar empregos e incentivar a pesquisa científica no Brasil.
Para Costa, o setor medicinal de cannabis poderia, ao longo do tempo, fornecer tratamentos de menor custo para doenças como epilepsia, dores crônicas e outras condições. A decisão do STJ também indica um possível impacto econômico positivo, com atração de investimentos e geração de empregos no mercado de cannabis medicinal e industrial. O STJ reforçou a importância de a Anvisa cumprir o prazo de regulamentação para garantir que a decisão produza efeitos práticos.
Até agora, a ausência de regulamentação para o cultivo de cannabis medicinal resultava de discordâncias entre órgãos governamentais. Enquanto a Anvisa avaliava a viabilidade do plantio controlado em decisões anteriores, o Ministério da Saúde resistia à implementação. Esse impasse travava o desenvolvimento do mercado brasileiro, deixando o país dependente de produtos importados.
"Agora podemos plantar cannabis medicinal em escala industrial no país, o que reduz a dependência da importação e faz mais sentido, considerando a fertilidade do nosso território. Essa mudança corrige uma distorção no mercado e traz benefícios tanto para a saúde, com a redução de custos de produção, quanto para o meio ambiente, melhorando o solo e ampliando o acesso ao tratamento. Essa conquista tem impacto positivo em aspectos de saúde, política e ecologia", comenta o médico psiquiatra Alexandre Valverde.
Com o prazo estabelecido pelo STJ, o Brasil se aproxima do modelo regulatório de países como Estados Unidos e Canadá, onde o uso medicinal da cannabis já é consolidado.