Roubos: 63% dos casos registrados no estado de São Paulo são de roubo de celular (Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 11 de outubro de 2016 às 10h59.
São Paulo - O Estado de São Paulo registrou, até agosto deste ano, 52 casos a mais de roubo por dia, em comparação com o mesmo período do ano passado.
A média mensal (26.889 ou 896 por dia) é a maior de toda a série histórica da Secretaria da Segurança Pública, iniciada em 1996, ultrapassando o recorde anterior de 2014.
Metade dos crimes foi contra pedestres, muitos com criminosos em motos ou bicicletas, e os principais objetos roubados foram celulares.
Nas ruas do centro da capital, as diversas câmeras de segurança captam diariamente a ação de batedores de carteira e de jovens que, de bicicleta, furtam e roubam lojistas e clientes do comércio local.
Em comum, as imagens mostram sempre a vítima desatenta, mexendo no telefone celular, enquanto os criminosos preparam o bote.
"Estava andando com o celular na bolsa, só com os fones para fora, quando um cara chegou puxando os fios. Na hora, corri atrás dele, o que é errado. Não consegui pegar o cara. Meu celular começou a vibrar na bolsa, porque alguém estava me ligando, e eu vi que ele não tinha levado", contou a comerciária Chaiene Lima, de 23 anos.
O delegado seccional da região central da cidade, Marco Antonio Pereira, afirmou não haver diferença significativa no perfil das vítimas de roubo nas regiões da capital. O que muda, disse ele, é o perfil do ladrão.
"Nessas regiões de maior movimento de transeuntes, como o centro velho e a Avenida Paulista, o criminoso é, em geral, alguém mais amador, que se aproveita da oportunidade, quando vê um celular ou valores fáceis de serem roubados", disse. "Mas em regiões de maior poder aquisitivo, em que a vítima pode estar de carro, o criminoso é mais profissional, se podemos chamar assim. É alguém que está armado, que pode entrar em uma casa, roubar um carro. É alguém cuja prisão exige maior investigação. Mas os dois tipos têm sido presos."
Dados da Secretaria da Segurança mostram que seis em cada dez ocorrências terminam com o celular sendo levado da vítima, enquanto que em 49% das vezes documentos estão entre os itens perdidos; dinheiro só foi roubado em cerca de 11% das ocorrências neste ano. Comércios e casas são os alvos em 6% e 3% das vezes, respectivamente. A área do 78.º DP (Jardins) é a terceira com maior aumento dos assaltos em toda a cidade, saindo de 1.126 registros, de janeiro a agosto de 2015, para 1.446 no mesmo período de 2016. A explicação para o aumento pode estar no maior fluxo de pessoas na Avenida Paulista nos domingos para lazer.
Especialistas ponderam a dificuldade de se investigar esse tipo de ocorrência, pedem um esforço para a criação de alternativas de enfrentamento e minimizam o argumento de que a crise seja a responsável pelo crescimento da criminalidade, justificativa dada pelo secretário da Segurança, Mágino Alves Barbosa Filho, em setembro.
Diretor executivo do Instituto Sou da Paz, Ivan Marques pediu análise dos dados para ações efetivas. "A melhor estratégia é a que usa as manchas criminais, o que a polícia já faz. Resta saber se de fato tanto a PM vem trabalhando na parte ostensiva quanto a Polícia Civil tem se concentrado em atacar a raiz do problema", disse.
Para o promotor e professor da Universidade Mackenzie Fabio Ramazzini Bechara, é "arriscado" atribuir o aumento dos roubos à crise. "Assim, encontra-se argumento para justificar qualquer situação de implicação no campo patrimonial."
A Secretaria da Segurança Pública informou que o policiamento na região metropolitana, área em que os roubos mais aumentaram, está sendo readequado para coibir esse tipo de crime. "A Polícia Militar atua em todo o Estado por meio de análise dos índices criminais, planejamento estratégico dinâmico e emprego do seu efetivo operacional distribuído em diversos programas de policiamento."
A pasta diz que as polícias estão atentas aos índices. "O trabalho resultou na prisão em flagrante de 31.131 pessoas de janeiro a agosto na capital, aumento de 18,9% em relação ao mesmo período de 2015." A secretaria ponderou que o esforço permitiu que nos primeiros oito meses de 2016 o total de roubos na capital, por exemplo, fosse 3,8% menor do que em 2014. A administração disse ainda adotar medidas para combater roubo de celulares, como a inclusão do IMEI (número de identificação do aparelho) no registro, visando a reduzir a revenda. Em 2016, 15.084 celulares furtados ou roubados foram apreendidos.
No fim de setembro, o secretário da Segurança, Mágino Alves Barbosa Filho, havia dito ver uma relação entre a crise econômica e o aumento dos casos. "O celular sempre foi um objeto caro e fácil de ser levado. O que pode estar acontecendo é que pessoas que não praticavam esses delitos passaram a cometê-los."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.