Infraero (Marcos Santos/USP Imagens/Divulgação)
Estadão Conteúdo
Publicado em 2 de outubro de 2017 às 10h36.
Brasília - Sob pressão dos aliados, o presidente Michel Temer adiou o plano de demitir o presidente da Infraero, Antônio Claret, mesmo depois que ele entrou em atrito com o governo. Claret foi indicado pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto, que, embora fora do Legislativo, dá ordens à bancada do PR.
O partido é considerado fundamental para ajudar Temer a barrar, na Câmara, a denúncia apresentada contra ele por organização criminosa e obstrução da Justiça.
A Infraero virou um feudo do PR, que integra o Centrão e também controla o Ministério dos Transportes. O jornal O Estado de S. Paulo mostrou, na quarta-feira, 27, que a estatal abriu 50 licitações, nas quais ofereceu 68 áreas para exploração comercial em 23 aeroportos.
A estratégia desagradou ao Palácio do Planalto e à equipe econômica porque, no caso dos aeroportos que serão concedidos à iniciativa privada, pode provocar impacto negativo nos lances propostos em leilão.
Em recente conversa com Temer, no Planalto, Costa Neto pediu a ele que suspenda a privatização do aeroporto de Congonhas, considerado a âncora financeira da Infraero.
Acompanhado do ministro dos Transportes, Maurício Quintella, o ex-deputado - condenado no mensalão - também cobrou a permanência de Claret, que está em confronto com os ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco.
Em carta enviada a Quintella, Claret chegou a dizer que o governo teria prejuízo com a concessão dos aeroportos. Irritado, o presidente cogitou dispensar o presidente da Infraero, mas foi aconselhado a aguardar o desfecho da votação da denúncia contra ele. A estatal sustenta que todas as licitações ocorrem dentro da lei.
Padrinho de Claret, Costa Neto atuou a favor do governo para conquistar votos e impedir a continuidade da primeira denúncia, por corrupção passiva, apresentada pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra Temer.
Com 38 deputados, a bancada do PR é a sexta maior da Câmara. Na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que examinará a acusação contra Temer, o partido tem cinco titulares e tanto pode ajudar como atrapalhar a sua vida. Até agora tem ajudado, mas cobra a "fatura" política.
A Secretaria dos Portos, comandada pelo PMDB, também é objeto de desejo do PR. Sob seu guarda-chuva está uma valiosa carteira de empreendimentos, incluindo seis prorrogações de contratos, com investimentos que somam R$ 723,5 milhões.
A pasta é dirigida por Luiz Otávio Campos, apadrinhado pelos senadores Jader Barbalho (PA) e Renan Calheiros (AL), ambos do PMDB.
Quintella e Campos não se dão. A cúpula do PR indicou dois nomes para a Secretaria dos Portos. Um deles é Fernando Melro Filho, secretário executivo do Ministério dos Transportes.
O outro, Luciano Castro, secretário nacional de Transportes Terrestres e Aquaviários. "Isso não procede. A Secretaria dos Portos é espaço do PMDB e vai continuar assim", desconversou Quintella.
Temer não concordou com a interrupção da privatização do aeroporto de Congonhas, considerada a "joia da coroa" das concessões, mas aceitou dar sobrevida a Claret.
Por enquanto, ele também não fará mudanças em Portos, para não contrariar Jader e seu filho Helder Barbalho, ministro da Integração Nacional. Se a indicação fosse exclusiva de Renan, Campos já teria saído, uma vez que Temer e o senador estão rompidos.
"Eu não indiquei ninguém para Portos. Isso é uma invenção. Michel não tem estatura para ocupar o cargo. É menor do que a cadeira", reagiu Renan.
Não é só o PR, porém, que pede "compensações" ao presidente para ajudá-lo a arquivar o prosseguimento da denúncia. O PP, o PSD, o PTB e o Solidariedade, que também compõem o Centrão, reivindicam mais espaço na Esplanada.
Entre outros cargos, estão de olho na Secretaria de Governo e no Ministério das Cidades, duas pastas sob controle do PSDB. Após muita pressão, o PP do senador Ciro Nogueira (PI) conseguiu conquistar a superintendência do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
A segunda denúncia contra Temer deve ser votada no plenário até o fim de outubro. "Hoje a insatisfação é muito grande. Se o governo não trabalhar muito, terá menos votos do que da outra vez", disse o deputado Paulo Pereira da Silva (SP), o Paulinho da Força, presidente do Solidariedade.
Em 2 de agosto, o placar da Câmara terminou com 263 votos contrários à primeira acusação que alvejou Temer. Para que a Câmara autorize o Supremo Tribunal Federal (STF) a processar o presidente é necessário o aval de 342 dos 513 deputados.
No comando da articulação para salvar o seu mandato, Temer abriu o gabinete e recebeu cerca de 70 parlamentares para conversas, na semana passada.
"Não dá para se afastar um presidente como se troca técnico de futebol", argumentou o deputado Beto Mansur (PRB-SP), vice-líder do governo na Câmara.
"O Brasil vive um processo de denuncismo sem prova. Tanto aquela denúncia como essa de agora são inócuas porque foram baseadas na delação do 'seu' Joesley (Joesley Batista, da JBS) e tudo isso é uma armação montada", completou ele.
O esforço do Planalto, agora, é para carimbar a atual crise como proveniente de uma "conspiração" para derrubar o presidente. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.