Novo presidente argentino, Mauricio Macri: Dilma convidou-o a "trabalhar juntos" por uma relação mais estreita (REUTERS/Enrique Marcarian)
Da Redação
Publicado em 4 de dezembro de 2015 às 08h35.
Brasília - A presidente Dilma Rousseff recebe hoje o presidente eleito da Argentina, Mauricio Macri, que iniciará sua agenda externa em um país convulsionado pelo início de um processo que pode levar à destituição da chefe de Estado.
O trâmite para o possível impeachment de Dilma foi autorizado ontem pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e terminou de contaminar o clima político em um Brasil mergulhado em uma profunda crise econômica que pode ter reflexos na Argentina, um de seus principais parceiros comerciais.
O conservador Macri ganhou as eleições do último dia 22 de novembro contra o governista Daniel Scioli, que tinha tido em sua campanha um velado apoio de Dilma e um ruidoso respaldo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Apesar disso, e de sua amizade com a presidente em fim de mandato, Cristina Kirchner, Dilma se comunicou com Macri no dia seguinte das eleições para felicita-lo por sua vitória e convidou-o a "trabalhar juntos" por uma relação mais estreita, tanto entre ambos países como no âmbito do Mercosul.
Macri, que assumirá o cargo no próximo dia 10 de dezembro, também manifestou sua intenção de avançar rumo a uma relação com o Brasil mais pragmática que ideológica e antecipou sua inclinação a dar um novo dinamismo à relação comercial com seu principal parceiro regional.
Nos últimos anos, apesar de sua proximidade com Cristina, Dilma não conseguiu convencer a governante argentina a suspender uma série de barreiras que prejudicam o comércio e que provocaram queixas também no Paraguai e no Uruguai, os outros dois sócios fundadores do Mercosul, ao qual em 2012 uniu-se a Venezuela.
A situação no membro caribenho do Mercosul será um dos assuntos que Dilma tratará amanhã com Macri, que disse que o bloco deve aplicar a esse país a chamada "cláusula democrática" por uma alegada falta de liberdade democrática e pela situação dos opositores presos.
Dilma se referiu à posição de Macri sobre a Venezuela esta semana e declarou que a "cláusula democrática" do bloco "não pode ser aplicada em função de hipóteses", mas sobre a base de "fatos concretos", que em sua opinião não se configuraram.
Se pode haver discórdias em relação à Venezuela, que no próximo domingo realizará cruciais eleições parlamentares, o governo brasileiro confia que não as haverá em torno do desejo de que ambos países e o Mercosul busquem novos horizontes para o comércio.
Segundo fontes oficiais, Dilma exporá a Macri a "prioridade" que seu governo atribui à larga e complexa negociação com a União Europeia (UE), bloco com o qual o Mercosul combinou uma troca de ofertas para o final deste ano que ainda não tem uma data decidida.
No domingo passado, o secretário de Estado de Comércio da Espanha, Jaime García-Legaz, disse em Bruxelas que no Conselho de Ministros da UE há uma maioria "amplíssima" de membros favoráveis ao acordo, mas que a França se opõe devido à "falta de ambição" do Mercosul.
Após ser recebido por Dilma no Palácio do Planalto, em Brasília, Macri viajará para São Paulo para uma reunião com diretores da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, não ocultou seu entusiasmo pela eleição de Macri e nesta quarta-feira exaltou a "visão liberal" do próximo presidente argentino.
"O governo deve ser mais leve, mais ágil e eficiente, deve-se pagar menos impostos e Macri, pelo que manifestou até o momento, concorda conosco", afirmou Skaf, que também defendeu uma maior abertura comercial "sem barreiras imaginárias".
De São Paulo, o presidente eleito da Argentina viajará depois para Santiago, onde amanhã mesmo será recebido pela governante chilena, Michelle Bachelet.