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Só vimos a ponta do iceberg do coronavírus no Brasil, diz infectologista

À EXAME Research, Celso Granato, infectologista e diretor do grupo Fleury, e Fernando Reinach, biólogo, analisaram a pandemia de coronavírus no Brasil

Vista da cidade de São Paulo: 91,6% das pessoas infectadas nos seis bairros mais afetados pela doença na capital não constam nas estatísticas oficiais (Rubens Chaves/Divulgação)

Vista da cidade de São Paulo: 91,6% das pessoas infectadas nos seis bairros mais afetados pela doença na capital não constam nas estatísticas oficiais (Rubens Chaves/Divulgação)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 20 de maio de 2020 às 18h06.

Última atualização em 20 de maio de 2020 às 19h00.

A gravidade da pandemia do novo coronavírus ainda está longe de conhecida no Brasil. “Só vimos a ponta o iceberg, que é o número de pessoas que morrem e o número de pessoas que foram aos hospitais”, disse Celso Granato, infectologista e diretor do grupo Fleury.

De acordo com o especialista, a falta de dados dificulta que o poder público consiga estabelecer medidas de contenção e justificar o isolamento. “É uma situação incômoda, trabalhamos totalmente no escuro”, notou ele sobre as dificuldades existentes para o desenvolvimento de estratégias contra a doença.

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Granato está à frente de um dos primeiros estudos que mapearam a infecção por covid-19 na cidade de São Paulo e que revelou um percentual impressionante: 91,6% das pessoas infectadas nos seis bairros mais afetados pela doença na capital não constam nas estatísticas oficiais.

Ao lado de Fernando Reinach, biólogo que também atuou na coordenação desse estudo, o infectologista participou de uma live da EXAME Research na tarde desta quarta-feira, 20, sobre os resultados dessa pesquisa e as perspectivas da pandemia no Brasil.

A pesquisa conduzida pelos especialistas tinha como objetivo entender quantas pessoas na cidade de São Paulo já foram infectadas pela doença e, portanto, têm os anticorpos da covid-19. “Foi um estudo piloto, não olhamos para toda a cidade, mas os seis bairros mais afetados: Morumbi, Bela Vistra e Jardim Paulista, campeões em número de casos, e Pari, Belém e Água Rasa, os que concentram o maior número de mortes”, explicou Reinach.

“Nos concentramos no olho do furacão, mas os números já estão ultrapassados e, por isso, vamos conduzir esse levantamento mensalmente, agora em toda a cidade, para poder acompanhar de perto o crescimento no número de infectados pela doença”, continuou o biólogo. "E a velocidade com a qual esse número irá crescer depende das pessoas, está nas mãos delas. Se relaxarem o isolamento, a velocidade será maior. Se ficarem em casa, será menor."

O isolamento social na capital é um dos pontos centrais na questão do agravamento da pandemia. Há semanas, a prefeitura tenta implementar medidas que incentivem as pessoas a permanecer em suas casas. Até o momento, no entanto, a adesão ao isolamento social em São Paulo não passou dos 60%, abaixo do que é indicado por especialistas, que é 70%. Nesta quarta-feira, 20, a cidade registrava 69.859 casos e 5.583 mortes da doença.

"As pessoas que estão morrendo agora ou chegando aos hospitais se contaminaram há um mês, quando houve um relaxamento total no isolamento social. Se tomarmos uma medida radical agora, os resultados só irão aparecer no mês que vem", explicou Reinach.

Esse xadrez se mostra complexo quando se fala na necessidade de se adotar uma medida mais restritiva, como o lockdown, ideia que vem tomando força no estado de São Paulo.

"Doença de transmissão respiratória é algo difícilimo de conter. Então, dizer qual a hora certa de uma cidade fechar é uma decisão complicada. Se fecha muito antes de a doença ganhar tração, você tem um problema econômico. Se fecha muito depois, tem problema na saúde", notou Granato. "Qual é o momento certo de fazer isso? Essa é a pergunta de um milhão de dólares", completou o especialista.

Veja o papo com EXAME Research na íntegra no vídeo abaixo:

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