Candidatos à Presidência do Brasil: casas de aposta incluíram lances para quem acertar o vencedor (Globo/ João Miguel Júnior/Divulgação)
Carolina Riveira
Publicado em 1 de outubro de 2022 às 15h34.
Última atualização em 1 de outubro de 2022 às 15h40.
Ganhando força no Brasil para disputas esportivas, as apostas online incluíram neste ano estimativas para outro Fla-Flu nacional: a eleição presidencial.
Os principais sites do segmento operando no Brasil e no exterior adicionaram antes do pleito campos para quem quiser apostar dinheiro na vitória de um ou outro candidato ao Planalto, com as principais casas trazendo as vitórias de Jair Bolsonaro (PL), Lula (PT) ou Ciro Gomes (PDT) entre as mais cotadas.
Uma recompensa só é paga ao apostador se o candidato escolhido vencer a eleição nas urnas. A remuneração ocorre de acordo com as chamadas "odds" (algo como "chances", em inglês): como já acontece nas apostas esportivas, a recompensa é menor para os competidores "favoritos", porque apostar neles é, na teoria, menos arriscado.
Até a tarde deste sábado, 1º de outubro, no fechamento desta reportagem, as odds nos principais sites eram de pouco mais de 1 para Lula e pouco mais de 2 para Bolsonaro.
Para Ciro Gomes, houve mais variação, com odds indo de pouco mais de 40 para até mais de 200 a depender da empresa intermediadora (veja no gráfico abaixo).
Assim, a odds de 200, quem apostar R$ 10 em Ciro poderia hipoteticamente embolsar R$ 2 mil no caso de vitória do candidato, enquanto perderia os R$ 10 no caso de derrota do pedetista (os valores exatos dependem das condições de pagamento dos sites, como cotas mínimas, entre outros).
Os múltiplos são atualizados constantemente e variam a depender das novas informações e projeções. Ricardo Bianco Rosada, diretor de marketing da casa de apostas Galera.bet, explica que, no caso das eleições, as pesquisas de intenção de voto são um dos principais nortes, no Brasil e no exterior: o pagamento é maior para alguns casos porque, segundo as projeções, parece mais improvável que aquele evento aconteça.
"No caso de apostas políticas no Brasil, as pesquisas eleitorais – que seguem a metodologia científica – são, de maneira geral, o principal indicador de probabilidade", diz Rosada.
Embora alguns valores saltem aos olhos, o modelo implica que o apostador derrotado perde tudo. Autoridades e campanhas de conscientização das casas de aposta apontam que só se deve apostar um valor irrelevante, que o apostador não se importe em perder.
As apostas online começaram a ganhar corpo no Brasil a partir da lei 13.756, de 2018, que fez com que a prática deixasse de ser ilegal e permitiu operações locais.
No Betfair, um dos maiores sites de apostas, havia globalmente na tarde de sábado R$ 32,4 milhões apostados na eleição presidencial brasileira no acumulado (as apostas também podem vir do exterior). O site Casa de Apostas aponta que a procura por apostas relacionadas à eleição presidencial subiu 50% nesta semana, a última antes do primeiro turno.
"Assim como nas apostas esportivas, as políticas apresentaram um crescimento interessante nos últimos dias, justamente pela reta final de campanha e proximidade do pleito", diz Hans Schleier, diretor de marketing da Casa de Apostas.
"Em mercados maduros as apostas são muito amplas e alcançam os mais diversos campos da sociedade", diz o executivo. "É comum vermos odds para eleições, comportamentos e até discursos."
Apostas políticas são um mercado mais tradicional sobretudo no Reino Unido, onde os lances para escolha de primeiros-ministros ou até prefeitos e outros cargos movimentam milhões de libras.
Um dos marcos, dizem as empresas, foi o ano de 2016, em que ocorreu primeiro a vitória do Brexit, opção pela saída do Reino Unido da União Europeia, e semanas depois, nos Estados Unidos, a vitória de Donald Trump na eleição presidencial contra Hillary Clinton.
"Os dois casos chamaram a atenção especialmente porque tiveram resultados, de certa forma, inesperados", explica Rosada, do Galera.bet.
Nas últimas eleições presidenciais dos EUA em 2020, entre Trump e Joe Biden (que terminou vencendo), o embate foi descrito por executivos do setor na Europa como tendo os maiores valores para uma eleição na história, mais que o dobro da eleição de 2016 e perdendo só para grandes eventos esportivos. As estimativas na ocasião projetaram mais de US$ 1 bilhão movimentados em apostas em todo o mundo, segundo reportaram empresas do setor à agência AFP.
Globalmente, os principais eventos do setor são ainda no futebol. Neste sábado, os sites mostravam em destaque no Brasil seção de apostas para confrontos como São Paulo x Independiente, do Equador, pela final da Copa Sul-Americana (os apostadores estão mais confiantes nos equatorianos: as odds para o time campeão eram cotadas a 3,0 para o Independiente e 1,33 para os tricolores no BetFair).
Nas eleições, por ora, parte das apostas dos brasileiros virá de forma menos digital. Na internet, viralizaram nas últimas semanas histórias como a do empresário "Artuzinho", no Maranhão, que apostou cavalo, carro e até chácara na vitória de Lula, enquanto seus oponentes apostaram milhares de reais no triunfo do presidente Bolsonaro. As apostas foram registradas em vídeo nas redes sociais, e algumas até em contrato, segundo reportou o portal G1 — apesar do registro em cartório, a Justiça brasileira ainda não obriga o pagamento caso a parte perdedora não pague a aposta espontaneamente, mesma regra que vale para os tradicionais bolões de futebol ou outras apostas informais.
Enquanto isso, no Brasil ou lá fora, as apostas políticas continuam. Nos sites especializados, os lances já começaram até para as próximas eleições presidenciais dos EUA, ainda que só ocorram em 2024 e muito possa mudar até lá. No Betfair, globalmente, foram mais de R$ 9 milhões apostados até agora no pleito. E contando.