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Sextou sem destilados: intoxicação por metanol faz 'baladas' de SP suspenderem vendas de drinks

Organizadores de festas, casas noturnas, bares e restaurantes decidiram banir, temporariamente, bebidas destiladas de seus cardápios

Estabelecimentos não registraram casos de intoxicação: medida é preventiva (Veja São Paulo)

Estabelecimentos não registraram casos de intoxicação: medida é preventiva (Veja São Paulo)

Mitchel Diniz
Mitchel Diniz

Editor de Invest

Publicado em 3 de outubro de 2025 às 09h34.

Última atualização em 3 de outubro de 2025 às 10h51.

Negroni, Aperol Spritz, Fitzgerald. São opções que não podem faltar na carta de drinks da noite paulistana. Pelo menos era assim até agora. Os casos crescentes de intoxicação por metanol levaram casas noturnas e organizadores de festas a banir doses e coquetéis com destilados como gin, vodca e whisky. Os ambientes vão comercializar opções prontas para beber, como drinks enlatados, cervejas e fermentados — ainda que não tenham registrado qualquer caso de intoxicação.

"Tomamos a decisão de não servir drinks feitos com doses", diz postagem do perfil da festa Rebobinights, marcada para esta sexta-feira, 3, em uma casa noturna da zona leste de São Paulo.

O promotor de eventos Romulo Pellizzaro, organizador da festa, disse que a decisão de suspender a venda de destilados partiu da própria produção e não do Komplexo Tempo, onde o evento será realizado. "Eles nos deram liberdade de fazer essa escolha".

"Ficamos assustados e muito preocupados desde que as notícias começaram a pipocar, poucos frequentadores chegaram a manifestar preocupação diretamente para nós mas o medo está no ar", admite Pellizzaro.

"Como produtor tenho plena confiança nos meus fornecedores e no meu processo de compra de bebidas, mas também sinto que as investigações estão muito inconclusivas. [...]

No texto, os organizadores da festa, que ocorre há 10 anos, afirmam que sempre adquiriram bebidas em fabricantes e distribuidores oficiais, com nota fiscal, lacradas e selo de autenticidade. Porém reconhecem que o momento é de "redobrar atenção e o cuidado".

"Confiamos que as autoridades irão solucionar a situação com agilidade e oferecer uma resposta definitiva à sociedade, para que tudo volta ao normal, o mais breve possível".

‘Já estamos vendendo bem menos drinques’, diz dono de bares em meio à crise do metanol

A VHS Club, festa que será realizada neste sábado, 4, em um espaço na zona oeste de São Paulo, também avisou em suas redes uma decisão semelhante. "Não haverá venda de doses de destilado, nem drinks feitos na hora", diz a postagem em seu perfil no Instagram. Serão vendidas apenas cervejas e drinks enlatados.

"Até o momento, não há casos conhecidos de contaminação em fermentados ou bebidas mistas", explicam os organizadores no texto. O Zig Studio, casa noturna onde a festa vai acontecer, esclareceu que todas as bebidas são provenientes de fabricantes autorizados e homologados, acompanhadas de nota fiscal, selo de procedência e dentro de normas de segurança. "Isso também se aplica às bebidas previamente enlatadas".

A suspensão de venda de destilados não ocorre somente em eventos pontuais. A Casa de Francisca, de Rubens Amatto, espaço cultural, bar e restaurante localizado no centro antigo da capital paulista, decidiu suspender temporariamente a venda desses drinks.

"A partir de hoje disponibilizaremos apenas opções de bebidas alcóolicas fermentadas com vinhos, chopes e espumantes, que permanecem assegurados e dentro de nossa política de qualidade e segurança", informou a casa, também em comunicado nas redes sociais.

"Essa é uma medida provisória que permanecerá em vigor até que haja uma posição mais objetiva e segura das autoridades competentes. Nosso objetivo é garantir a tranquilidade e a proteção de nosso público", diz a nota.

O Bistrô Reserva, restaurante do Cinema Reserva Cultural, na Avenida Paulista, também anunciou a suspensão de venda de bebidas destiladas, sejam em doses ou drinks, "enquanto seguem as investigações".

"Esta é uma medida preventiva, que reforça nosso compromisso com a confiança e a transparência. Assim que for possível, retomaremos o serviço normalmente", afirmou a casa, em suas redes sociais, também ressaltando que adquire produtos de fornecedores oficiais e certificados. "Nenhum dos nossos clientes foi exposto a qualquer risco".

Qual é a recomendação do Ministério da Saúde?

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, recomendou nesta quinta-feira que as pessoas evitem consumir bebidas alcoólicas destiladas caso não tenham a "absoluta certeza" da sua origem. De acordo com Padilha, o cuidado deve ocorrer principalmente com as bebidas destiladas transparentes.

"Na condição de ministro e como médico a recomendação é que evite ingerir produto destilado, sobretudo os incolores, que não tenha absoluta certeza da origem dele. Não estamos falando de um produto essencial na vida das pessoas."

Padilha anunciou que há 48 casos suspeitos de intoxicação, em três estados. Além de São Paulo e Pernambuco, também foi registrado nesta quinta um caso em Brasília, do rapper Hungria.

Há ainda 11 casos em que a contaminação pela substância já foi confirmada, em São Paulo e Pernambuco, totalizando 59.

Antídoto contra metanol

A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo informou nesta sexta-feira, 3, que começou a disponibilizar 2.500 mil novas ampolas de álcool etílico absoluto para o tratamento de pacientes intoxicados por metanol.

A medida visa assegurar a continuidade do atendimento a vítimas de envenenamento, que requerem esse antídoto nas primeiras horas após o consumo da substância. Segundo o governo, até então, os serviços de referência do estado paulista já contavam com 500 unidades em estoque.

“As primeiras horas após a ingestão de bebida alcoólica contaminada são decisivas para salvar vidas e o Estado de São Paulo está preparado com estoque do antídoto contra intoxicação por metanol” disse Eleuses Paiva, secretário de Estado da Saúde.

Além do reforço nas ampolas, a Secretaria de Saúde de São Paulo informou também que implementou uma melhoria na infraestrutura laboratorial, permitindo a análise de amostras de sangue ou urina em até uma hora.

O Laboratório de Toxicologia Analítica Forense (LATOF), da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto, realiza a detecção da substância por cromatografia gasosa, um método altamente eficaz. A coleta é feita nas unidades de saúde e o Instituto Adolfo Lutz coordena o transporte das amostras até o laboratório.

Até o dia 2 de outubro, o estado confirmou 11 casos de intoxicação por metanol, com um óbito.

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