Sergio Vale, da MB Associados: "Teremos um Congresso majoritariamente de centro-direita. Com Lula na Presidência, ele precisará negociar bastante para manter a governabilidade" (Twitter/Reprodução)
Leo Branco
Publicado em 2 de outubro de 2022 às 20h49.
Última atualização em 2 de outubro de 2022 às 20h56.
O economista-chefe da MB Associados Sergio Vale vê um cenário de segundo turno entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) muito mais disputado do que o previsto pelas pesquisas eleitorais. O cenário deve forçar uma guinada para o centro do candidato petista nos próximos dias. "[O candidato Lula] vai ter de, por exemplo, anunciar já nas próximas semanas algum nome liberal como ministro da Economia", diz.
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Os resultados eleitorais estão mostrando uma disputa mais acirrada entre Lula e Bolsonaro do que mostravam as pesquisas. Qual o impacto disso para um futuro governo de cada um deles?
Um segundo turno mais disputado vai ter que forçar Lula a negociar mais com as forças de centro do que se estivesse ganhando já no primeiro turno — ou que fosse para o segundo com uma vantagem maior. Agora, Lula vai ter que conquistar eleitores ao centro. Vai ter que, por exemplo, anunciar já nas próximas semanas algum nome liberal como ministro da Economia. Na semana passada ele já sinalizou algo nessa linha ao reunir-se com Henrique Meirelles (presidente do Banco Central nos dois governos de Lula). Só que Lula vai ter que fazer mais disso.
Como o mercado verá essa movimentação?
Para o mercado tudo isso é positivo. Mostra um país conservador inclusive na economia. Mercado tende a gostar disso, pois força uma convergência de forças de esquerda e direita para o centro.
Tendo em mente o resultado para o Congresso até agora, como fica a agenda de reformas?
Fica mais difícil. Teremos um Congresso majoritariamente de centro-direita. Com Lula na presidência, ele precisará negociar bastante para manter a governabilidade. A agenda dele de desfazer reformas feitas pelo ex-presidente Michel Temer (MDB) poderá ficar pelo caminho. Vai faltar tempo para mudar a reforma trabalhista, por exemplo. Talvez ele consiga acabar com a regra do teto de gastos, que também é do interesse do Congresso, mas não muito mais do que isso.
Essa paralisia legislativa em função de resultados acirrados com candidatos muito polarizados lembra, em certa medida, o que ocorre nos Estados Unidos. É algo que pode acontecer também no Brasil?
Sim, tem um paralelo interessante aí. A paralisia na tomada de decisão nos Estados Unidos, em função de uma intransigência grande dos eleitores a opções contrárias, pode se repetir aqui. O próximo governo será tumultuado, seja lá quem vencer. Lula terá dificuldades em fazer reformas. Mesmo Bolsonaro eleito não imagino que tenha forças para grandes reformas. Dito tudo isso, aqui temos o Centrão. Esse grupo de parlamentares deve aderir ao próximo presidente, seja quem for, mas o custo das reformas deverá ser muito mais alto.