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Sérgio Moro, a arma anticorrupção do governo Bolsonaro

Após reunião com presidente eleito, magistrado afirmou que aceitou "honrado" o convite de assumir o Ministério da Justiça

Sérgio Moro: símbolo da luta contra a corrupção, o juiz é considerado um herói por milhões de brasileiros (Patricia Monteiro/Bloomberg/Getty Images)

Sérgio Moro: símbolo da luta contra a corrupção, o juiz é considerado um herói por milhões de brasileiros (Patricia Monteiro/Bloomberg/Getty Images)

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AFP

Publicado em 1 de novembro de 2018 às 12h26.

Última atualização em 1 de novembro de 2018 às 12h33.

Símbolo da luta contra a corrupção, o juiz Sérgio Moro, considerado um herói por milhões de brasileiros, foi convencido pelo recém-eleito presidente de extrema direita Jair Bolsonaro a assumir o superministério da Justiça e da Segurança Pública.

Após uma reunião nesta quinta-feira com o futuro chefe de Estado em sua residência no Rio de Janeiro, o juiz se disse "honrado" com o convite que ele aceitou.

Figura de proa da operação Lava Jato, que fez tremer os políticos de todos os espectros, é, sobretudo, o vilão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso a poucos passos de seu escritório em Curitiba.

Em julho de 2017 ele condenou o líder da esquerda brasileira a nove anos e meio de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Uma condenação confirmada em segunda instância e uma sentença ampliada para 12 anos e um mês em janeiro, e que ele começou a cumprir em abril.

Diante de um vasto sistema de desvio de fundos da Petrobras, o juiz não hesitou em mandar para a prisão quase todos os ex-diretores do grupo, depois intocáveis das finanças e da política, de esquerda, centro e direita, aqueles que não gozavam de foro privilegiado graças a seus cargos ministeriais ou legislativos.

Duelo em pessoa

Lula - que Jair Bolsonaro disse querer que "apodreça na prisão" - se tornou sua maior presa.

O interrogatório ao qual submeteu Lula em maio de 2017 foi um confronto entre dois universos que, no Brasil, parecem completamente distantes entre si: o que está saturado pela corrupção e o que está indignado pela miséria.

"Senhor ex-presidente, eu queria deixar claro que, embora existam algumas alegações nesse sentido, da minha parte não tem qualquer desavença pessoal em relação ao senhor ex-presidente. Quem vai definir o resultado [do julgamento] são as provas e a lei", afirmou Moro, antes de iniciar o interrogatório do fundador do Partido dos Trabalhadores.

Quando perguntado se se sentia responsável pelo esquema de propinas montado na Petrobras, Lula respondeu: "doutor Moro, o senhor se sente responsável de a Operação 'Lava Jato' ter destruído a indústria da construção civil nesse país? O senhor se sente responsável por 600 milhões de pessoas (sic) que perderam emprego no setor de óleo e gás e da construção civil? Eu tenho certeza que não".

Após ser condenado como proprietário de um tríplex oferecido pela construtora OAS para ganhar licitações na petroleira, Lula afirmou: "o juiz Sérgio Moro, refém da mídia, estava condenado a me condenar. Os procuradores, presas de uma megalomania, asseguram que o Partido dos Trabalhadores queria o poder para roubar".

A frieza com que este Dom Quixote da justiça encurralou os poderosos a partir de Curitiba, a mais de mil quilômetros de Brasília, despertou os temores do ícone da esquerda latino-americana, mesmo antes deste episódio.

"Sinceramente, tenho medo desta República de Curitiba. Porque com um juiz de primeira instância, tudo pode acontecer neste país", disse Lula em uma conversa telefônica interceptada pelo juiz.

Inspirado pela Itália

Sérgio Moro nasceu há 45 anos na cidade paranaense de Maringá, e ali se formou em Direito, tornando-se juiz em 1996. Doutor e professor universitário, completou sua formação na respeitada Universidade de Harvard.

É admirado por muitos de seus pares, que o definem como um juiz preparado, rápido e decidido. Seus detratores o consideram abusivo no uso das prisões preventivas e das delações premiadas.

Fascinado por decifrar os caminhos do dinheiro sujo, o astro da Justiça brasileira sempre foi encantado pela histórica Operação "Mani Pulite" ("Mãos Limpas"), que desarticulou a complexa rede de corrupção que dominava a Itália nos anos 1990.

A imagem de um juiz preocupado com um mundo mais justo se viu manchada este ano, quando justificou o polêmico auxílio-moradia que todos os magistrados recebem, embora morem em casas que são suas nas cidades em que trabalham.

Esse subsídio, declarou, "compensa a falta de reajuste dos vencimentos desde 1º de janeiro de 2015".

Moro é casado com Rosângela Wolff, fervorosa defensora de seu marido nas redes sociais, com quem tem dois filhos.

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