Aécio Neves e Dilma Rousseff (Divulgação/Fotos Públicas)
Da Redação
Publicado em 24 de outubro de 2014 às 17h48.
O quanto somos capazes de dimensionar o sentido de uma vitória de Dilma Rousseff ou de Aécio Neves nas eleições? O que esses fenômenos representam para o país? Podemos elencar um conjunto expressivo de respostas sob uma quase infinidade de temas, interpretações e análises. Mas se o desafio é buscar uma razão para olhar para a frente, fugirei desse conflito. E aproveitarei que ambos estão falando em algo comum: mudança.
Os dois candidatos enfatizaram muito as reformas que necessitam do Congresso Nacional para que tenham algum tipo de sucesso. Mas em seus discursos inflamados parecem ignorar a existência do Legislativo. Dilma, por exemplo, foi textual em um dos debates: “Vou mudar a Constituição”. Com que autoridade? Aécio, por sua vez, fala em acabar com a reeleição. Novamente: com que autoridade?
A mesma Dilma lembra a existência de escândalos que teriam resultado na “compra de votos” para a emenda da reeleição. O mesmo Aécio lembra do mensalão. É assim que pretendem mudar as leis do país? Ou tiramos das urnas um Congresso diferente daquele que está por lá até hoje?
Muitos afirmam que nosso parlamento ficou mais conservador, e isso seria o resultado, inclusive, de uma leitura de parcelas da sociedade em relação às movimentações do ano passado. A despeito de tal característica, que pode apenas representar o desejo de parcelas do eleitorado: o Legislativo está mais são? Duvido. O PT, e seu parceiro de posicionamento PC do B, bem como o PSDB, e seu parceiro de posicionamento DEM, não elegeram 80 deputados cada dupla. Para termos ideia: PFL e PSDB, em 1998, fizeram nas urnas quase 40% da Câmara somados. Será difícil, ou melhor, será “caro” governar. E se continuarmos ignorando o Legislativo vai ser quase impossível.
Agora observemos outro poder que facilmente foge das análises e das promessas. Temos um Judiciário que se torna protagonista de políticas públicas e de decisões polêmicas no país. A mais recente, para ficarmos em apenas uma, está associada à censura travestida de moralidade aos partidos em suas campanhas em plena reta final do segundo turno. Nunca esqueça que o máximo de controle sobre este poder é um organismo formado por seus próprios membros para lhe fiscalizar.
O CNJ muito fez, mas está longe de fazer o mais essencial dos trabalhos em uma democracia: um profundo questionamento do terceiro poder em conjunto com a sociedade. Tiremos, assim, os olhos de Dilma e Aécio, o(a) presidente não é, apesar de se achar, exatamente um rei ou uma rainha. Nós não somos, definitivamente, súditos, mas, sim, cidadãos. E sobre nós recaem demandas mais amplas em relação à visão que emprestamos ao mundo. Tempo de mudar, começando por nós.
Humberto Dantas é doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP) e professor do Insper.