Responsabilidade pelo desastre: a ideia é apurar possíveis irregularidades na fiscalização e na manutenção das barragens da Samarco (Ricardo Moraes/ Reuters)
Da Redação
Publicado em 25 de novembro de 2015 às 07h44.
Brasília - O Senado deve criar nesta quarta-feira, 25, a CPI das Barragens, com o objetivo de investigar a tragédia de Mariana, que deixou pelo menos 8 mortos em Minas - há ainda 4 corpos sem identificação e 11 desaparecidos.
A ideia é apurar possíveis irregularidades na fiscalização e na manutenção das barragens da Samarco, bem como investigar a responsabilidade pelo desastre ambiental. Outras barragens do país podem ser alvo dos senadores.
O presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), leu na noite desta terça-feira o pedido de criação da comissão parlamentar, apresentado pela senadora Rose de Freitas (PMDB-ES), que contava com o apoio de 47 senadores.
Os senadores tinham até a meia-noite para retirar as assinaturas. Caso haja menos de 27 assinaturas, um terço da Casa, a CPI não será criada.
Por se tratar de uma investigação que, ao menos em nível federal, não opõe governo e oposição, a tendência é de que o colegiado seja efetivamente criado hoje.
De acordo com o requerimento de criação, a CPI terá prazo de 120 dias para fazer as investigações, tendo 11 titulares e 7 suplentes.
Essa comissão também deve analisar a situação de outros locais em que haja exploração de mineração, a fim de saber se há riscos ambientais semelhantes. Para Rose de Freitas, é preciso investigar a fragilidade do processo de fiscalização.
"O fiscal de uma empresa não pode fiscalizar a própria empresa. A estrutura do DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral) é zero", afirmou a senadora. Com pouca estrutura, o DNPM chega a usar a "autofiscalização" como método.
Segundo Rose, os senadores querem discutir as falhas do processo. "Até para verificar se, em outros locais do Brasil em que há barragens de mineradoras, há risco de desastres semelhantes", diz. Mesmo em Mariana, há dúvidas sobre a segurança de outras duas barragens da Samarco: Germano e Santarém.
Judiciário
Também o Judiciário vem ampliando o cerco à mineradora. A Justiça do Espírito Santo deu ontem 72 horas para que a mineradora Samarco apresente apólices de seguro para a cobertura dos prejuízos causados pelo rompimento da barragem da empresa no distrito de Bento Rodrigues.
A decisão, em caráter liminar, é do juiz Menandro Taufner Gomes, da 1.ª Vara da Fazenda Pública Estadual, Registros Públicos e Meio Ambiente de Colatina, norte do Estado, em ação do Ministério Público Estadual (MPE). Para o magistrado, "o risco à não recuperação da biosfera local é concreto e objetivo".
Caso não apresente as apólices, a empresa terá de pagar multa diária de R$ 1 milhão. Por força de multas e acordos, a Samarco já contabiliza mais de R$ 1 bilhão em prejuízos. Procurada, reitera que cumpre determinações e acordos com a Justiça e Ministério Público.
Ainda ontem, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos e a Agência Estadual de Recursos Hídricos (AGERH) declararam emergência na Bacia do Rio Doce.
Na segunda-feira, o presidente da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), Marcio Lacerda (PSDB), prefeito de Belo Horizonte, se reuniu com representantes de 15 municípios atingidos pela lama.
Além de compensações financeiras para as prefeituras, foi discutida a reconstrução de Bento Rodrigues.