Brasil

Senado debate lei que pode complicar punição de improbidade administrativa

Uma das principais mudanças previstas na proposição é a condenação apenas para agentes públicos que agirem com dolo

Senado vota nesta quinta-feira PEC que amplia benefícios sociais (Adriano Machado/Reuters)

Senado vota nesta quinta-feira PEC que amplia benefícios sociais (Adriano Machado/Reuters)

GG

Gilson Garrett Jr

Publicado em 29 de setembro de 2021 às 06h00.

Esta reportagem faz parte da newsletter EXAME Desperta. Assine gratuitamente e receba todas as manhãs um resumo dos assuntos que serão notícia.

Os senadores debatem na tarde desta quarta-feira, 29, mudanças na Lei de Improbidade Administrativa. O tema já passou pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e agora segue para o plenário. A proposta é alvo de críticas pois pode dificultar a punição.

  • Entenda como as decisões do Planalto, da Câmara e do Senado afetam seus investimentos. Assine a EXAME

Uma das principais mudanças previstas na proposição é a condenação apenas para agentes públicos que agirem com dolo, ou seja, com intenção de lesar a administração pública. Insegurança jurídica, revogação de práticas ilícitas, absolvição criminal e prescrição retroativa foram outros pontos levantados por senadores e especialistas, para melhor embasamento da matéria.

Em um debate na CCJ na terça-feira, 28, o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Herman Benjamin, foi enfático ao apontar dispositivos do projeto que lhe causam preocupação. Um deles é a punição apenas para agentes públicos que agirem com dolo.

O ministro salientou que, pelo atual projeto, se cria um regime jurídico mais restrito para o combate não penal da improbidade administrativa do que aquele previsto na própria legislação penal.

“Eu começo com a transformação de todos os ilícitos da Lei de Improbidade Administrativa em ilícitos dolosos. (...) Para mandar para a cadeia, é possível a forma culposa, mas pelo projeto, cadeia só na forma dolosa; mais ainda, com dolo específico”, expôs Benjamin.

Ele exemplificou com o caso de um médico que resolva fazer experimentos em hospital público, contrariando regras: poderá ser processado por homicídio, em caso de morte dos pacientes, mas não com base na lei de improbidade.

Na mesma linha, o diretor da Transparência Brasil Manoel Galdino pontuou o que chamou de retrocessos. Ao citar a questão da transparência, o economista lembrou que hoje pode haver punição do agente quando não atender pedido de informação, o que será prejudicado com o atual projeto.

“Vamos passar ainda um péssimo sinal para a sociedade se, em nome da segurança jurídica, dissermos que o que vale para as ONGs, por exemplo, não vale para o sistema político. Se queremos confiança no sistema, como uma pessoa que desviou a merenda escolar, enquanto secretário, pode ser prefeito?”, questionou.

No mesmo debate na CCJ, o advogado Marçal Justen Filho informou que a esmagadora maioria dos casos de condenação pela Lei de Improbidade Administrativa é de agentes públicos do Poder Executivo e que não ocupam cargo de maior hierarquia.

Para Justen Filho, eliminar a punição por conduta culposa não causa corrupção. Ele enfatizou que há pluralidade dos mecanismos jurídicos de combate a essa prática.

“Existem mecanismos específicos para combater os danos acarretados por atuação culposa do agente. A eliminação do sancionamento por conduta culposa não impede a punição penal, civil e administrativa”, disse.

Acompanhe tudo sobre:CongressoCorrupçãoSenado

Mais de Brasil

Nunes nega candidatura ao governo de SP e diz que será ‘o maior cabo eleitoral’ de Tarcísio

Incêndio de grandes proporções atinge prédio da PUC, em Curitiba

Tarcísio abre nova frente de concessões ao encaminhar leilão de travessias de balsas

Sindicato dos professores de SP confirma greve; Justiça determina 70% do quadro