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'Sempre estivemos abertos ao diálogo', diz Lula após Trump se mostrar disposto a uma conversa

Até o momento, os dois presidentes não se comunicaram, mesmo após a imposição da sobretaxa aos produtos brasileiros pela Casa Branca

Lula: governo atual enfrenta muitos desafios em diversos setores (Ricardo Stuckert / PR/Divulgação)

Lula: governo atual enfrenta muitos desafios em diversos setores (Ricardo Stuckert / PR/Divulgação)

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter

Publicado em 1 de agosto de 2025 às 20h38.

Última atualização em 1 de agosto de 2025 às 20h48.

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarou nesta sexta-feira, 1º de agosto, que o Brasil "sempre esteve aberto ao diálogo", após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarar que Lula poderia contatá-lo "quando quisesse".

"Sempre estivemos abertos ao diálogo. Quem define os rumos do Brasil são os brasileiros e suas instituições. Neste momento, estamos trabalhando para proteger a nossa economia, as empresas e nossos trabalhadores, e dar as respostas às medidas tarifárias do governo norte-americano", publicou Lula em suas redes sociais.

A declaração ocorre em um contexto de crescente tensão entre os dois países, após Trump anunciar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros.

Até o momento, os dois presidentes não se comunicaram, mesmo após a imposição da sobretaxa por Trump.

A tarifa começará a ser aplicada em 7 de agosto e foi explicada por Washington como uma retaliação a ações do governo brasileiro que, segundo os EUA, estariam prejudicando empresas e cidadãos norte-americanos.

Recado para Lula

Mais cedo, em entrevista à TV Globo, Trump foi questionado sobre a possibilidade de um diálogo com Lula e respondeu: “Ele pode falar comigo quando quiser”.

Sobre a tarifa de 50% imposta aos produtos brasileiros, o presidente dos EUA não entrou em detalhes, mas declarou: "As pessoas que estão comandando o Brasil fizeram a coisa errada".

Apesar da crítica, Trump afirmou que "ama o povo do Brasil" e evitou antecipar quaisquer ações futuras. "Vamos ver o que acontece", disse ele.

Avaliação de Haddad

Em seguida, o ministro Fernando Haddad chamou de "ótima" a fala de Trump  sobre abrir caminho para um possível contato com o presidente Lula sobre o tarifaço de 50% imposto pelos EUA aos produtos brasileiros.

"Acho ótimo, e a recíproca tenho certeza que é verdadeira também. O presidente Lula estaria disposto a receber um telefonema dele quando ele quisesse também. Conforme já disse anteriormente é muito importante a gente preparar essa conversa", disse Haddad a jornalistas ao deixar o Ministério da Fazenda.

O ministro disse que manteve novos contatos com a equipe do secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, e que uma reunião mais longa e focada na decisão "unilateral" de Washington sobre as tarifas deve ocorrer na próxima semana.

"Ainda não tem data fixada. Penso que reunião com Bessent é muito importante. Entendemos que relações comerciais não devem ser afetadas por política. Nós estamos trabalhando no sentido de nos aproximarmos, reestabelecermos a mesa de negociação, talvez fazer uma reunião presencial".

Tarifas de 50% aos produtos brasileiros

Nesta quarta-feira, 30, Donald Trump assinou uma ordem executiva que estabelece uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos. A nova medida começará a valer no dia 7 de agosto.

De acordo com uma carta da Casa Branca, emitida em julho, a decisão foi tomada em resposta a práticas do governo brasileiro que, segundo os EUA, estariam prejudicando empresas americanas, violando a liberdade de expressão de cidadãos dos Estados Unidos e comprometendo interesses estratégicos do país.

O governo americano afirma que tais práticas foram implementadas por meio do Poder Judiciário brasileiro, com ordens que forçaram empresas a entregar dados de usuários, alterar políticas de moderação de conteúdo e censurar discursos políticos.

A assinatura da ordem executiva ocorreu no mesmo dia em que os EUA sancionaram o ministro Alexandre de Moraes com base na Lei Magnitsky, que permite punir autoridades estrangeiras por violações de direitos humanos.

Segundo informações do governo dos EUA, todos os bens de Moraes no país estão bloqueados, assim como empresas associadas a ele. O ministro também está proibido de realizar transações com cidadãos ou empresas americanas, incluindo o uso de cartões de crédito de bandeira dos EUA.

Veja a seguir a lista da Casa Branca de tarifas recíprocas por país:

PaísTarifa
Afeganistão15%
Argélia30%
Angola15%
Bangladesh20%
Bolívia15%
Bósnia e Herzegovina30%
Botswana15%
Brasil10% (+ 40%)
Brunei25%
Camboja19%
Camarões15%
Chade15%
Costa Rica15%
Costa do Marfim15%
República Democrática do Congo15%
Equador15%
Guiné Equatorial15%
União Europeia15%
Ilhas Malvinas10%
Fiji15%
Gana15%
Guiana15%
Islândia15%
Índia25%
Indonésia19%
Iraque35%
Israel15%
Japão15%
Jordânia15%
Cazaquistão25%
Laos40%
Lesoto15%
Líbia30%
Liechtenstein15%
Madagascar15%
Malauí15%
Malásia19%
Maurício15%
Moldávia25%
Moçambique15%
Mianmar40%
Namíbia15%
Nauru15%
Nova Zelândia15%
Nicarágua18%
Nigéria15%
Macedônia15%
Noruega15%
Paquistão19%
Papua-Nova Guiné15%
Filipinas19%
Sérvia35%
África do Sul30%
Coreia do Sul15%
Sri Lanka20%
Suíça39%
Síria41%
Taiwan20%
Tailândia19%
Trinidad e Tobago15%
Tunísia25%
Turquia15%
Uganda15%
Reino Unido10%
Vanuatu15%
Venezuela15%
Vietnã20%
Zâmbia15%
Zimbábue15%

O que é a Lei Magnitsky?

A Lei Magnitsky é um mecanismo legal dos Estados Unidos, sancionado em 2012 durante a Presidência de Barack Obama, que permite a aplicação de sanções econômicas a indivíduos acusados de envolvimento em corrupção ou graves violações de direitos humanos.

A legislação foi inspirada na morte de Sergei Magnitsky, advogado russo que denunciou um esquema de corrupção envolvendo autoridades da Rússia e que faleceu em uma prisão de Moscou em 2009.

Inicialmente voltada para punir os responsáveis pela morte de Magnitsky, a lei passou a abranger, em 2016, qualquer indivíduo ou grupo ligado a práticas de corrupção, ou abuso de direitos humanos, ampliando significativamente seu escopo.

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