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Semana de fortes emoções na política deve ser o ‘normal’ das eleições

Doria dando 'truco' no PSDB, Eduardo Leite renunciado ao governo, Moro fora da disputa e polarização entre Lula e Bolsonaro. Em poucos dias tivemos gostinho de outubro

Urna eletrônica: votos serão disputados por todos os candidatos. (TSE/Divulgação)

Urna eletrônica: votos serão disputados por todos os candidatos. (TSE/Divulgação)

GG

Gilson Garrett Jr

Publicado em 2 de abril de 2022 às 09h00.

A última semana foi a mais agitada até o momento, envolvendo as eleições presidenciais de 2022. Eduardo Leite ficou no PSDB, após especulações de que iria para o PSD, João Doria deu uma cartada no partido para receber o apoio de que será o candidato para disputar o Palácio do Planalto, e Sergio Moro trocou de legenda, anunciando que sai da corrida presidencial, pelo menos por hora. Segundo analistas ouvidos por EXAME, dias de fortes emoções serão o “novo normal” até outubro.

É bem verdade que a última semana tinha um ingrediente a mais: o fim da janela partidária e a necessidade de renúncia dos ocupantes de cargos públicos que não vão concorrer à reeleição. De acordo com a lei eleitoral, as trocas e movimentações precisam ocorrer até seis meses antes do pleito, o que deixou como margem até as 23h59 da última sexta-feira, 1º de abril.

André César, cientista político da Hold Assessoria, avalia que o cenário ficou um pouco mais definido e os movimentos fecharam o que ele chama de comporta. “Daqui até outubro vamos ter semanas similares. Terminando a janela partidária, as pré-candidaturas se consolidaram com a saída dos ministros, e houve a definição de bancadas. O PL é o grande vencedor desta janela. A partir de agora a eleição entra em um novo patamar”, afirma.

Doria recuou de recuar

A última quinta-feira, 31, foi de fortes emoções. Tudo começou com uma conversa entre Doria e seu vice, Rodrigo Garcia, em que ele disse que ficaria no cargo e deixaria de concorrer à Presidência da República. A intenção seria cumprir o mandato até o fim, não concorrer à reeleição e sair da vida pública em janeiro de 2023. A informação estremeceu todo o ninho tucano e aliados.

O xeque-mate que Doria deu no PSDB veio muito do descontentamento com o partido porque muitos líderes questionam a escolha dele nas prévias, feitas em novembro do ano passado. Apesar da eleição interna, a confirmação, de fato, só sai depois da convenção, que será realizada no meio do ano. Até lá, o que ele queria era uma garantia do partido de que seria candidato ao Palácio do Planalto.

Outro fato foi a renúncia de Eduardo Leite, que perdeu para Doria nas prévias, ao cargo de governador do Rio Grande do Sul e ainda se colocar “à disposição”, inclusive para ser cabeça de chapa em uma disputa pela Presidência. O movimento de Leite foi muito incentivado por caciques do partido, com o senador Tasso Jereissati (CE) e o deputado federal Aécio Neves (MG), desafeto conhecido do governador paulista.

Em uma carta divulgada nesta quinta-feira, 31, o presidente do partido, Bruno Araújo, disse que as prévias serão respeitadas e que o governador paulista teria a garantia da candidatura à Presidência. A atitude foi decisiva para que Doria saísse do governo de São Paulo. Araújo voo de Brasília até São Paulo para falar pessoalmente com Doria.

Com o rearranjo, Doria anunciou sua saída do comando do governo paulista e disse que vai concorrer posto máximo do Executivo. "A partir do próximo dia 2 de abril, Rodrigo Garcia será governador do estado de São Paulo e será reeleito. A partir do dia 2 quero mostrar que o país tem sim uma alternativa", disse Doria durante 4º Seminário Municipalista, na tarde desta quinta-feira, 31. "Sim, serei candidato à Presidência pelo PSDB", confirmou.

Moro fora da corrida presidencial?

Não menos impactante foi a decisão tomada por Sergio Moro, também na quinta-feira. Em um comunicado oficial, ele anunciou que não vai mais concorrer à Presidência. Além disso, trocou de partido, saiu do Podemos e se filiou ao União Brasil, que quer lançá-lo a deputado federal por São Paulo.

"Para ingressar no novo partido, abro mão, nesse momento, da pré-candidatura presidencial e serei um soldado da democracia para recuperar o sonho de um Brasil melhor", disse Moro, em nota oficial.

O cientista político André César destaca uma expressão utilizada por Moro em seu anúncio: ‘nesse momento’. Ou seja, mostrando que tudo podia mudar. E, de fato, mudou. Na sexta-feira, 1º de abril, 24 horas depois de ter saído do Podemos, ele fez uma coletiva de imprensa para dizer que “não desistiu de nada” e que não seria candidato a deputado federal.

Maurício Moura, fundador do IDEIA, instituto especializado em opinião pública, ressalta que Moro pode não ter o que espera no novo partido. “Nesse arraial, o governador João Doria segue dentro da disputa, mas fora das mentes e corações. Já o ex-ministro Sérgio Moro, que tem seu histórico de caçador de quadrilhas, não empolgou o Podemos e dificilmente construirá uma no União pelo Brasil”, afirma.

Polarização entre Lula e Bolsonaro

Na opinião de André César e Maurício Moura, os movimentos da terceira via nos últimos dias podem fortalecer ainda mais a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Em uma campanha que deve ser apertada, qualquer pontinho é importante. Em tese, quem vota em Moro é um bolsonarista desiludido, mas se aproximando da eleição, ele tende a voltar para o presidente, com o antipetismo falando mais alto. Talvez umas franjas dessa possível desistência do ex-juiz caminhem para o Ciro Gomes (PDT)”, explica o cientista político André César.

Maurício Moura ainda avalia que há um outro movimento de pessoas que não querem nem Lula ou Bolsonaro. “Esse grupo deve se afastar do processo eleitoral (brancos/nulos/abstenção) ou votar em um candidato 'nem-nem' que estiver disponível no momento, mas que não seja Ciro. Por outro lado, quem é próximo de Sergio Moro sabe que a Presidência é o seu real desejo. E uma candidatura presidencial não parece plenamente descartada”, afirma.

Na mais recente pesquisa EXAME/IDEIA, feita antes desta semana de mudanças no cenário eleitoral, o ex-presidente Lula teria 40% dos votos em um eventual primeiro turno, e o presidente Bolsonaro estaria em segundo lugar, com 29%. Ciro e Sergio Moro teriam 9% cada.

A sondagem ouviu 1.500 pessoas entre os dias 18 e 23 de março. As entrevistas foram feitas por telefone, com ligações tanto para fixos residenciais quanto para celulares. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral com o número BR-04244/2022. A pesquisa EXAME/IDEIA é um projeto que une EXAME e o IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública. Confira o relatório completo aqui.

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