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Sem inovação, país corre o risco de fechar bibliotecas

No Rio de Janeiro, um modelo inovador e vitorioso, o de biblioteca parque, correu o risco de fechar por falta de verba para manter os equipamentos


	Biblioteca: no Rio de Janeiro, modelo inovador de biblioteca parque correu o risco de fechar por falta de verba
 (Thinkstock)

Biblioteca: no Rio de Janeiro, modelo inovador de biblioteca parque correu o risco de fechar por falta de verba (Thinkstock)

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Da Redação

Publicado em 3 de janeiro de 2016 às 11h42.

Espaço de convivência, estudo, produção e consumo de cultura, inserção social e, principalmente, leitura, as bibliotecas precisam oferecer diariamente opções de acesso a novos bens culturais num mundo cada vez mais conectado à internet e bombardeado por informações. 

No Rio de Janeiro, um modelo inovador e vitorioso, o de biblioteca parque, correu o risco de fechar por falta de verba do governo estadual para manter os equipamentos. Um acordo com as prefeituras do Rio e de Niterói reverteu provisoriamente a situação. 

Com projeto baseado na experiência colombiana de Medellín, a primeira biblioteca parque do país foi inaugurada, em 2010, em Manguinhos, na zona norte da cidade. A da Avenida Presidente Vargas, próximo à Central do Brasil, foi reinaugurada como biblioteca parque em março de 2014, depois de passar quatro anos em reforma.

O equipamento foi criado em 1873 pelo imperador dom Pedro II e modernizado na década de 1980 pelo então secretário de Cultura do estado Darcy Ribeiro. O governo do estado também é responsável pela Biblioteca Parque da Rocinha e pela Biblioteca Pública de Niterói.

Para o bibliotecário Chico de Paula, integrante do Movimento Abre Biblioteca Rio, fechar as bibliotecas parque significaria uma perda irreparável para uma parte da população que não tem outras opções de acesso à cultura.

“ Vários usuários da biblioteca as visitam simplesmente para usufruir do ar-condicionado, do wi-fi ou da poltrona, para tirar um cochilo após o almoço. Mas a biblioteca parque oferece muito mais. Ela dispõe de um acervo rico de livros, periódicos e vídeos, com cabines para que as pessoas assistam os filmes. Quem trabalha ou vive na rua também teve um porto seguro na biblioteca parque. Do ponto de vista cultural, o prejuízo é incalculável”.

Segundo ele, até hoje o país não criou uma cultura de biblioteca e já se fala que elas estão ultrapassadas.

“Da mesma forma como realizamos a Proclamação da República longe dos verdadeiros republicanos, como ainda não abolimos a escravatura de fato, corremos um sério risco de superar as bibliotecas sem tê-las realizado. Isso é muito grave. Não realizamos uma estrutura de biblioteca e pessoas começam a afirmar que não precisamos de bibliotecas porque temos internet, o Google. Mas como podemos falar em superação das bibliotecas se nem tivemos o prazer de desfrutar das bibliotecas no Brasil?”

De acordo com dados do Sistema Nacional de Bibliotecas do Ministério da Cultura, o Brasil tem 6.701 bibliotecas cadastradas.

Democracia

Além do acervo, o modelo de biblioteca parque oferece outras atividades para a comunidade. A superintendente da Leitura e do Conhecimento da Secretaria de Estado de Cultura, Vera Schroeder, destaca que o ambiente é acolhedor e democrático, tanto que a ameaça de fechamento foi revertida rapidamente.

“As bibliotecas ficaram fechadas por pouquíssimos dias. Tanto a sociedade civil quanto as prefeituras se sensibilizaram para que esses espaços tão importantes pudessem permanecer abertos. Acho que hoje as bibliotecas parque são um dos espaços mais democráticos que podemos ver na cidade e no estado do Rio de Janeiro. Você vê população de rua junto com pós-doutorados num mesmo espaço cultural, que é uma biblioteca. E vemos isso em qualquer uma das nossas bibliotecas”.

Moradora de Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro, a artesã Fabíola Fortes Rouda Carmo vai para o centro de trem e leva a filha Laura, de 8 anos, para a biblioteca parque três vezes por semana. Elas pegam livros emprestados e participam de outras atividades.

“Ela é uma devoradora de livros. A quantidade de livros que ela lê por semana é impossível de comprar. Aí comecei a levá-la duas ou três vezes por semana. Moramos super longe, mas ela se sentiu acolhida pelo conceito da biblioteca parque. Lá, ela participa de clube de leitura e teatro. Então, temos uma relação muito estreita até com os funcionários da biblioteca.”

Já a professora Mariana Jaggi, do Liceu de Artes e Ofícios, aproveita o espaço para estudar.

“Só estudo, mas pretendo assistir uns filmes. São salas de filme que acho geniais. Assim que tiver tempo, vou marcar para assistir um filme. Para usar aqui, não precisa de cadastro. Só para pegar livro. Antes eu estudava em casa, mas procurei bibliotecas no centro e agora prefiro estudar aqui, tem ar-condicionado, internet, é mais reservado. Eu gosto muito”.

Cursando mestrado em engenharia nuclear na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o angolano Hamilton Ruben Tavares Tumba utiliza a biblioteca parque para estudar, fazer pesquisas e aprender mais sobre o Brasil.

“Estou sempre aqui, desde a inauguração. Trago os livros, às vezes utilizo os daqui para pesquisas e para conhecimento geral. Sou africano e acho que esse espaço é o melhor para estudar. Sempre que tenho tempo passo cinco, seis horas por aqui, até porque sou vizinho, moro bem perto.”

A designer Andressa Lemos é frequentadora da biblioteca parque e promoveu um projeto social com a rede Amor ao Cubo, a fim de incluir pessoas em situação de rua que visitam o local, o Fone Cultural.

“Tem um espaço multimídia, mas para ter acesso aos vídeos a pessoa tem de levar seu fone, que os moradores de rua normalmente não tem. Nosso projeto levou 88 fones para serem distribuídos entre eles. No dia 20 de novembro conseguimos fechar os kits culturais, fazer o evento em parceria com a biblioteca e entregar os kits. Moradores de rua geralmente têm um fluxo muito grande. Eles aparecem e depois desaparecem, mas é um número bem grande de interessados no acesso à cultura que a biblioteca disponibiliza para eles.”

Com o anúncio do fechamento, Andressa abriu um abaixo-assinado virtual para manter os equipamentos funcionando. Em menos de duas semanas, conseguiu quase 12 mil apoios.

Agora, ela pretende emplacar outros projetos de inclusão com parceira da biblioteca. “A gente pretende ajudar com questões de alfabetização, tecnologia, acesso à tecnologia e produção de cultura. Embora sejamos usuários e isso doa em nós, doeu muito mais como parceiros da biblioteca, porque esses caras não têms outros lugares para ir. Estamos brigando por eles.”

De acordo com Vera Schroeder, o projeto de bibliotecas parque também inclui a do Alemão, que já funciona parcialmente na estação Palmeira do teleférico, “mas não nas condições que a gente gostaria”. Vera disse que o local precisa de uma reforma para ajustar a infraestrutura ao projeto, ainda sem previsão, mas que o espaço já oferece acervo e cursos para a comunidade. Futuramente, a ideia é expandir a rede de bibliotecas parque para a Baixada Fluminense e cidades do interior.

“ São propostas, mas não existe nada assinado. As bibliotecas parque na Baixada e no interior dependerão da vontade política das prefeituras. A ideia é que possamos cobrir todo o território do Rio de Janeiro, de modo que as regiões norte e noroeste também tenham espaços como esse”, concluiu.

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