Sem os importados, IPCA de 2010 seria 0,6 p.p. maior e o país não teria cumprido meta de inflação (Germano Lüders/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 2 de fevereiro de 2011 às 20h43.
São Paulo - A ideia do governo de aumentar as alíquotas de importação deve beneficiar a indústria brasileira, mas também é certo que prejudicará os consumidores. Com a redução dos produtos estrangeiros no mercado interno, diminui a concorrência, o que contribui para o aumento da inflação. Para se ter uma ideia, o Brasil conseguiu encerrar 2010 com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – usado como referência para a meta – em 5,91%, dentro do intervalo de tolerância do regime de metas de inflação. Sem os importados, calcula um analista ouvido pelo site de VEJA, o IPCA teria sido 0,6 ponto porcentual maior. Em outras palavras, o limite máximo da inflação, em 6,5%, seria ultrapassado e a meta não seria cumprida.
A indústria afirma que a queda de 0,7% na produção nacional em dezembro e a estagnação do segmento durante o último trimestre do ano passado são explicadas, em parte, pela invasão dos importados. De fato, em 2010, a demanda doméstica cresceu fortemente – a projeção é que tenha fechado o ano com alta entre 6% e 7%, acima do PIB potencial de 4,5% –, impulsionada por uma política fiscal expansionista, pelo crédito farto e pelo aumento do poder aquisitivo da população. Boa parte desta expansão do consumo interno foi suprida justamente por produtos estrangeiros, que ganharam mais competitividade em relação aos nacionais graças à valorização do real sobre o dólar.
Falta de competivididade – Economistas avaliam, no entanto, que a falta de competitividade da indústria brasileira decorre de problemas estruturais, como carga tributária pesada e carência de infraestrutura, tecnologia e mão de obra qualificada. O câmbio valorizado, uma realidade que veio para ficar, apenas escancara o problema e medidas protecionistas pontuais podem acabar causando distorções.
Para o professor da Universidade de São Paulo, Fabio Kanczuk, aumentar a alíquota de importação de alguns produtos ajudaria a diminuir a entrada de importados, mas o problema da competitividade nacional só seria resolvido com medidas sólidas e de longo prazo. “Em alguns setores não tem como competir. E não é por causa do câmbio. Se o protecionismo aumentar, quem será prejudicado é o consumidor, que vai acabar pagando mais caro por um produto que nem sempre tem mais qualidade”, afirma.
O grau de competitividade, dizem os economistas, difere de um setor a outro. Há indústrias no Brasil, como a automobilística e a do agronegócio, que estão muito bem posicionadas para enfrentar a concorrência estrangeira, principalmente porque possuem elevada escala de produção. Muitos outros, contudo, enfrentam enorme dificuldade ante os importados.
Ante o crescimento da demanda doméstica em ritmo superior ao do PIB potencial, as importações têm ajudado a aliviar a pressão sobre a capacidade instalada. Isso, é claro, contribui temporariamente para a deterioração das contas externas. Contudo, os economistas avaliam que este fenômeno, se mantido por alguns anos, não traz maiores conseqüências para a economia. Ao contrário, é favorável em alguns aspectos: facilita a aquisição de máquinas e equipamentos modernos – fundamental para a constituição de um parque industrial mais produtivo no futuro, que tende a se reverter em expansão da oferta – e ajuda no controle da inflação.
Medidas para refrear o consumo - As medidas macroprudenciais tomadas pelo Banco Central no começo de dezembro, para desacelerar o crédito e esfriar a demanda, ainda não foram sentidas na indústria. A expectativa dos economistas é de que os efeitos fiquem mais claros nos indicadores de produção de janeiro em diante. “A produção industrial de dezembro não foi afetada pelas medidas, porque existe uma defasagem. O consumo e as vendas serão afetados primeiro e só depois a indústria”, afirma o economista da gestora de recursos M. Safra, Guilherme Maia. No entanto, ele afirma que não é possível prever qual será o exato impacto dessas medidas na atividade econômica.
Ao comentar o resultado da produção industrial de dezembro, o ministro da Fazenda Guido Mantega concordou que, para resolver o problema da competitividade nacional, é preciso encarar desafios mais complexos que a questão cambial, e classificou a resolução do gargalo de mão de obra qualificada como “prioritária”.