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Sem Bolsonaro, prêmio em Nova York tem protagonismo de Doria

Evento premiou Bolsonaro e Mike Pompeo, chefe da diplomacia americana, como personalidades do ano. Contudo, nenhum dos dois esteve presente

Rodrigo Maia, João Doria e Davi Alcolumbre participam de evento em Nova York (Assessoria/Divulgação)

Rodrigo Maia, João Doria e Davi Alcolumbre participam de evento em Nova York (Assessoria/Divulgação)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 15 de maio de 2019 às 10h48.

Última atualização em 15 de maio de 2019 às 10h58.

Nova York — "É uma noite completamente diferente da que foi planejada... Mas estamos aqui. Casa cheia", anunciou Alexandre Bettamio, presidente da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, ao abrir a festa que aconteceu em Nova York na noite desta terça-feira, 14. O evento premiou Jair Bolsonaro e Mike Pompeo, chefe da diplomacia americana, como personalidades do ano. Contudo, nenhum dos dois esteve presente.

No caso do presidente brasileiro, a ausência aconteceu depois de boicotes e protestos, estimulados pelo prefeito da cidade, Bill de Blasio, que classificou Bolsonaro como perigoso e preconceituoso.

O jantar de homenagem aconteceu mesmo assim. Tradicionalmente, o evento é realizado no Museu de História Natural de Nova York, embaixo da ossada de uma baleia. Neste ano, depois de o museu - e mais uma casa de eventos - se recusar a sediar uma homenagem a Bolsonaro, o jantar de gala foi realizado em uma das salas do hotel Marriot, na Times Square.

Apesar de conseguir abrigar mais de mil pessoas - coisa que não aconteceria no museu, onde haveria um "puxadinho", com uma sala com telões instalados - o local é considerado menos glamouroso e a Times Square, a despeito de ser central, reúne os hotéis com preços populares da cidade.

Mesmo assim, o grupo de empresários, lobistas e escritórios de advocacia com representação no exterior compareceu à festa. A organização do evento estima que cerca de 1.050 pessoas tenham marcado presença. O local comportava pouco mais de 1,1 mil convidados e algumas mesas ficaram completamente vazias. Cada convite custou mais de US$ 1,5 mil e as empresas que compraram mesas para patrocinar o jantar desembolsaram mais de US$ 10 mil - o equivalente a cerca de R$ 40 mil.

Empresários e autoridades que já frequentaram o prêmio em outros anos reclamaram que, desta vez, a reunião ficou completamente restrita a brasileiros - sem americanos. Além disso, como o evento deixou de ser organizado no Museu de História Natural, a cerimônia perdeu charme.

Protagonismo de João Doria

Sem integrantes do Poder Executivo nacional, o evento teve o protagonismo de João Doria, governador de São Paulo. Apesar de presidentes dos outros poderes estarem presentes no evento - Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, e Davi Alcolumbre, do Senado -, o escolhido para discursar pelo lado brasileiro foi o paulista.

A escolha, dizem os organizadores do evento, foi pelo fato do governador tucano já ter sido agraciado pelo prêmio. Em inglês, Doria criticou o prefeito de Nova York. "Da próxima vez, seja gentil com o presidente de nosso país e com os brasileiros que visitam sua cidade, sejam quem forem (...). Apesar de você, nós amamos Nova York e amamos a América", disse Doria, que fechou o evento pedindo um brinde pelo Brasil.

O tucano ainda afirmou que não é alinhado politicamente com o presidente brasileiro, de outro partido, mas que o respeita. Do lado de fora do Marriot, cerca de 75 manifestantes fizeram um protesto contra Bolsonaro.

Os desagravos a Bolsonaro não ficaram restritos ao governador. Bettamio aproveitou o momento para dizer que a noite viraria um momento de encontro da "tolerância". "Como vocês sabem, o presidente Bolsonaro, eleito democraticamente e representando a escolha da maioria do nosso povo, decidiu não comparecer à premiação após manifestações de intolerância que recebeu. (...). Esse acabou virando um jantar muito simbólico. Temos hoje mais de mil pessoas presentes, com apoio de 90 empresas, que decidiram vir não somente para mostrar solidariedade ao presidente mas também aos princípios que regem a Câmara, que é a comunhão pacífica dos dois países", afirmou.

De última hora, o embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Sérgio Amaral, tentava escalar lideranças para dar peso ao evento. Um dos nomes cogitados foi o ex-prefeito de NY, Rudolph Giuliani, mas ele estava em viagem fora da cidade.

Com o cancelamento da viagem de Bolsonaro a Nova York, o Itamaraty, o Planalto e a Câmara de Comércio se apressaram em tentar organizar um evento em outro lugar, ainda em solo americano. Nesta quarta-feira, 15, Bettamio viajará ao Texas, Estado de maioria conservadora, para entregar formalmente o prêmio a Bolsonaro em Dallas. O presidente vai fazer uma agenda improvisada na cidade, onde se reunirá com o ex-presidente americano George W. Bush por 15 minutos e participará de um almoço com empresários.

Os empresários que acompanhavam o discurso de Bettamio aplaudiam a cada menção ao nome de Bolsonaro. Dois outros nomes receberam ainda mais atenção: uma menção ao ministro da Economia, Paulo Guedes, e o discurso de Doria.

Ex-embaixador dos EUA no Brasil, Cliff Sobel disse que as resistências à premiação de Bolsonaro mostram uma "rejeição de diferentes pontos de vista". "Nos tornamos uma sociedade intolerante que rejeita até o direito do outro de expressar seus pontos de vista", afirmou.

Em seu discurso, Sobel disse que o Brasil tem sido um crescente aliado dos EUA. O ex-embaixador viajará a Dallas nesta quarta-feira. Ele foi responsável pela interlocução com Bush para agendar o encontro com Bolsonaro, considerado o ponto alto da visita do presidente brasileiro.

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