A entrega do documento foi feita pelo presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Beto Simonetti (Wilson Dias/Agência Brasil)
Agência de notícias
Publicado em 15 de março de 2024 às 07h25.
Quando o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, deixou Mossoró (RN) pouco depois das 15h de quarta-feira, a primeira grande crise que enfrenta na pasta estava na véspera de completar um mês.
Deibson Cabral do Nascimento e Rogério da Silva continuavam a ser procurados na região, após terem sido os primeiros fugitivos de uma penitenciária de segurança máxima do governo federal, no município potiguar. Lewandowski mantém na região os 500 policiais empenhados na procura e o discurso de que acredita na captura. Mas entre os integrantes da força-tarefa, começa a se espalhar uma sensação de desânimo.
A procura aos dois integrantes do Comando Vermelho no Acre já levou à prisão de sete pessoas suspeitas de terem ajudado os criminosos e a uma investigação de como eles conseguiram sair. Agentes em campo nas buscas já admitem até a possibilidade de Deibson e Rogério terem deixado o estado. Lewandowski preserva a força-tarefa com base em indicações contrárias.
A última pista da dupla havia sido no início de março, quando eles invadiram um galpão e agrediram o proprietário. Na terça-feira, policiais levantaram indícios de que os dois passaram por uma casa nas redondezas de Mossoró. Após um alerta dos proprietários, que viram os cachorros mais agitados que o normal, um cão farejador identificou possíveis rastros da dupla criminosa. Nada foi achado.
Deibson e Rogério se irritaram com o proprietário do galpão quando constataram que não havia celulares que pudessem levar. Antes, eles haviam roubado dois aparelhos dos moradores de uma casa que invadiram na zona rural de Mossoró, dois dias depois da fuga. Na residência, os dois comeram, assistiram ao noticiário pela TV sobre as buscas e mostraram de que estavam desorientados na região, que desconhecem. O último sinal dos celulares roubados foi captado pela força-tarefa que procura os foragidos no dia 17 de fevereiro.
Ambos deixaram pessoas amedrontadas e agredidas. Mas a Polícia Federal também concluiu que tiveram ajuda de moradores da região. Um dos presos suspeitos de auxiliar os criminosos teria levado um carro do Ceará para Baraúna, cidade vizinha a Mossoró, para auxiliá-los a deixar o estado.
O mecânico Ronaildo da Silva Fernandes admitiu à PF que forneceu comida por oito dias para os fugitivos, que ficaram escondidos em seu sítio, por ter sido ameaçado, assim como a família. Mas um pagamento de R$ 5 mil que teria recebido de um integrante do Comando Vermelho o fez ser preso.
A viagem nesta semana foi a segunda ida de Mossoró a Lewandowski. Na primeira, em 18 de fevereiro, o ministro disse que o problema era “localizado” e seria superado “em breve, com a ajuda de todos”. Desta vez, em que se reuniu forças policiais, autoridades locais e sobrevoou de helicóptero a região das buscas, preferiu não dar estimativa de prazo, na volta a Brasília.
— Vim para cobrá-los. Precisava dar uma incerta, como se diz no meio militar. A polícia me garante que serão capturados, mas não sabemos quando — disse o ministro ao GLOBO, que acompanhou a viagem.
Quando desembarcou em fevereiro no interior do Rio Grande do Norte, Lewandowski já havia destituído, no mesmo dia da fuga, a direção do presídio, e nomeado como interventor na unidade o policial penal Carlos Luis Vieira Pires. As investigações na penitenciária mostraram que Deibson e Rogério conseguiram arrancar da paredes da celas vergalhões com que abriram buracos para sair. E para cortar o alambrado que cerca a unidade de segurança máxima, usaram um alicate deixado em um pátio por operários de uma obra feita no local. A empresa contratada é investigada por não ter guardado os equipamentos corretamente.
Enquanto vai a campo para mostrar empenho pessoal na captura dos dois fugitivos, Lewandowski tenta minimizar o impacto da crise no ministério e das críticas à segurança pública do governo Lula. Diante dos questionamentos sobre a necessidade de manter 500 policiais em buscas em mata e em pequenos vilarejos, o ex-juiz deve renovar a permanência da Força Nacional na região, por um período que ainda está sob avaliação.
— Enquanto tivermos indício de que eles estão dentro do perímetro de busca, vamos manter. Não posso deixar a população local desprotegida. Se tivermos convicção de que eles foram para outro estado, tudo muda — afirmou.
Os relatórios de inteligência, com imagens de satélites e os passos percorridos pela operação até aqui, também dão a Lewandowski a sensação de que estão no caminho certo.
— Se eu achasse que não há esperança, diria para encontrarmos um jeito de descalçar a bota — resumiu o ministro.
No time de Lewandowski, há quem questione se manter a mobilização pelas buscas com todo o aparato atual é a melhor solução. Há o diagnóstico de que erros foram cometidos na fase inicial da operação e, neste estágio, ainda há muitas dúvidas. Não se tem certeza, por exemplo, se os bandidos estão armados. Mas a polícia identificou uma cápsula de fuzil num lugar onde os dois se esconderam. Além disso, sabe-se que eles acionaram parceiros para que trouxessem armamento de Aracati, no litoral cearense.
Policiais envolvidos na operação relatam que, além das 400 cavernas que existem na região (boa parte no Parque Nacional da Furna Feia), a força-tarefa de 500 agentes tem lidado com obstáculos como as fortes chuvas na região, que apaga rastros deixados pela dupla e dificulta o deslocamento das equipes para áreas mais isoladas só acessíveis por estradas de terra.
Há duas semanas, os policiais estiveram próximos da captura. Mas perderam a pista depois que detalhes dos métodos usado na perseguição e o estágio da procura vieram a público e chegaram ao conhecimento dos próprios fugitivos.
Os agentes não todos estão em campo ao mesmo tempo. Em um sistema de rodízio, foram divididos em dois turnos diferentes — de dia e de noite — e rastreiam um perímetro de 20 quilômetros.
Dos agentes envolvidos na busca, cerca de 90% são de fora de Mossoró. Muitos já dizem reservadamente se sentir em uma busca inútil.
— O desânimo de não ter mais informações sobre o paradeiro dos fugitivos gera até dúvidas se eles estão mesmo nessa região — admite um dos integrantes da força-tarefa. — O cansaço a gente vence quando tem mais informação, mas não é o caso. Não temos um norte.