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Da Redação
Publicado em 22 de agosto de 2013 às 19h25.
Campinas - A região de Campinas, que engloba 42 cidades do interior paulista, tem um déficit de 700 leitos hospitalares, principalmente de atendimento de urgência e emergência, filas em hospitais e problemas de falta de médicos. Para o secretário de Saúde de Campinas, Carmino de Souza, as medidas anunciadas pelo governo federal de ampliação do tempo de curso de medicina, dois anos obrigatórios de serviços no Sistema Único de Saúde (SUS) e importação de médicos estrangeiros, não resolve o problema regional.
"A crise da saúde está muito focada no médico. E a gente sabe que não é só isso. Se pegou o médico como se fosse o inimigo número 1 dos problemas do sistema público de saúde", afirmou Carmino, médico hematologista há 37 anos e professor titular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Ele defende que a falta de recursos para custeio é o grande gargalo do sistema público. "Se não tiver dinheiro para custeio, para comprar remédio, para a folha de pagamento, para os insumos, não se aumentará a rede."
Referência em atendimento médico em toda região, Campinas serve com rede de saúde para 1 milhão de habitantes locais e para todas as 41 cidades abrangidas pelo Departamento Regional de Saúde 7. "Não acho que as medidas anunciadas trarão impacto para a região de Campinas", afirmou o secretário.
"Os municípios estão sobrecarregados. É fundamental que o governo coloque mais recursos de custeio. A questão precisa ser enfrentada.
Todo mundo gosta de construir, mas onde a roda pega é no custeio do sistema", afirmou Carmino.
"É preciso formar mais médicos e seduzi-los para o sistema público de saúde. E, para isso, é preciso melhores condições de trabalho, melhores salários e um plano de carreira, inclusive com dedicação exclusiva ao trabalho", defendeu Carmino.
Para o secretário, que gerencia 2 mil médicos, há um erro de foco na identificação do problema da dificuldade de contratar profissionais em determinadas áreas. Para ele, esse não é um problema relacionado às periferias das cidades. "Não é uma exclusividade das periferias. Tem regiões mais centrais com problema de ambiência onde há dificuldade de se contratar médico."
Na última quinta-feira, 4, Carmino esteve no Ministério da Saúde discutindo com o governo os problemas da cidade e da região. "Não entendo a pressa, fomos pegos de surpresa. São medidas que precisam ser melhor discutidas com quem forma os médicos, com as universidades, com os conselhos, com a categoria", afirmou Carmino. "Não discordo frontalmente da proposta. Formar um médico no Brasil custa muito para a sociedade" diz o secretário, professor da Unicamp, onde um aluno custa ao Estado US$ 30 mil ao ano.
Retribuição
"Isso é pago pela sociedade. Não acho que ter uma retribuição à sociedade algo fora da realidade, mas precisa ser melhor discutido.
Foi de maneira afobada. Tudo que é compulsório é complicado em um país democrático."
Pós-doutorado na Itália, onde há plano de carreira para o médico do sistema público, Carmino defende que é preciso atrair o médico ainda na faculdade para o SUS. "Tem que seduzir o aluno da saúde para o Sistema Único de Saúde muito cedo, de preferência no primeiro e no segundo ano do curso. Ao invés de colocá-lo em laboratório, precisa colocar os alunos para ter interesse na saúde pública prática."
Sobre a atração de médicos estrangeiros, Carmino afirma que é preciso que eles se adaptem ao sistema brasileiro. "Já temos médicos estrangeiros. Mas eles precisam se adaptar ao País, conhecer a epidemiologia local. E tem também o problema da língua."