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Secretaria da Mulher da Câmara aciona Corregedoria por ofensas de deputado a Marina Silva

Pasta afirma que ministra foi atacada 'de forma desrespeitosa e incompatível com os princípios democráticos e com o decoro parlamentar que devem nortear os trabalhos da Casa'

Agência o Globo
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Publicado em 4 de julho de 2025 às 08h44.

A Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados anunciou que vai ingressar com uma representação formal na Corregedoria Parlamentar contra o deputado Evair de Melo (PP-ES) por ofender a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, em audiência na quarta-feira. Durante o questionamento, o bolsonarista disse que Marina teria sofrido “adestramento” pela ideologia de esquerda e argumentava por repetição.

A pasta afirma que a ministra foi ofendida pelo deputado "de forma desrespeitosa e incompatível com os princípios democráticos e com o decoro parlamentar que devem nortear os trabalhos desta Casa".

“Diante da gravidade do episódio, a Secretaria da Mulher, no uso de suas atribuições regimentais, informa que encaminhará representação formal à Corregedoria Parlamentar para que as medidas cabíveis sejam adotadas”, diz a secretaria.

Na quarta-feira, Marina usou trechos bíblicos, inclusive um utilizado com frequência pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, para responder aos deputados da Comissão de Agricultura da Câmara. A ministra disse aos parlamentares que fez orações a Deus para ter paciência e usou versículos ao menos quatro vezes para se defender.

Durante a sessão, Melo acusou a ministra de nunca ter trabalhado:

"A senhora tem dificuldades com o agronegócio, porque a senhora nunca trabalhou, a senhora nunca produziu, não sabe o que é prosperidade construída pelo trabalho. Todo mundo sabe, o mundo sabe que a senhora tem um discurso alinhado com essas ONGs internacionais".

A ministra, então, respondeu que não se importa em ser injustiçada e que, no futuro, Deus julgaria quem estaria correto.

"Hoje de manhã eu fiz uma longa oração e pedi a Deus que me desse muita calma e tranquilidade. Eu estou em paz. Eu aprendi com o apóstolo Paulo que é preferível sofrer injustiças do que praticar a injustiça. Quando você pratica a injustiça, a reparação virá".

‘Isso é machismo’

Marina foi questionada por ter criticado Lula e, depois, retornado ao governo petista.

"A senhora como ministra é uma vergonha — atacou o deputado Zé Trovão (PL-SC)".

Em outro momento da sessão, o deputado Cabo Gilberto (PL-PB) gritou fora do microfone “calma, ministra”, quando Marina erguia a voz para fazer uma defesa do trabalho do Ibama. A ministra interrompeu a fala e respondeu.

"Isso é machismo. Quando um homem ergue a voz, ele está sendo incisivo. Vocês dizem que estão sendo contundentes", afirmou Marina Silva.

A ministra também foi questionada por não defender o controle de javalis em propriedades rurais. Marina respondeu que é necessário ser feito com orientação científica e não com tiros de caçadores.

"Em Levíticos (da Bíblia), Deus fala assim: quando você achar uma ave no ninho, não tire a ave, isso é para que vocês saibam que vocês seres humanos não passam de animais".

Marina Silva ainda disse que, em outro trecho bíblico, Deus se comparou a uma galinha para mostrar o cuidado que ele tem com seus filhos. Marina é evangélica. Os deputados bolsonaristas, em sua maioria, também se identificam como cristãos evangélicos.

"Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará. Chegamos ao menor número de alerta de desmatamento do mês de junho. O desmatamento caiu 32% no país inteiro. Nós trazemos os dados, não para camuflar, mas para colocar a verdade", afirmou Marina, ao defender os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) de queda e estabilidade do desmatamento.

O trecho do livro de João foi repetidamente usado por Bolsonaro em campanha política e durante o governo.

Agressões no Senado

A ministra abandonou, no dia 27 de maio, uma sessão da Comissão de Infraestrutura do Senado após bate-boca com senadores e embates sobre a pavimentação da rodovia BR-319, estrada que liga Porto Velho a Manaus.

Marina deixou o local depois que o líder do PSDB, senador Plínio Valério (AM), afirmou querer separar a mulher da ministra porque a primeira merecia respeito, e a segunda não. Marina disse, então, que só continuaria na comissão se houvesse um pedido de desculpas. Plínio se recusou. Em março, o mesmo senador afirmou ter vontade de enforcá-la.

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