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Secas se espalham e 59% das cidades não se previnem contra desastre

Segundo o IBGE, entre 2013 e 2017 praticamente a metade dos municípios brasileiros registrou algum episódio de seca

Secas: maioria dos municípios brasileiros (59%) não apresenta nenhum instrumento voltado à prevenção de desastres naturais (Getty Images/Reprodução)

Secas: maioria dos municípios brasileiros (59%) não apresenta nenhum instrumento voltado à prevenção de desastres naturais (Getty Images/Reprodução)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 6 de julho de 2018 às 08h55.

Rio e São Paulo - Diferentemente do que se costuma imaginar, os episódios de escassez de chuvas não estão restritos ao Nordeste. Pelo contrário, são bem distribuídos por todo o país. Mesmo assim, a maioria dos municípios brasileiros (59%) não apresenta nenhum instrumento voltado à prevenção de desastres naturais e apenas 14,7% tinham no ano passado um plano específico de contingência e/ou prevenção à seca.

É o que mostram as pesquisas Perfil dos Municípios Brasileiros (Munic) e Perfil dos Estados Brasileiros (Estadic) 2017 divulgadas nesta quinta-feira, 5, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "Pensando sob o ponto de vista do abastecimento das cidades, o semiárido do Nordeste tem a situação mais crônica. Mas temos diversas outras regiões em que estamos no limite da pressão na relação oferta versus demanda", diz o superintendente de planejamento de recursos hídricos da Agência Nacional das Águas (ANA), Sérgio Ayrimoraes.

"Várias regiões metropolitanas estão pressionadas, porque cresceram, e os investimentos não vieram para que a oferta de água fosse adequada à demanda", ressalta o superintendente. Ele aponta ainda conflitos pela água em vários locais, como na área do São Francisco.

Segundo a publicação do IBGE, entre 2013 e 2017 praticamente a metade dos 5.570 municípios brasileiros (48,6%) registrou algum episódio de seca. A maior parte se concentra no Nordeste, mas há municípios enfrentando escassez de chuva em todas as regiões.

"No Sudeste ou no Sul, não temos aquela imagem clássica da seca, do rebanho sem alimento, da plantação seca", avalia a coordenadora de populações e indicadores sociais do IBGE, Vânia Maria Pacheco. "Mas nessas regiões temos episódios de seca, como os que resultaram, por exemplo, na recente crise hídrica em São Paulo e no Rio."

Esta é a primeira vez que o IBGE aborda a questão das secas no âmbito das administrações municipais e estaduais. Por isso, não há série histórica a acompanhar. Mas, de uma forma geral, segundo Vânia, os desastres ambientais avaliados nas pesquisas (além da seca, enchente, erosão e deslizamento) estão bem distribuídos pelo país. Embora a seca seja o problema mais comum, 31% dos municípios registraram casos de alagamentos, 27,2% de enxurradas, 19,6% de erosão e 15% de deslizamentos.

Até o mês passado, o governo federal reconhecia situação de emergência pela seca em 184 cidades de Minas, Bahia, Paraíba, Piauí, Ceará, Goiás e Pará. Entre os Estados, pela décima vez consecutiva, o governo do Rio Grande do Norte renovou, em junho, o estado de emergência provocado pela escassez hídrica. Segundo levantamento do Executivo, a cada ano de estiagem os prejuízos à economia giram em torno de R$ 4,3 bilhões. Dos 167 municípios potiguares, 134 estão em situação de emergência, reconhecida pelo governo federal.

No Ceará, o Castanhão, maior açude do Estado, está com apenas 8,07% de sua capacidade. Mas esteve pior em fevereiro, com 2,08%, quando atingiu o volume morto.

São Paulo

A escassez de chuva já é sentida na vida de muitos moradores do interior paulista. Em Santa Cruz das Palmeiras faz uma semana que a água chega às torneiras e é cortada com hora marcada. Na cidade, o racionamento começou no dia 28. "Estamos deixando para fazer as tarefas de casa à noite", afirma a aposentada Maria Aparecida do Rosário. O motivo é que todos os dias, das 8 às 16 horas, o fornecimento de água é interrompido. "É complicado, atrapalha a vida da gente."

A falta de água também já começa a ser sentida em municípios vizinhos e o motivo é a redução no índice pluviométrico. Medições do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) apontam que a região teve chuvas abaixo da média nos primeiros seis meses deste ano. E a situação pode se complicar ainda mais porque o período de estiagem vai até setembro.

Com base no monitoramento que a agência faz sobre a oferta de água para cada região, a ANA criou um aplicativo de celular que informa ao usuário a situação da bacia em que ele está. Uma das ideias é que essas informações possam ser usadas pelos eleitores para terem conhecimento da real situação de cada área e possam cobrar propostas adequadas dos candidatos nas próximas eleições.

"Ponto de ruptura"

O recrudescimento dos episódios de escassez de chuva em todo o País é acompanhado por cientistas, como o climatologista Carlos Nobre, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP). "No Nordeste, onde sempre houve seca, a situação se tornou mais crítica; e, agora, há eventos de seca mais frequentes até na Amazônia."

A grande seca do Nordeste, que começou em 2013 e só agora começa a ceder, é a mais longa e mais intensa já registrada na região desde o início das medições, de acordo com Carlos Nobre.

A seca ocorrida no Sudeste, entre 2014 e 2015, com impacto severo nos reservatórios de água, também é a maior e mais abrangente já ocorrida na região. E até o norte do Espírito Santo, onde raramente havia seca, registra eventos recorrentes desde 2013.

"Na Amazônia, onde as secas não eram comuns, onde se registrava um episódio a cada 15 anos, a escassez de chuva se intensificou", explica Nobre, que estuda a região. "De repente, foram três grandes secas (2005, 2010 e 2015/6) em apenas 11 anos. Podemos estar perto de um ponto de ruptura, em que a estação seca se torna a mais longa", observa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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