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Seca histórica leva Ceará a usar água do mar para consumo

O governo decidiu instalar, no litoral de Fortaleza, uma unidade de dessalinização da água do mar, para complementar o atendimento à população

Ceará: o plano é que, até 2020, parte dos habitantes da cidade passe a matar a sede bebendo água do mar (Wikmedia Commons/Divulgação)

Ceará: o plano é que, até 2020, parte dos habitantes da cidade passe a matar a sede bebendo água do mar (Wikmedia Commons/Divulgação)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 21 de março de 2018 às 08h53.

Brasília - A seca histórica que há seis anos não dá trégua à Região Nordeste levou o governo do Ceará a adotar uma medida extrema para garantir o abastecimento humano de água.

O governo cearense decidiu instalar, no litoral de Fortaleza, uma unidade de dessalinização da água do mar, para complementar o atendimento à população. O plano é que, até 2020, parte dos habitantes da cidade passe a matar a sede bebendo água do mar.

Até maio, o Estado vai receber dois estudos técnicos sobre o projeto, que tem orçamento estimado em cerca de R$ 500 milhões. Uma empresa sul-coreana e outra espanhola foram escolhidas no fim de 2017 para apresentar propostas de engenharia, com indicação do melhor modelo tecnológico para retirar o sal da água e o melhor local para sua instalação.

A meta do governo é de que a água retirada do Oceano Atlântico atenda pelo menos 720 mil habitantes de Fortaleza. A capital consome hoje cerca 8 m³ de água por segundo. A planta de dessalinização tem projeção de entregar 1 m³ de água tratada por segundo, o equivalente a 12% do consumo na cidade.

À reportagem, o secretário de Recursos Hídricos do Ceará, Francisco Teixeira, disse que o empreendimento vai a leilão no segundo semestre, com previsão de entrar em operação em dois anos. "Vivemos em uma cidade do tamanho de Fortaleza, que tem 9 milhões de habitantes, em um Estado do Semiárido, olhando para o mar.

A alternativa de futuro que temos é complementar o abastecimento humano com a dessalinização da água do mar. Não temos mais dúvidas disso", disse ele, ex-ministro da Integração Nacional. O plano do governo é contratar uma empresa para construir e ficar responsável pela operação. A contrapartida estadual será a de comprar toda água tratada por essa empresa, que se ligará a um ponto de distribuição da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece).

O governo vai estabelecer uma tarifa máxima que pretende pagar para cada litro de água dessalinizada. Vencerá a licitação a companhia que apresentar a menor tarifa, que será paga pelo consumidor final.Experiências internacionais apontam que cada metro cúbico de água dessalinizada teria um custo médio de U$ 1 (cerca de R$ 3,31).

Hoje, o valor médio praticado pela Cagece para tratar cada metro cúbico de água doce é de cerca de R$ 3, segundo Francisco Teixeira. "Veja que, portanto, não devemos ter aumento muito grande nos preços da água", declarou.

"Plantas de dessalinização de maior porte, como as de Israel, por exemplo, conseguem chegar a US$ 0,60 para cada metro cúbico de água tratada", disse.Numa segunda etapa, a ideia é fazer uma segunda unidade de tratamento, dobrando a capacidade de dessalinização.

Escassez

O objetivo é reduzir a dependência de Fortaleza das águas do Açude do Castanhão, que fica a 280 quilômetros da capital. Principal caixa d'água que abastece a cidade, o reservatório vive sua pior situação desde 2002, quando entrou em operação, com apenas 3% do que teria capacidade de armazenar.

Em 2017, o governo do Ceará entrou em conflito com usinas térmicas de energia instaladas no Porto de Pecém, que vinham utilizando muita água do Castanhão para resfriar suas turbinas.

O governo acusou ainda as empresas de terem abandonados planos de dessalinizar a água do mar para usar em suas operações. Hoje, porém, a ideia é que essas termoelétricas passem a utilizar águas de reúso em suas atividades. Para a população, a fonte será o oceano. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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